Aquele dia precisava acabar, minha ansiedade sem limites estava me consumindo, aguardar tanto tempo por um assunto tão urgente estava me matando, mas ainda eram uma da tarde. Meus amigos, como sempre ótimos, faziam o possível para me ocupar e não perceber o tempo passar. Fomos andar de bicicleta na trilha que dava aos lugares que visitei juntamente de Was, por mais que a saudade apertasse meu peito, apenas sorria enquanto observava e recordava todos os momentos que vivemos juntos. Carregava a Luna no meu assento trazeiro, leve como uma pena, era um privilégio levar uma morena tão linda junto a mim. Olhava de vez em quando para Laura sentada no assento trazeiro de Lúcio e sorria, se os dois soubessem o quão lindos ficavam juntos, não perderiam mais tempo. Todos apoiávamos, nosso desejo era vê-los juntos como um casal, era mais do que óbvio o sentimento que tinham um pelo outro, mas o orgulho atrapalhava tudo.
Lucas nunca foi capaz de conversar sobre seu gosto em relação a gênero, em um momento nos mostrava uma parte totalmente fissurada e louca por mulheres, em outro, simplesmente era pego com atitudes estranhas envolvendo homens. Eu era um exemplo disso, mesmo que não fosse de forma clara, Lucas sempre tentou algo comigo, e por mais que tivéssemos nos envolvido na época em que eu achava sentir atração por homens, nunca teria chances reais comigo. Meus sentimentos por Was eram tão avassaladores que nem ao menos conseguia entender o que acontecia dentro de mim. Se homens, no meu ver, serviriam apenas para amizade, então por que me apaixonei por um? Essa dúvida martelava a todo momento em minha mente, cheguei até mesmo a testar minhas preferências com meus amigos, o que me fez ter a certeza de que Was era uma rara e única exceção. Richard as vezes também tinha seus deslizes, nunca namorou e nem se envolveu com nenhuma garota, mas comigo mostrou não ser novato na área, será que escondia algum romance dos amigos? Impossível não era. Mas se não tinha certeza dos meninos, o que achava de Luna? Bom, perdi minha virgindade com ela, mas fui o único a perder algo naquela noite, pois a garota já tinha uma certa experiência. Um dia cheguei até mesmo a flagrá-la aos beijos com Laura, foi um momento confuso e bastante bizarro, mas a loira afirmou que estavam excitadas no momento e acabou rolando, porém, foi a primeira e última vez que algo do tipo aconteceu entre elas.
Vivíamos juntos, todos os seis grudados feito goma de mascar e cola de madeira, não seria tão absurdo que algo entre nós acontecesse, como já aconteceu. Estar presente na roda dos amigos era o que me distraía, mas nem sempre me convinha, as vezes não suportava estar cercado de pessoas que ocupavam os espaços ao redor com suas palavras inconsequentes e informais.- Lucas, quando voltar as aulas, continuaremos juntos ou você irá se distanciar de nós como fez no ano passado? - perguntou Lúcio aparentemente na intenção de o provocar.
- Do que está falando? - Lucas o olhou sem entender o propósito do assunto repentino.
- Quero saber se nos deixará novamente para ficar com os populares.
- Ele é um dos populares, o que você esperava? - Richard se intrometeu em defesa dos seu melhor amigo.
- Esperava que ficasse ao lado dos amigos que verdadeiramente se importam com ele.
- Por que isso agora, Lúcio? - perguntou Luna com a voz pouco autoritária.
- Estive pensando sobre o assunto e achei que convinha perguntar quando estivéssemos todos juntos.
- Então achou errado porque esse assunto não convém, estamos aqui para animar e distrair o Agno, não para brigar sobre algo tão fútil como a popularidade do Lucas.
- Mas ele não quer deixar o Agno triste, só aproveitou o momento propício! - Laura se pronunciou para defendê-lo.
- Lúcio não tem moral alguma para falar do Lucas, sempre que tinha oportunidade, corria igual um cachorro sem dono atrás dos outros. Poucas vezes o víamos. - afirmou Luna.
- E acha que ele está alegre ao nos ver discutindo feito crianças imaturas? - Richard cruzou os braços olhando para Laura.
- Você devia ficar do nosso lado, Richard!
- Eu? Por quê?
- Você é diferente e excluído igual ao Lúcio e a Luna, não é certo ficar contra eles para defender um garoto padrãozinho e popular feito o Lucas.
- Excluído e diferente? Por que eles seriam diferentes de nós? Por que ele é ruivo e os outros dois são negros? Se for isso que quis dizer, peça desculpas agora! Nunca excluímos os três de nada! Qual é o seu problema? - a olhei com tamanha indignação.
- O meu problema é ver vocês brancos e riquinhos discriminando o Lúcio e a Luna por serem negros, ainda que ela seja mais clara, e o Richard por ser sardento!
- Mas querida, por que isso te incomoda tanto? - perguntou Luna.
- Quem em sã consciência gostaria de ficar perto de um garoto enferrujado?
- Laura, pare de ser preconceituosa! Como acha que o Richard se sente ouvindo você dizer coisas tão absurdas? E outra, isso que está fazendo com o Lúcio e a Luna é racismo!
- Agno, por que só tem dois negros e um ruivo no nosso grupo de amigos? Têm certeza que a racista sou eu?
- Sim, porque você está sendo a única que parece se importar com a pele deles! Richard, Lúcio e Luna são uns dos meus melhores amigos e não aceito que faça parecer que somos racistas!
- Então por que não expulsa o Lucas do grupo e põe mais um negro? Ele nos abandona para ficar com a Elite, não fará falta alguma.
- Querem saber? Eu estou estupidamente cansado desse preconceito de vocês comigo! Não é porque minha família tem uma condição melhor de vida e faço parte da Elite no colégio que sou diferente ou maior que qualquer outra pessoa!
- Lucas está certo, vocês levam esses detalhes a sério demais. - todos olharam para mim em silêncio assim que terminei de falar.
- Deixe de ser hipócrita, Agno! Você mesmo sempre foi de reclamar quando o Lucas nos abandonava para passar o intervalo com a Elite e até mesmo quando sumia das nossas vistas por semanas!
- Todos nós reclamávamos! Se envolva nisso porque você também não ficava calada! - Richard dessa vez falou em minha defesa.
- Não sou hipócrita, nesse tempo que passei na casa de Joaquim, pude ver que dinheiro, fama e influências sociais não fazem ninguém ser maior e nem menor do que os outros. Somos todos iguais e devemos ter sempre isso em mente.
- O engraçado da história também é que de repente agora só temos amigos gays, quando antes todos eram homens.
Ao ouvir o que Lúcio estava a dizer, Lucas o olhou profundamente dentro dos olhos e o encarou de forma raivosa.
- Desde quando os gays não são homens? Você ficou maluco? Somos seus amigos, porra! Tenha ao menos respeito, não diga e nem seja podre desse jeito!
- São seus amigos "gays" que sempre te ajudaram e estiveram ao seu lado quando mais precisou! Não quero ter que jogar na sua cara os momentos em que fomos bons para você porque não sou esse tipo de garoto, mas se ficar nos tratando dessa maneira, talvez precisaremos esclarecer algumas coisas e lhe mostrar que independentemente da nossa orientação sexual, sempre estivemos aqui para você! - olhei para Richard que também havia se exaltado.
- Para início de conversa, Agno não devia ter nos convidado para ir até a casa de praia daquele milionário sem antes nos avisar que ele era gay! Ficamos cercados por homossexuais, meus pais brigaram comigo quando cheguei em casa. - ressaltou Laura.
- Não fale do Joaquim, ele não está aqui para se defender! Como pode ser tão fria e ingrata? Foi incrivelmente bem recebida e ainda pôde usufruir de coisas que não teria acesso em seu tedioso cotidiano durante boa parte de sua vida e ainda quer vir falar coisas preconceituosas sobre um alguém que foi tão bom para nós?
- Acalme-se, Agno.
- Por que está pedindo para eu me acalmar, Luna? Não vai rolar! Nunca deixaria ninguém falar mal do Joaquim na minha presença, também porque ela está falando coisas horríveis sobre homossexualidade, mas no outro dia estava com a língua dentro da sua boca!
- Agno! - Luna me repreendeu com o olhar.
- Eu estava bêbada, seu idiota! Como ousa citar um momento meu de fragilidade dessa forma? Você é nojento!
- Não o insulte! - ordenou Richard com propriedade.
- E você, Lúcio?! Está aí falando do absurdo que é seus amigos se tornarem gays, mas eu tenho coisas a dizer! Lembra da vez em que estava se declarando para o Richard? - Lúcio me olhou assustado. - Sim... eu vi tudo! Disse que o amava um pouco mais que um amigo, e que se pudesse beijá-lo, ninguém além dos dois saberiam. - Richard abaixou a cabeça.
- Você é tão gay quanto nós, amigo. - ironizou Lucas.
- Não falem mais comigo! Não quero mais saber de vocês!Aproveitei que todos começaram a discutir ainda mais alto e a misturar suas opiniões de forma agressiva para fugir, disfarcei enquanto caminhava para um local especial para mim. Aquela confusão toda só me fez piorar, o que havia acontecido com Lúcio e Laura? Estavam tão receptivos quando souberam do meu amor platônico por Was, além de não terem um histórico perfeito no requisito heterossexualidade. Me entristeci ao cogitar que fizeram aquilo justamente para me verem piorar, mas era difícil acreditar que amigos tão próximos a mim fossem capaz de algo tão baixo e desprezível. Ao chegar no local, vi uma garota dos cabelos negros agachada sobre a margem do lago, olhei para seu rosto após ter me juntado a ela.
- María? O que faz aqui?
- Soube que iriam discutir e vim até aqui para ouvi-los.
- Sério?
- Ah, por favor, Agno! Acha mesmo que perderia o meu tempo com isso? - ri baixo desviando o olhar.
- Achei que fosse verdade porque dá para ouvir os gritos ferozes e selvagens daqui.
- Sim, pude ouvir a sua voz. - ficarmos um tempo em silêncio.
- Como você está? - María suspirou.
- Confusa...
- Por quê?
- Quer mesmo saber?
- Sinta-se à vontade.
- Bom, contei para a Vanessa que estou apaixonada por você e ela fez o favor de espalhar isso para a maioria das pessoas que estudam conosco. Como acabei virando assunto e motivo de chacota por gostar de um garoto "autista", de alguma forma Richard ficou sabendo e veio me visitar.
- Autista?
- Só prestou atenção na parte em que esteve envolvido? Quanta presunção.
- É que eu não sou autista.
- Eu sei disso, mas algumas pessoas te chamam assim porque você só vive dentro de seu próprio mundo.
- Acho super errado usar uma doença trágica como encarnação.
- Sim, eu também acho, mas posso continuar?
- Quando quiser.
- Então, nós conversamos bastante e ele me consolou, estava tocando uma música romântica no rádio e ficamos trocando olhares por um tempo até que aconteceu.
- Aconteceu o quê?
- Nós transamos. - arregalei os olhos. - Sei que não esperava por isso, me desculpe...
- Mas esse é o motivo pelo qual está confusa?
- Não... tem outro pior.
- Fale.
- Poucos dias depois foi a vez do Lucas me visitar, e assim como o Richard, ele me consolou. Estávamos no meu quarto e já era tarde para ele voltar para casa, tivemos que dormir juntos e acabamos por transar também. - a encarava totalmente em choque. - Não me olhe desse jeito, são garotos lindos e de bom coração, aceitei ir para a cama com eles na tentativa de esquecê-lo, mas ainda te amo.
- Espera, foram eles quem quiseram ter relações com você?
- Sim.
- E... eles não são gays?
- Não pareciam ser, tinham muita experiência com o corpo feminino e uma vontade que cheguei a pensar que sempre foram atraídos por mim. Por quê a pergunta?
- Eu nunca soube do que realmente gostavam, e como nos beijamos, achei que... pudessem ter preferência em homens.
- Durante a conversa que tive com os dois, eles disseram que nunca demonstraram a atração que tinham por mulheres com você porque tinham curiosidade no seu beijo, já que antes deles, nunca havia beijado ninguém.
- Eu beijava o Joaquim quando era criança, mesmo não contando, meio que pude aprender algumas coisas sobre como beijar, já que ele também beijava o meio irmão adolescente da prima mais velha.
- O seu beijo é viciante, sinto bastante falta.
- Também sinto falta do seu beijo.
- Fico feliz em saber, mesmo na situação que me encontro.
- Por que me parece tão triste? Você perdeu a virgindade com o Richard que é um garoto incrível e logo depois teve a oportunidade de se deitar com o Lucas, aposto que muitas garotas queriam ser você.
- Agno, eu estou grávida. - meu semblante descaiu.
- O que disse?
- Estou grávida e não faço a menor ideia de qual dos dois é o pai, agora sabe porquê pareço estar tão triste?
- María, primeiro tente manter a calma... Independentemente de quem seja o pai, tenho certeza absoluta que farão questão do bebê, e se caso estiver errado, me avise que eu o registro.
- Como assim?
- Se os meninos não quiserem assumir o seu filho, então assumirei por eles.
- Não, eu nunca jogaria essa responsabilidade nas suas costas.
- María, eu amo você e também amo os supostos pais, não seria sacrifício nenhum registrar o seu filho. Não estou a blefar, se caso não quiserem assumir o bebê, conte comigo.
- Você é um anjo, entendo o motivo de te amar tanto.Ficamos por mais um tempo conversando, contei para a jovem moça que foi naquele lago diante de nós que sem querer derrubei as anotações de Was, tal qual pulou na água para recuperá-lo. A feição de surpresa dela a cada palavra que saía dos meus lábios me animava mais para ir citando momentos marcantes que passamos juntos.
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Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
RomanceAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...