10.

463 58 19
                                    

Let my servants be few and secret: they shall rule the many and the known. Aleister Crowley.

10.

O final de semana dos sonhos tinha virado pesadelo, mas foi bom o que eles fizeram, pois me trouxe de volta à realidade e me deixou novamente alerta. Eu tinha que continuar buscando a resposta. Aquele símbolo que eles carregavam na mão me intrigava. Podia ser que aquilo fosse a resposta que eu estava procurando ou ao menos parte da resposta.

Sentei em frente ao computador, determinada. Comecei a procurar por símbolos demoníacos. Vi vários símbolos dos inúmeros demônios, como Belial, Lilith, Amon, Andras, Barbas, Berith, Caim, Leviathan, Lúcifer, Satan e tantos outros. Nenhum era sequer semelhante ao círculo e seus três traços.

Saí da frente do computador e fui ler a Bíblia para ver se havia alguma passagem que pudesse me ajudar. De tudo o que li o número da besta, 666, foi o que mais me intrigou, pois em Apocalipse 13:11-18 fica claro que viria para Terra novamente o anticristo e que ele enganaria os homens e faria com que os homens utilizassem um símbolo na mão direita ou na testa para que ninguém pudesse comprar nem vender sem ter aquela marca. A marca da besta é o número 666.

Imaginei em minha mente o símbolo que vira na mão direita dos adeptos do diabo e nenhum tinha o 666. Foi, então, que finalmente consegui ver claramente, puxei o ar com força, gritando espantada com minha descoberta. Estava na minha cara todo esse tempo! Os adeptos do diabo usavam o 666 de forma unida, de forma que os três seis partilhassem o mesmo círculo, porém os três traços curvos indicavam os três seis unidos. Meu Deus, como eu não tinha percebido isso antes? Foi por isso que o Mister Sinistro ficou surpreso com minha descoberta. Tudo fazia sentido. Seria fácil agora identificar quem era e quem não era adepto do diabo. Bastava eu verificar a testa ou a mão direita, tal como estava escrito na Bíblia. Até agora todos tinham o símbolo na mão direita. O símbolo do Enviado eu não sabia onde estava, provavelmente porque eu perdia o controle toda vez que falava com ele e não conseguia examiná-lo friamente.

Fechei a Bíblia. Peguei a chave do Gol blindado que me garantia liberdade dos seguranças e fui para a garagem.

Alguns minutos depois, eu já estava na Avenida Cidade Jardim, peguei o celular da bolsa e liguei para Carla e combinei com ela de almoçar, assim ela poderia dar notícia do meu paradeiro para algum adepto do diabo e eu seria encontrada. Meu pai havia pedido distância dos adeptos do diabo e me doía saber que eu havia prometido isso a ele. Porém, acho que até meu pai entenderia, depois de tudo que Sara sofreu na fazenda, que eu precisava me arriscar para ver se descobria mais sobre a rede demoníaca.

Marquei de encontrá-la embaixo do prédio que ela trabalhava. Meio-dia em ponto e ela apareceu. Chegou, como de costume, linda em um vestido vermelho. Eu não acredito! É idêntico ao que eu comprei no shopping.

Ao vê-la eu senti um sabor amargo apertando minha garganta. Era ódio. Tinha raiva de saber que ela não era minha amiga, raiva por ela ter caído de propósito em cima da Sara na piscina, raiva de mim por não ter impedido e raiva por eu ter finalmente percebido que, além de ser adepta do diabo, que ela tinha um caso com o Enviado, entendi naquele exato instante que ele tinha feito algum truque macabro para eu ter comprado aquele madilto vestido vermelho. Eu poderia trucidá-la ali mesmo, mas ao invés disso abri um sorriso, falso e ácido. No almoço tive que fazer um esforço monstruoso para parecer a amiga de sempre. Todas minhas tentativas para arrancar alguma coisa dela foram frustradas. Tudo bem, o importante era ela dar meu paradeiro para o Enviado me fisgar e eu poder segui-lo. Esse era o meu plano.

Terminado o almoço, eu acompanhei Carla até seu prédio e assim que atravessei a rua para entrar no meu carro, percebi que lá estava, conforme previsto, o Enviado apoiado na sua Ferrari vermelha.

Pacto SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora