Pacto Secreto

22.

Love is the name of pursuit of wholeness for your desire to be complete. Plato.

22.

Entrei no banho. A água fria escorria pelo meu corpo. Tinha me acostumado a tomar banho frio depois da Amazônia. Passava o sabonete pelo meu corpo. Eu estava bem diferente do que eu era. Já tinha passado um mês desde a minha volta da Amazônia, mas os resultados ainda estavam bem aparentes no meu corpo, todos os exercícios que fiz por lá diariamente e a alimentação natural tornaram meu corpo magro e musculoso. Eu sentia que não era só o corpo que eu tinha mudado. Eu tinha mesmo sido transformada. Eu me sentia acima de tudo que acontecia, se não fosse isso não sei como estaria suportando conviver comigo mesma. Eu carreguei culpa demais pelo acidente de Sara, mas tinha apunhalado Lilith e não tinha sentido culpa alguma por isso.

Eu tive que fazer o que fiz. Lilith poderia revelar a toda Ordem meu segredo. Se fizesse, hoje eu poderia não estar aqui, Sara poderia não estar aqui. Ela jogou pesado, correu um risco grande demais e perdeu sua vida por isso. Eu a destruí. Ainda assim eu me preocupava... Alguém poderia ligar os pontos como eu liguei. Entender o que tinha feito Lilith levar Sara ao casarão, sem em momento algum se preocupar em romper a confidencialidade do pacto. Mantus a conhecia muito bem para entender que tinha alguma coisa errada. Não demoraria muito para eu ser desmascarada. Eu poderia morrer e minha irmã voltar à tetraplegia, mas eu tinha Caim do meu lado. Eu ainda não sabia qual seria sua reação, depois que descobrisse o que fiz, mas eu gostava de imaginar que ele, pelo menos, pudesse me entender, ainda que toda Ordem viesse atrás de mim, eu iria querer seu perdão.

Eu não podia ter assinado o pacto àquela época, afinal eu achava que era minha alma que estava em jogo. Se eles tivessem me explicado, o que me explicaram depois, se eu soubesse que, na verdade, era um pacto comigo mesma, se eu tivesse percebido antes que eu estava acima de qualquer redenção, que a transformação só abriria meus olhos para saber melhor quem eu era, o que eu queria, eu teria aceitado entrar na Ordem, como aceitei, no final das contas. Eu agora pertencia à Ordem por livre e espontânea vontade. Se eles tivessem sido sinceros desde o início, meu ingresso na Ordem não teria tido maiores consequências. Lilith talvez ainda estivesse viva.

Pensei em meu pai. Eu sentia saudades. Queria tanto falar com ele, pensei bastante nele, quem sabe ele aparecesse para mim mais uma vez. Continuei pensando com força e vontade, mas nada aconteceu. Talvez ele não quisesse conversar comigo, precisasse de um tempo para entender o caminho que eu tinha escolhido para minha vida.

Procurei minha mãe pela casa. Ela não estava. Dona Carmen contou que ela estava preparando uma recepção em uma mansão no Morumbi. Fiquei feliz que mamãe já não estava tão à minha disposição como antes, significava que seu novo negócio estava indo bem.

Coloquei um vestido curto verde que combinava com meus olhos. Quis ficar bonita para Caim. Meu cabelo curto tinha combinado com meu novo jeito de sentir. Acelerei bastante no caminho, por isso não demorou muito para chegar no prédio de Caim. Eu estava feliz que passaria mais uma noite ao seu lado. Caim abriu a porta antes mesmo de eu tocar a campainha. Assim que ele me viu, me abraçou daquele jeito impetuoso que ele tinha e, mais uma vez, amoleci em seus braços. Era delicioso sentir suas mãos fortes por todo meu corpo. Ele era forte, intenso e maravilhoso.

Estava deitada ao lado de Caim, pensando como a vida podia ser doce com ele ao meu lado. Ele sorria de lado e percebi que também estava feliz. Ficamos ali por algum tempo nos olhando em silêncio.

— Vou abrir um vinho — ele disse vestindo uma bermuda.

— Você não vai à recepção mesmo, Caim? — perguntei enquanto vestia uma camiseta grande de Caim.