4.

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Men acquire a particular quality by constantly acting in a particular way. Aristotle.

4.

Abri as cortinas do meu quarto e deixei os raios de sol entrarem pelas janelas de vidro. Acordei animada. Eu tinha que partir para a ação. Lembrei do acidente da Enfeitiçada, da minha mãe resoluta ao determinar que fosse dado um destino àquela égua, do seu comprador. Senti uma vontade estranha de fazer uma visita a ele. Fui para o escritório e avancei no caderno de contatos do meu pai e achei o nome do comprador: Francisco Araújo.

O haras do Francisco Araújo ficava perto da nossa fazenda em Sorocaba. Fechei o caderno de contatos e avisei a minha mãe que iria passar o dia na fazenda. Minha mãe sorriu quando eu contei. Soube que ela tinha gostado da ideia de eu querer sair de casa para aproveitar o dia ensolarado. Qualquer manifestação minha de alegria em viver era aplaudida de pé por minha mãe.

Peguei o Cayenne na garagem e fui em direção ao portão. Olhei para os seguranças e dei a ordem para que abrissem o portão e acompanhassem minha saída. Walter, o segurança-chefe, aproximou-se da minha janela.

— Vai fazer um passeio até a fazenda, Senhorita Valentina? — ele perguntou.

— Vou.

— Deduzi pelo carro. Quer companhia?

— Acho que não é necessário.

— Aproveite o passeio.

— Obrigada, Walter.

Em alguns instantes já estava na estrada atingindo alguma velocidade. Liguei o som bem alto e me diverti pelo caminho, olhando a paisagem, o sol, ouvindo música e sentindo o prazer da velocidade. Dirigir rápido era um desses momentos em que eu conseguia esquecer tudo e voltar a ser como antes.

Em vez de ir para a fazenda, fui direto para o haras do Francisco Araújo. Assim que cheguei ao haras e vi a entrada formada por dois pilares sinistros com faces de monstruosas criaturas, um arrepio eletrizou meu corpo. Era bem estranho, pois haras sempre tinham na entrada o nome do haras, ferraduras, cavalos esculpidos ou algo do gênero, jamais tinha visto um haras com uma entrada tão sinistra. Não era à toa que ele gostava de animais ferozes, pensei.

Passei pelos dois pilares e percorri uma longa estrada de terra até chegar à sede do haras. A sede do haras, novamente, em vez de ser rústica, no estilo campestre, parecia um castelo gótico. Só havia imagens de monstros, caveiras, armas, ossos, rostos de dor, desespero e agonia, enfim nada que amenizasse a visão, nenhum anjinho perdido entre as esculturas horrendas. Achei bem estranho. As pessoas podem ser muito excêntricas. Por que um tipo desse criaria cavalos?

Fiquei divagando alguns instantes dentro do carro sobre a peculiar arquitetura daquele haras e o que ela me dizia sobre seu proprietário, cheguei à conclusão de que o Francisco Araújo deveria ser um sujeito quieto, sem muitos amigos, sombrio, autêntico e que, sem dúvida, valorizava a arte sinistra. Na minha cabeça veio a ideia de um velho sisudo e metido à besta. Meu pai tinha me ensinado esse exercício para conhecer mais as pessoas com quem travávamos negócios e eu gostava da brincadeira.

Depois de alguns instantes me obriguei a sair do carro. Percorri lentamente o caminho até a sede do haras para ensaiar alguma abordagem em minha cabeça. Procurei alguma campainha, mas tudo que encontrei foi um ferro pendurado na imponente porta de madeira. Não me intimidei e bati com força.

Em instantes uma senhora muito velha, que parecia ser cega, abriu a porta. Eu sorri, me identifiquei e pedi pelo Senhor Francisco Araújo. Ela abriu caminho para que eu entrasse.

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