Ignorance, the root and stem of all evil. Plato.
1.
Aquela era minha primeira saída à noite desde que tudo tinha acontecido, e eu já tinha cansado de ouvir a conversa das minhas amigas. Abri a torneira, senti a água fria escorrendo pelas minhas mãos e encarei o reflexo no espelho. Por fugidios instantes, não vi o reflexo da minha irmã gêmea. Sorri.
Tudo o que eu queria era esquecer de tudo e ser livre, mas eu não tinha como. Eu era a culpada e merecia sofrer. Instantaneamente Sara voltou a aparecer no espelho para me assombrar. Respirei fundo e saí do banheiro. A culpa que eu carregava era meu maior tormento e me perseguia, mas nessa noite tinha prometido a mim mesma que daria um jeito de fugir dela.
Assim que a porta do banheiro se fechou, me deparei com ele. Seus olhos se encontraram com os meus e senti o mundo parar. Ele, lindo no balcão do bar, entre todas as garrafas brilhantes e coloridas era tudo o que eu via, com seus olhos escuros fixados em mim, descarados e corajosos.
Achei estranho que ele me olhasse daquele jeito. Ele parecia interessado em mim. Eu não sabia se era por aquela beleza descomunal ou por aquele olhar magnetizante, mas alguma coisa me puxava ao seu encontro. Eu que não era de tomar qualquer iniciativa, percebi que estava decidida a falar com ele.
Cheguei perto dele. E ele me olhou de baixo para cima, devorando com os olhos cada detalhe do meu corpo.
— Quer sentar um pouco aqui comigo? — ele perguntou com um sorriso de lado irresistível.
— Por que não? — respondi de forma sincera, sem me preocupar em parecer difícil.
Ele, de perto, era ainda mais perfeito do que eu poderia supor. Tinha os cabelos lisos e castanhos, cuidadosamente desalinhados para trás, os olhos de um castanho-escuro profundo e penetrante e um corpo esculpido na medida certa pelos deuses. Eu não conseguia acreditar em mim, notando cada detalhe daquele cara e realmente querendo uma aproximação. O que havia comigo? Será que finalmente eu conseguiria deixar minha culpa para trás e simplesmente seguir em frente? Não deixei que esses pensamentos ocupassem minha mente e os afastei imediatamente. Minha promessa era somente nessa noite viver como antes e deixar minha culpa de lado. Ponto final. Então, sentei ao lado daquele cara divinamente escultural e sorri para ele.
— Posso te chamar pelo nome, Valentina?
— Como sabe meu nome? — Fiquei assustada, pensando que poderia ser algum trote das minhas amigas.
Olhei para mesa em que elas estavam no canto do bar, porém notei que nem me olhavam e continuavam conversando. Aquilo não devia ser obra delas.
— Não tem nada a ver com elas — ele disse pegando minhas mãos entre as suas.
Gostei de ele ter pego em minhas mãos, ainda assim as tirei na hora.
— Então, quem é você? — perguntei.
— Quem você pediu — ele disse me encarando com aqueles olhos penetrantes como se quisesse adivinhar meus pensamentos.
— Eu não pedi por você — respondi sem muita convicção, já que um cara assim era tudo com que eu sonhava desde a infância.
— Pediu. — Ele me encarou.
— Como pode ter tanta certeza? — perguntei.
— Ah, Valentina, eu tenho... — E ele esboçou um sorriso que o deixava ainda mais irresistível.
Ele pegou novamente minhas mãos, apertando entre as suas. Confesso que sentir suas mãos fortes e quentes me fizeram amolecer, senti até que suspirei. Ótimo, pensei, agora ele vai ficar ainda mais metido.

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Pacto Secreto
Paranormal*** VENCEDOR DO WATTYS 2020*** CATEGORIA PARANORMAL Algo terrível aconteceu que mudou completamente a vida de Valentina e de sua família. Em uma noite, surge um homem misterioso e sedutor e faz uma oferta tentadora à Valentina: tudo o que ela...