Mais horas se passaram, minhas malas já estava prontas. Arrumado e pronto para ir, com o cabelo molhado e penteado, um moletom preto para me proteger do clima frio que os ventos que sopravam sobre as cortinas da sala de estar traziam.
Estava sentado de forma comportada quando Joaquim saiu da cozinha, o mesmo olhou para mim e ficou durante alguns instantes imóvel, também o olhava, os dois em silêncio. Antes que meus braços conseguissem se estender, Joaquim virou o rosto para outra direção e subiu as escadas, meus comandos para abortar a missão não chegaram a tempo, o amigo que tanto admirava me ignorou logo quando ia pedir um abraço. Abaixei os braços, nem mesmo seus pais vieram se despedir de mim, Madalena tampouco, Was definitivamente acabou com uma grande parte da minha vida.
Permaneci sentado no sofá esperando meus pais virem me buscar, cada minuto que demorava a passar me torturavam, acreditava que saindo do centro de todo o meu sofrimento, as coisas ficariam mais calmas, almejava a calmaria das ondas bem longe dos meus pés descalços. Enfim o carro havia chegado, pude ouvir a buzina. Suspirei me preparando para não desabar na frente das pessoas que mais amava e caminhei para fora da casa, indo na direção da estrada.
Meu pai me esperava encostado no automóvel, ao vê-lo, corri puxando a mala de forma desastrosa e me enfiei em seu abraço. Era tanta saudade que não cabia no peito, e mesmo que tentasse conter as lágrimas, era inevitável. Após chorar um pouco no aconchegante abraço do senhor Roberto, entrei no carro me deparando com Was sentado ao meu lado, com a vista para a outra janela. O mesmo me olhava como quem esperava uma atitude ou ao menos uma palavra, mas eu simplesmente levantei o capuz do moletom e escondi ali toda a minha cabeça. Meu rosto estava direcionado somente à vista da janela, me encolhi na porta escondendo minhas mãos nos bolsos e assim fiquei durante toda a viagem, dando o total de zero atenção para o homem ao lado. Tive de aguentar a presença incômoda de Was durante demoradas horas até chegar em casa, o rádio do carro ligado em uma estação da qual tocava somente canções lentas, e aquela sensação de ser vigiado, logicamente o outro me encarou até alcançarmos nosso destino.
Em alguns momentos fingi até mesmo estar dormindo para que não fosse incomodado, que situação chata, pensava que seria apenas eu e meu pai, o que ele estava fazendo ali? Não tinha lógica. Assim que o carro estacionou, abri a porta e saí do automóvel ainda com as mãos sobre os bolsos do moletom.- Agno? - ouvi Was chamar por mim quando ia cruzar a porta de entrada, mas parei de caminhar para saber do que se tratava. - Não me ignore, eu só quero que me diga, como está se sentindo? Você está bem? Estou muito preocupado com o seu bem estar.
- Quer mesmo saber?
- Sim, seja sincero comigo.
- Por onde eu começo? - virei-me em sua direção com a feição séria. - Pois bem, recusei a companhia de uma ótima amiga por você, me desloquei da minha casa, do meu conforto para que pudéssemos passar mais tempo juntos, sofri e ainda sofro muito por saber que não irei mais vê-lo. Você não fez questão de mim na primeira vez e nem na segunda, mas eu relevei. Depois me propus a vigiá-lo as escondidas para ao menos me sentir parte de algum momento seu, tentei entrar no seu mundo, mas você simplesmente criou uma parede entre nós dois da qual somente pude ouvir seus gritos selvagens do outro lado, você só soube me mostrar o quão violento e impiedoso consegue ser. E como se não pudesse piorar, se despediu de mim por uma carta miserável ao invés de ir me ver quando eu poderia ter morrido, nem capaz de mostrar que realmente se importava você foi, se afastou de mim como se tivesse algum tipo de doença contagiosa, mas como sou idiota, novamente fui atrás de você. Após termos nos aproximado e ficado juntos, descubro que é casado e tem um filho de quatro anos, não entendo como pôde omitir tantas informações básicas e importantes da sua vida desse modo. Por sua causa, perdi três amigos que amava muito, estive distante dos meus pais por muito tempo e ainda estou a carregar uma insuportável dor no peito que talvez nunca passe, nem o espelho terei coragem de encarar, minha vida está destruída, sou tão novo para passar por coisas horríveis desse jeito... Estou um caos.
- Eu... realmente sinto muito, meu amor... juro que fazê-lo passar por tantas coisas horríveis nunca foi minha intenção, eu te amo demais, acredite em mim. - mordi interiormente meus lábios e levei meu olhar para o canto ao lado. - Também não estou passando por situações boas, me culpo muito por tudo o que está passando e pelo tamanho do seu sofrimento, vê-lo mal dessa forma parte meu coração, estou infinitamente triste. Queria que tivesse algum jeito de conseguir o seu perdão, como já lhe disse, amanhã estarei voltando para a Rússia e não sairei daqui feliz sem saber que me perdoa.
- Por que iria cooperar para a sua felicidade se você destruiu a minha?
- Não foi proposital, sabe que sou louco por você e sou capaz de tudo para fazê-lo feliz, para mim o que importa é ver que está bem, mas sabendo que não está, é muito frustante... você não faz ideia do quanto sofrimento e angústia toda essa história está me causando, a culpa está me consumindo de um jeito que até me falta concentração, estou em pedaços.
- Ah sim.
- Vai ficar tudo bem, ok? Eu amo você.Virei-me na direção contrária assim que Was terminou sua frase e subi as escadas correndo, queria chegar o mais rápido possível no meu quarto e dormir, dormir para nunca mais vê-lo outra vez; porém, sabia que mesmo tentando, não conseguiria apagá-lo da minha vida, estava gravado em mim. Meu dia havia sido tão exaustivo que foi só me deitar na cama para cair em um sono profundo, meus planos para a noite envolvia um banho e a limpeza dos dentes, mas meu corpo queria uma pausa.
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Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
RomantizmAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...