2.

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Even the bravest men are frightened by sudden terrors. Tacitus.

2.

Depois de muita conversa jogada fora com as meninas e mais uma garrafa de vinho tinto, estávamos todas bem cansadas. Foi ideia da Carla ir embora. Todas concordaram imediatamente, inclusive Rebeca, que a essa altura já tinha desistido do cara que a encarava.

Beca foi no carro da Van, mas eu, Carla e Ritinha fomos de táxi. No caminho de volta, elas ainda conversavam animadas. Eu nem prestava atenção. Não conseguia parar de pensar na beleza daquele enviado do diabo. Queria parar de sonhar acordada para refletir sobre o assunto e, principalmente, para pensar com cautela e prudência na decisão que teria que tomar, mas era inútil, eu só pensava nele.

Eu lembrava de seu corpo precisamente esculpido, dos seus olhos castanho-escuros tão penetrantes, suas mãos quentes, protetoras, seu perfume e, finalmente, seus lindos lábios vermelhos carnudos que um dia eu iria beijar. Ah, se vou! Ele era uma visão. Parecia um anjo. Sexy demais para ter vindo do céu, só podia ter sido mesmo enviado diretamente pelo diabo para me enlouquecer.

— Tina, chegamos — Carla disse notando que estava desligada e eu não tinha percebido. — Você tá mesmo sonhando acordada com seu gatinho, hein? Dá para ver que ele te conquistou!

— Só um pouco — disse sorrindo. — Carla, obrigada pela força e por ter insistido tanto para eu sair com vocês hoje. Valeu a pena.

Carla sorriu. Dei um beijo nela e outro na Rita. Os seguranças saíram rapidamente do carro e escoltaram minha entrada. Cruzei o jardim da frente, já livre deles, e abri a enorme porta da frente de casa. Entrei no hall. Silêncio. Caminhei até o salão, que era o nome que dávamos à sala imensa que dava para o jardim em estilo inglês, e o admirei sob a luz da lua. Sorri olhando a imagem linda do jardim por alguns instantes. Subi devagar pela escadaria, mas minha mãe, que havia dormido assistindo a um filme, acordou.

— Tina, que horas são?

— Umas três horas, eu acho.

— E como foi?

— Interessante — disse pensando ainda no enviado do diabo. — Que filme é esse? — perguntei olhando para a televisão.

— Que bom, fazia tempo que não saía à noite — minha mãe disse ignorando minha pergunta e me encorajando a sair mais vezes, pois ela sabia da culpa que me corroía por tudo que tinha acontecido. Ela suspirou fundo, sabendo que o encorajamento podia não surtir o efeito que ela esperava.

— Boa noite, mãe, tô cansada.

Olhei para ela e parecia disposta a conversar sobre minha saída. Sem querer esticar a conversa e ouvir pela milésima vez que era muito bom eu tocar minha vida, que eu não tinha culpa alguma, que era uma fatalidade, que não podíamos fazer nada, a não ser aceitar a vontade de Deus, eu saí rapidamente da sala e entrei no hall dos quartos, fazendo um pouco de barulho.

Minha mãe me olhou, séria.

— Não se esqueça que sua irmã está dormindo — ela disse com a voz baixa.

Queria dizer que nunca me esqueci da minha irmã, que há três anos eu me sentia responsável pela vida dela, mas resolvi ficar quieta.

Minha mãe foi atrás de mim. Eu entrei no meu quarto, fechei a porta e me joguei no sofá. Minha mãe entrou no meu quarto e se sentou na poltrona em frente ao sofá.

— Quem saiu com você? — perguntou puxando conversa.

— As meninas — disse sem dar trégua.

Pacto SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora