A estranha festa de Lucas Sousa

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Não demorou muito para que se fizesse possível ouvir meus amigos chamarem por mim, um sorriso animado se formou em meus lábios e então já estava descendo as escadas da forma mais veloz que conseguia, enquanto corria, me encontrei com Rosa que me olhou assustada e gritou de volta quando me ouviu a cumprimentar. Meus pais também gritaram, desejando que eu me divertisse bastante, como sempre, compreensivos. Eu amava meus pais mais que tudo em minha vida, eram meu mundo e mesmo que eu pudesse chamar outra pessoa de meu maior tesouro, eles ainda estariam acima.
Encontrei com meus amigos que sorriam animados ao me ver indo em sua direção, Lúcio veio correndo até mim e eu então pulei em seu colo o abraçando apertado, era como matávamos as saudades quando ficávamos muito tempo sem nos ver. Apesar de sério, com meus amigos eu sempre sorria e brincava bastante, liberavam um Agno do qual ninguém mais conhecia, talvez nem mesmo eu.
Desci do colo de Lúcio e abracei o resto das pessoas que esperavam sua vez para me cumprimentar; antes de abraçar Luna, ficamos nos encarando envergonhados. As bochechas alheias estavam vermelhas, como a minha também devia estar, foi somente quando Lucas nos apressou que fomos sorrir pequeno e nos abraçar. Subi nas costas de Lúcio que me segurou e foi caminhando comigo, não se importou, já era costume me ter assim tão próximo e me carregar para os lugares. Apesar de não parecer, Lúcio era um amigo tão importante quanto Lucas e Richard, mas tinha muitos amigos, por isso não eram muitas as vezes em que se envolvia conosco. Abraçava seu pescoço e cruzava minhas pernas em volta de sua cintura, Lúcio as segurava pondo-as por cima de seus braços. Conversávamos bastante sobre diversas coisas, eram tantos assuntos, tantas risadas, tantas lembranças; iria querer repetir esses momentos várias e várias vezes se fosse possível.
Em uma parte do caminho, olhava para Luna que caminhava um pouco à frente; seus longos e brilhosos cachos pretos chamavam ainda mais atenção ao seu bumbum, que eram onde o cabelo se limitava. Já podíamos ver a casa de Lucas quando paramos todos e observamos a festa de longe, tudo tão iluminado e parecia estar tão cheio, já que alguns dos convidados estavam do lado de fora. Desci das costas de Lúcio, e assim que todos voltaram a andar, enrolei minha mão sobre os cachos volumosos de Luna a impedindo de acompanhá-los como com certeza faria. Era fácil saber, seu joelho estava alto. Puxei a garota até mim e vi a mesma me olhar, logo um sorriso ladino surgiu em seus lábios e disse, antes de partir, que eu teria melhores oportunidades para fazê-lo. Ri baixo achando graça em seu comentário enquanto retirava minha mão de seu cabelo, Luna riu junto a mim e pôs-se a caminhar, estava logo atrás. Pus as mãos nos bolsos da calça que vestia e fui entrando na festa junto dos amigos, estava nervoso já que há um tempo não participava de um evento social. Estava calado e tímido, ninguém estranhou, todos pareciam ter se acostumado com meu jeito sério e intolerante. Caminhava no meio das danças, pessoas se movimentavam de lá para cá e também o contrário; fazia o que podia para que não pisasse no pé de alguém, ou acabar com um cotovelo desavisado no nariz. Por vezes tampava os ouvidos, evidentemente com extremo nervoso, o som estava tão alto que nem ao menos tive chance de ouvir o que Lucas alegremente me dizia em uma certa distância. Não suportava mais toda aquela movimentação e barulho que só me ensurdecia, então decidido a não ferrar com minha animação, sugeri com muita dificuldade para irmos até um lugar mais calmo, Lúcio junto dos outros me acompanhou até um grande sofá preto que tampava metade de duas paredes. Sentei-me na parte do sofá que ficava encostado sobre a parede ladina, logo dava-se para ver tudo ao meu redor. Lucas chegou com algumas garrafas de bebidas alcoólicas e Lúcio me ofereceu cigarros, sorri levando um copo preenchido por um líquido transparente até minha boca, logo já estava com uma careta amarga, desceu queimando sobre minha garganta.
Todos pareciam na expectativa, então depois de engolir, comemoraram como se tivéssemos ganho uma competição importantíssima de vôlei. Devia ser pelo tempo que passei sem por nada alcoólico para dentro, mas minha vista embaçou, mesmo que tenha sido por apenas um minuto. Com um cigarro acesso no dedo, olhava surpreso para um casal sentado no outro sofá; um homem forte, loiro e sorridente junto de uma garota dos cabelos curtos e escuros. Não podia ser real, Was e Giúlia me perseguiam até mesmo em um lugar tão improvável quanto aquele? Só pensava no quanto queria explodir, tudo estava tão bem, droga. O estrangeiro ria movimentando sua cabeça para o lado, mas logo estávamos nos olhando da forma mais sem graça e inconveniente possível.
Felizmente ninguém percebeu o clima pesado, estavam ocupados demais bebendo e zoando que não prestaram atenção no olhar triste e desmotivado que lançava ao outro. Giúlia segurou o rosto de Was e virou sua cabeça para si, sorriu com delicadeza e lhe roubou um beijo bastante intenso. Assistia a tudo enquanto fumava, minha pose não era das mais simpáticas, talvez prática.
Após o beijo acabar, Was me olhou e suspirou com a feição raivosa; levantou-se segurando a mão de Giúlia e sumiu no meio da multidão que dançava de maneira livre. Já havia bebido cinco copos daquela bebida forte, Richard então chamou minha atenção e permanecemos brincando entre nós mesmos e rindo. Laura era a mais fraca para bebida, estava embriagada e me assustou quando mostrou seus seios para mim, eram pequenos, mas bonitos. Estava desconfortável, não por estar tendo aquela incrível visão, mas por ela estar alta e com certeza não sabendo o que estava fazendo. Me sentia mal por ela, que pelos conhecimentos que tinha sobre si, se sentiria suja quando soubesse de suas ações, ou não. Durou pouco tempo, pois Richard havia visto e a ajudou, só então depois de acabado que fui rir, estava um pouco alto também, mas não o suficiente para enlouquecer, ou não me recordar de tudo no dia seguinte.
Nenhum de nós tinha maldade com ela, talvez fosse até por isso que ela tomou essa atitude tão ousada conosco em volta, pessoas bêbadas normalmente costumam ser sinceras e firmes, era certo daquilo ser uma demonstração diferenciada de confiança. Lúcio e Richard tiveram a brilhante ideia de irmos para a pista de dança, precisávamos de mais momentos divertidos juntos e aquele seria o momento perfeito. Concordei sorrindo alegre e me levantei, logo indo junto dos outros até o centro da festa; as luzes coloridas estavam sobre nossas cabeças, mas giravam e brilhavam por todo o lugar.
María estava ao meu lado, fui perceber somente quando a mesma me avisou sobre um tal loiro perto do DJ, me assustei por não imaginar que ela estaria ali. Após abraçá-la, olhei para o outro que falava no ouvido do homem atrás da mesa de som, era Was, que logo passou com seu olhar por mim e desceu do palco de forma atlética. Lucas nos informou que daquele jeito era como se pedia por uma música, mas entendi quando começou a tocar uma da qual fez Was sorrir feliz. Era uma música tão dançante e animada que agitou as pessoas no momento em que fora posto para tocar, meus amigos estavam dançando à minha volta, mas eu estava parado encarando o russo que voltava para sua garota que o esperava perto de nós. Quando chegou no refrão pude reconhecer, Take On Me da banda A-ha? Em uma festa de jovens? Ele era realmente louco.
Assim que vi os dois selarem seus lábios, suspirei profundamente e me dispus a dançar junto dos outros; Lucas veio até mim e dançou junto ao meu corpo enquanto ríamos. Estávamos nos divertindo tanto que até mesmo esquecia dos problemas que atormentavam minha mente. A música dizia que alguém viria até mim de qualquer jeito, Was me olhava de maneira esquisita, como se quisesse por nossos olhos para conversar. Ainda dançava com um sorriso alegre nos lábios quando Lucas me roubou um beijo, meus olhos estavam abertos então pude ver a reação de Was, não acreditava no que via e era mais do que merecido passar por aquilo depois de não ter se importado comigo quando retribuiu os beijos de Giúlia.
Abracei a cintura de Lucas e tomei as rédeas do beijo, todos nos olhavam e faziam um som com a boca, como se estivessem gostando do que viam. Estava escuro, mas as luzes coloridas nos entregavam, era difícil ver com clareza, mas também era perceptível que dois garotos se beijavam. Quando nosso beijo chegou ao fim, Luna imediatamente me puxou para outro beijo, e foi somente nesse momento em que fortes faixas de luzes brancas foram posicionadas sobre nós, assim todos puderam nos ver. Meus olhos continuavam fechados até o beijo acabar e Luna me chamar para ir com ela em algum lugar, segurou meu pulso e foi me guiando no meio da multidão curiosa enquanto Was me lançava um olhar chateado. Obviamente não havia gostado do que viu, mas era claro o fato de não dar a mínima para mim e para o que faço. Subimos as escadas de mãos dadas e então fui puxado para entrar em um local do qual não pude avaliar de primeira. Demorou um pouco para sairmos, era o quarto de hóspedes, estava completo. Não era a primeira vez que Luna se deitava com um garoto, mas era a minha primeira vez com uma garota, apesar disso, fomos rápidos e práticos. Descíamos as escadas com terça parte das pessoas nos olhando como se soubessem de tudo que havia rolado minutos atrás, não atrapalharia em nada, nem na nossa amizade, mas talvez nossa reputação mudaria.
Olhei para Luna que segurava minha mão e a abracei fortemente, disse a ela que caso tivesse problemas, para me contar que resolveríamos juntos. A garota sorria feliz com os olhos brilhando, logo María a buscou e fui até os meninos, me zoaram amigavelmente e me deram parabéns, já que tinha ido para a cama com uma das poucas garotas do qual os outros se matariam para tê-la. Era realmente linda, e reparando bem, até mais que Giúlia. Minha cabeça estava explodindo, não queria mais ficar.
Após beber mais um pouco, me despedi dos amigos e gastei um pouco de tempo desenrolando com Richard para irmos embora, pelo o que entendi estava se divertindo muito e achou injusto sermos os primeiros do grupo a ir embora. Lucas beijou gentilmente meu pescoço em nossa despedida, pôs alguns cigarros em meus bolsos e nos acompanhou até a saída. Laura havia passado mal e vomitou em Lúcio que tentava ajudar, desse modo realmente era só eu e Richard indo para casa. Agradecemos tudo o que Lucas fazia por nós e fomos embora. O dono da festa nos observava ir com um sorriso feliz nos lábios enquanto eu tinha de aguentar as reclamações do senhor rabugento.

- Richard, você fala demais! Teria como fazer silêncio um pouco? Minha cabeça dói. - falava baixo, fumando logo após.
- Posso pelo menos mudar o assunto?
- Pode ser. - soltei a fumaça para cima.
- Como foi com a Luna? Fiquei sabendo que os garotos da Elite já tentaram algo com ela, mas não conseguiram mais que um "me poupe!".
- Foi muito bom.
- O quê? - o olhei sem entender. - Só isso?
- Sim, ué.
- Me conte detalhes, Agno! Sou seu melhor amigo, qual foi?!
- Bom, assim que chegamos no quarto, fomos até a cama e nos abraçamos.
- E aí?
- Nos beijamos.
- O que mais?
- Chega.
- Como é? Conte-me mais agora!
- Você poderia, por favor, respeitar a Luna? Não seria certo se eu contasse como ela agiu com alguém, mesmo se esse alguém for uma pessoa em sua vida.
- Não quis desrespeitá-la, apenas fiquei curioso. Todos os garotos contam quando vão para a cama com alguma garota.
- Sei que suas intenções não foram ruins, mas saiba que não sou todos os garotos, tenho diferenças o suficiente que provam este fato! - joguei o que restou do cigarro longe.
- Está bem, não perguntarei novamente, me desculpe.
- Eu te amo, cara.
- Também te amo, irmão.

Abracei o pescoço de Richard e fomos caminhando até minha casa; eu fumando e bebendo gole por gole da bebida na garrafa em minha mão enquanto ele assobiava baixo. Como Richard tinha um irmão pequenino, seria ruim chegar em casa tão tarde. Was não se importaria em dividir o quarto comigo e Richard, até porque não mandava em nada, o quarto era meu.
Assim que chegamos no quintal da casa, lancei a garrafa e o cigarro longe já completamente alterado, olhei rindo de modo adoidado para Richard que também me olhou, seus olhos permaneciam arregalados; talvez estivesse surpreso ao me ver daquela maneira, tão acabado. Ri ainda alto dando um chute na porta, ao vê-la se abrir, entrei de um jeito tão anormal que meu pé direito já se encontrava sobre o primeiro degrau da escada.
Não sabia o que acontecia atrás de mim, mas ouvia o barulho da chave, obviamente Richard trancava a porta. Voltei a rir de modo adoidado enquanto subia as escadas, percebendo e rindo de mim mesmo que quase caía de cinco em cinco segundos. Richard preocupado com as quedas que quase tive, segurava meu corpo na tentativa de evitar qualquer tipo de tombo ou acidente, mas assim que senti suas delicadas mãos sobre minha cintura, dei um tapa forte nelas enfim conseguindo subir, sozinho. Precisaria esperar a noite inteira por Was como da outra vez? Onde poderiam ter ido? Giúlia não tinha esse direito. A perdição do outro foi ter a encontrado, não mais teria paz e nem momentos a sós, era como um grude, não o deixava. Garota estúpida, nem sabia como um dia pude idolatrar alguém que me faria tanta raiva futuramente. Gostaria bastante se fosse lésbica, ao menos deixaria certos homens sem sua companhia desagradável.
Murmurava baixo enquanto meus pensamentos, como de costume, voavam longe, distante de tudo existente ao redor. Me preparava interiormente para depois ter de aguentar o cheiro sufocante de Was em minhas narinas, nossas camas ficavam próximas, era como se dormíssemos juntos, mas também não era assim tão próximo para termos acesso ao corpo um do outro. Cheguei em meu quarto já mudando a feição, a cama de Was havia desaparecido, onde mais procurar? Era grande, impossível que não a visse. Ficava mais próxima da porta do que a minha, visível demais para não a perceber. Entrei no quarto fitando o local onde a cama permanecia, mas sumiu, escafedeu-se diante dos meus olhos. Onde mais estaria, se não aqui? Pensava alto a fim de resolver mentalmente o mistério de seu sumiço.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora