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The mind is its own place, and in itself can make a heaven of hell, a hell of heaven. John Milton.

17.

Eu tinha dormido preocupada com Sara, mas agora não era como antes, a preocupação que eu sentia já não era sufocante. Eu dormi feliz, muito feliz. A noite com Caim tinha sido de longe a melhor noite de toda minha vida. Eu me permiti curtir aquela alegria há tanto tempo esquecida. Ainda assim passei pelo quarto de Sara, eu queria conversar com ela, fazê-la entender de algum jeito que Lux não era para ela, eu queria seu bem, isso ela tinha que saber. Não a encontrei. Era estranho. De alguma forma, eu tinha me acostumado com sua antiga imobilidade.

Encontrei minha mãe e a Dona Carmen tomando café da manhã na mesa de fora com vista para o jardim. Mal falei bom dia e já perguntei da Sara.

— Ela saiu bem cedo — minha mãe respondeu.

— Onde ela foi?

— Ela só disse que não queria mais ficar trancada em casa — Dona Carmen comentou.

— Mãe, ela não te falou mais nada?

— Não... — Minha mãe tirou os olhos do jornal e olhou nos meus olhos. — Dê um tempo para a sua irmã. Ela está aproveitando a liberdade. Fará bem a ela.

Quis dizer para minha mãe que agora mais do que nunca tínhamos que ficar atentas, que ela tinha se apaixonado pelo próprio Lúcifer, que ela nunca podia entrar no casarão, pois ela poderia morrer, mas ao invés disso fiquei quieta e me servi de mais café preto. Era bom ver minha mãe tranquila e feliz depois de tanto tempo.

Enquanto lia o caderno de economia, escutava minha mãe e a Dona Carmen conversando sobre a missa de Ação de Graças que realizariam na Nossa Senhora do Brasil em agradecimento à saúde de Sara. Eu iria dizer que fazer uma missa não era de bom tom, porém mais uma vez permaneci quieta.

— Sabe, mãe, eu tenho pensado em voltar a estudar — interrompi a conversa das duas, depois que lembrei que precisava justificar minha ausência de alguma forma — Você sabe a Sara está ótima e eu sempre gostei de estudar... Pensei em fazer alguns cursos na Harvard, talvez uma pós, ainda não sei.

— Ótima ideia, Tina! Eu te dou o maior apoio! Temos que seguir em frente com nossas vidas mesmo. Carminha e Tina, eu preciso dividir com vocês uma ideia minha bem antiga que agora também estou pensando em colocar em prática — minha mãe falou empolgada como há tempos não a via. Seus olhos tinham um verde brilhante, não se via mais qualquer traço de tristeza. — Eu sempre gostei de organizar eventos, jantares, recepções, ah, você sabe — Ela riu. — Bom, seu pai me demandava bastante, se lembra, Tina? E acho que existe mesmo uma carência de bons profissionais nessa área.

— Você quer abrir uma empresa de eventos? — perguntei curiosa.

— É, eu estive pensando nisso... Não são todos que têm bom gosto, conhecimento e uma boa bagagem cultural. Vejo isso muito por nossos amigos que sempre reclamam que, no final das contas, são sempre eles que precisam dar todas as dicas aos organizadores. Eles não conseguem realmente terceirizar o serviço, tem que ficar em cima, sabe? E, além do mais, eu adoro organizar jantares, almoços, festas e todo e qualquer tipo de recepção. Eu acho que vai dar certo! Seu pai, Tina, adorava minhas recepções!

— Eu me lembro, mãe, e adorei sua ideia. Eu te contrataria sem pensar duas vezes, mesmo que custasse o dobro. — Levantei e a abracei. — Mãe, você será um sucesso aqui em São Paulo! Eu já consigo até imaginar!

— Suzi, adorei sua ideia! Quero ajudar!

— Eu contava mesmo com sua ajuda, Carminha. — Minha mãe sorria.

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