Estava em meu quarto temporário observando o teto já faziam horas, todos os pensamentos do mundo foram gerados por mim, davam voltas e mexiam nos meus arquivos interiores, talvez fosse o momento de parar. Peguei o travesseiro e o afundei no meu rosto, meu peito ardia e queimava, meu amado sofria as dores desses sentimentos que me sufocavam todas as noites, eu queria morrer. Um homem que nunca teria, talvez me importar demais fosse meu erro; me conhecia bem o suficiente para saber que viver sempre carregando uma ferida nas costas me tornaria uma pessoa tão fria a ponto de não mais querer me comunicar nem com minhas outras personalidades. Temia que esse dia chegasse, que tudo o que fiz até hoje fosse em vão, que todas as vezes em que lutei, não passou de uma medíocre forma de perder tempo. Deixaria de ser quem sou, e quanto mais ficasse próximo de quem realmente fosse, aí sim seria como eu, um alguém que me tornei e que conheço como ninguém. Confuso? Talvez, mas era exatamente o que me resumia, confusão. Um garoto irrelevante que não merecia tocar seus lábios nos do outro, tão impiedoso que me fazia implorar por mais a cada vez que despia uma palavra e me consumia de forma grosseira apenas ao sorrir.
Morra, Was, bem lentamente até que não sobre nem ossos a serem destruídos, quero matá-lo e ver seu sangue escorrer entre os meus dedos, assim como o medo de conviver com a sua ausência. Eu o odiava tanto quanto o amava e essa maldição me perseguia por onde quer que fosse, essa miserável busca por sua misericórdia, tão humilhante me jogar aos seus pés para implorar atenção, aceito cair se for por você. Droga, eu preciso dormir! Proclamava a cada lembrança tortuosa que me fazia rolar na cama de ansiedade e pavor, bata na porta e me faça seu, só assim terei paz? Ah, brinque comigo. Mesmo que doa, mesmo que me odeie depois, mesmo que seja um erro, mesmo que eu te bata, seremos sempre nosso, tão um do outro. Diria essas palavras, mas quando? Bom, eu nunca soube.
Tudo o que poderia dizer no momento se resumia apenas em um sofrido e arrastado adeus, com a boca entreaberta e os olhos carregados de lágrimas pesadas, você é tudo o que eu tenho. Como se um dia fosse meu... péssimo, sem escrúpulos. Se o lançasse pela janela seria mais feliz? Eis a questão. Desabava já fazia um tempo, queria me jogar de um penhasco e cair sobre seu colo, uma segunda chance? Sem chance. Droga, eu precisava dormir!- Filho? Você está bem? - ouvi uma voz perguntar algo e uma mão fria tocar meu pescoço, mas nem meus olhos e nem meus lábios se mexiam. - Veja só, está ardendo em febre! Joaquim querido, venha até aqui, por favor!
- Em que posso ser útil, senhor Fabrizzi? - uma voz diferente ecoou em meus ouvidos.
- O Agno está muito quente e suando frio.
- Como?!
- Venha, chegue mais perto e sinta. - outra mão tocou meu pescoço, mas essa era macia e delicada, gostosa de sentir.
- Ora, mas isso é terrível! Devemos chamar ajuda imediatamente!
- Fique aqui com ele, chamarei alguém.
- Certo.Meus fios de cabelo eram acariciados enquanto aos poucos uma discussão sobre o que poderia ter causado algo tão repentino teve início, alguma coisa gelada foi posto sobre minha testa me deixando agoniado, era bom e ao mesmo tempo desesperador, meu corpo parecia estar desligado e não conseguia reagir.
Hora sentia calor, noutra sentia frio e o edredom sobre o meu corpo só me fazia querer vomitar todos os meus órgãos, era tão ruim aquelas misturas de sensações, mas finalmente depois de muito tempo, um homem gritou de forma contida que não se aquece uma pessoa febril. Na hora de agradecê-lo pela ajuda utilizaram o nome Was, o que era estranho, pois o que ele estaria fazendo ali? Ou existia outro Was além dele? E se existisse, seria tão inteligente quanto? Ninguém naquele quarto imaginava que aquele enorme edredom peludo me faria mal mesmo sabendo que meu corpo fervia? Aquele Was soube e parecia preocupado por um momento, de resto não soube mais de sua presença.
Estava chorando alto, as lágrimas rolavam sobre meu rosto como um rio manso, mas apressado. Meus soluços entre o choro chamaram a atenção do meu pai que já estava em outro cômodo, veio correndo até mim e me abraçou.- Agno, o que está acontecendo com você? - perguntou sentado na cama.
- Pai... o que está fazendo aqui? - perguntei em um gaguejo por conta do pranto.
- Was me chamou para avaliar seu livro, está quase terminando de fazê-lo e disse precisar da minha ajuda.
- Isso quer dizer que ele está indo embora?
- É provável faltar apenas dias para ir.
- Ainda não me preparei para vê-lo partir...
- Por que se importa tanto? Vocês nem ao menos são amigos.
- Vocês dois pensam igual então... - me sentei enquanto fungava.
- Filho, me diga, você gosta dele?
- Quê? Lógico que não.
- Não precisa esconder, vejo o quão triste está com a distância de vocês. Converse comigo, hum? Você bem sabe que sempre estarei disponível para lhe ouvir.
- Pai, eu o amo. Simplesmente o amo e não faço a mínima ideia de como tudo começou e em que momento meu coração o escolheu, mas é algo tão forte que não consigo controlar. Estou desolado, ele voltará para sua vida normal enquanto eu estarei aqui, me debulhando em lágrimas, acha isso justo? Eu não acho.
- Ele sabe dos seus sentimentos?
- Não sei, deve me ver como um irmão já que a Camila o considera como um filho. Eu não o vejo dessa forma, sei que está sendo difícil ouvir isso do seu único filho, mas saiba que eu realmente não sou gay.
- Não mesmo?
- Não, papai, não sou. Eu gosto de mulheres e não me imagino ao lado de um homem, porém, com o Was não funciona assim. Se não fosse por ele, eu agora estaria sendo feliz com María que confessou estar apaixonada por mim.
- María gosta de você? - meu pai arregalou os olhos.
- Sim, ontem ela ligou para Giúlia e se confessou. Até gosto dela, mas se não amasse tanto aquele russo imbecil, poderíamos tentar fazer dar certo.
- O que tem lhe afligido além disso?
- Eu sinto que ele não me ama... é como se não importasse nada do que vivemos juntos, nossos passeios, nossos beijos, nossas trocas de olhares, nossos toques no corpo um do outro. Ele só sabe se afastar, entende? Não aguento mais sofrer por isso. As vezes eu consigo finalmente me aproximar, mas aí ele vai embora me deixando sozinho, pareço estar em uma estrada correndo atrás do seu carro em alta velocidade. Eu tento, tento e tento mas nunca consigo alcançá-lo, estou a ponto de desistir.
- Se você desistir, o que mais fará da vida?
- Posso voltar a focar somente em mim.
- Agno, lembra como você estava antes dele vir? Só se encontrava triste pelos cantos da casa e se afastou de todos os amigos, mas ao conhecê-lo, você conseguiu viver novamente. Por mais que não perceba, você está feliz e satisfeito com a vida que está levando. Ele está te dando a esperança de um novo amor e te envolvendo em uma aventura de tirar o fôlego de quem assiste de fora. Amar é arte, chorar faz parte.
- Você está certo, pai... ele mudou minha vida de um jeito tão extraordinário... acabei não percebendo o tanto bem que ele tem me feito mesmo sem ter intenção.
- Então por que desistir de algo que lhe faz bem? Vocês são jovens, tudo depende da forma como vivemos, se é sofrendo e não tentando que quer lembrar dessa fase linda da vida, então que seja, mas lembre-se que só se vive uma vez.
- Você tem razão, não irei desistir dele... Obrigado, pai... eu te amo muito! - fiquei de joelhos na cama e o abracei.
- Eu também te amo, meu filho. - retribuiu o meu abraço me devolvendo uma paz que a um tempo não sentia.
- Agno! Agno! - Luna, Laura e Joaquim entraram no quarto gritando o meu nome.
- O que houve? - perguntei assustado com todo o desespero alheio.
- Estávamos conversando com Giúlia que nos deu uma ótima notícia! - disse Luna um pouco ofegante.
- Was passará o resto das noites que tiver aqui malhando na praia. - completou Joaquim.
- Você pode o observar, pelo menos para ter o que lembrar quando ele for embora. - finalizou Laura.
- Não acredito! É sério? - perguntei animado.
- Sim, sério! Começará amanhã! - respondeu Laura.
- Então parece que vou estar um pouco ocupado nas noites seguintes.Por mais que meu pai fosse um homem muito compreensivo, nunca imaginei que me apoiaria ao saber que me apaixonei por alguém do mesmo sexo, não existem muitos pais assim no mundo.
Após nossa conversa, me enchi de esperança novamente, foi algo realmente de grande importância para mim. Estávamos todos sorrindo, mas ao olhar para Joaquim, meu sorriso foi desaparecendo aos poucos; mesmo me amando ficou feliz por eu ter uma oportunidade de estar perto de outro, demonstrando o tanto de bondade que existia em seu coração, já que se importava mais com minha felicidade do que com o egoísmo que o amor nos obriga a sentir. Dava-se para saber de sua tristeza por mais que tentasse esconder, minha febre havia passado um pouco, então assim que estavam indo embora, pedi para ele que ficasse.
Joaquim não parecia entender o que estava acontecendo e me olhava confuso, fiquei em pé sobre a cama e o abracei pelo pescoço, não daria para estar com os pés sobre o chão, pois Joaquim era bem mais alto. Beijei sua testa enquanto o mesmo abraçava minha cintura, afundei seu rosto em meu peito e por um bom tempo ficamos abraçados em silêncio. Eu o entendia e o abraço foi como um consolo, Joaquim parecia ter entendido e recebido bem, respirava quente em minha pele e seus olhos se mantinham fechados.
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Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
RomanceAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...