8.

462 55 26
                                    

Learning is not child's play, we cannot learn without pain. Aristotle.

8.

Após umas duas horas depois da sobremesa, estávamos todas dispostas a passear a cavalo. Sara foi até seu quarto para descansar um pouco mais, afinal o dia havia sido bem exaustivo para ela, que estava acostumada a ficar em casa, sem grandes agitos.

Carla veio entusiasmada em minha direção me convidar para um passeio de cavalo com as meninas. Interessante, pensei, tinha parado de me evitar. Por quê?

Chegamos à cocheira e meu tio Miguel estava olhando os cavalos. Não estranhei, pois o tio Miguel sempre foi figurinha carimbada na nossa fazenda. Ele nos viu chegando e me abraçou.

— E aí, Tina? Está aproveitando? Fiquei feliz que trouxe sua irmã para cá.

— Oi, tio. Tudo bem. Estamos aproveitando muito.

— Animada para montar?

— Muito — respondi rindo.

— Que ótimo, pois eu trouxe um cavalo rebelde para você estrear a montaria, se chama Netuno. Vai encarar? — perguntou me olhando daquele jeito desafiante que sempre me olhava quando me desafiava à montaria.

— Claro que vou — respondi como se estivesse segura, mas aquele cavalo negro imponente fez um frio percorrer minha espinha. Eu tinha me lembrado do último animal que meu tio havia trazido, tinha sido a Enfeitiçada. Eu já havia montado várias vezes após o acidente da Sara e nunca tinha deixado o medo me contagiar. Não seria agora que deixaria. — Sabe, tio, meu pai sempre trazia um cavalo para mim. Você se lembra, tio? — E lhe dei um sorriso.

— Lembro — ele respondeu, e eu achei seu tom meio seco.

As meninas estavam escolhendo os cavalos que montariam e os rapazes da fazenda estavam preparando os cavalos para o passeio, inclusive o Netuno.

Os cavalos foram levados para fora da cocheira para que pudéssemos montar. Percebi, quando estava me preparando para montar no Netuno, que a Carla e meu tio Miguel se entreolharam. Carla conhecia meu tio, porém aquela troca de olhares era totalmente esquisita, era como se partilhassem um segredo, algum segredo meu, pois olharam para mim antes de se entreolharem. Fiquei tão surpresa que voltei atrás no impulso que dei para montar o Netuno, e pisei no chão.

— Vamos logo, Tina! Estamos prontas — Carla falou parecendo impaciente.

— Vamos, Tina, monte. Depressa, pois o Netuno não gosta de ficar parado e está difícil segurá-lo — reforçou meu tio segurando forte o cavalo.

Tudo começou a fazer sentido. A Carla, que me ignorava, resolveu voltar a falar comigo para um passeio de cavalo. Meu tio apareceu no haras. Meu tio que tinha trazido a Enfeitiçada. Meu tio trocando olhares com a Carla. Claro! Os dois estavam juntos nesse novo golpe, provavelmente queriam me ver estirada no chão feito a Sara.

—Vai logo, Tina!

O grito do meu tio me despertou de meus pensamentos.

— O cavalo é arredio. Não vou conseguir segurá-lo por muito mais.

Olhei para a rédea do Netuno, para as mãos do meu tio fazendo força para segurá-lo. O cavalo estava impaciente, empinava, mostrando a todos sua rebeldia. O cavalo deu um golpe forte com o pescoço e meu tio teve que afrouxar um pouco a rédea, abrindo suas mãos. Foi, então que pude ver na palma da mão direita do meu tio, próximo ao dedão, o símbolo do diabo em um tamanho bem pequeno, quase imperceptível, chegava a parecer uma pinta. Era a confirmação que faltava. Meu tio também tinha a marca do diabo. Era bem menor que a do Mister Sinistro e tinha a circunferência ao meio pintada em preto, por isso realmente parecia uma pinta. Fiquei sem reação. Estava paralisada, olhando meu tio segurar o animal, e as meninas, principalmente a Carla, impacientes para partir.

Pacto SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora