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It is during our darkest moments that we must focus to see the light. Aristotle.

23.

A van da Ordem me deixou no centro do Rio de Janeiro. Eu e mais quatro iniciados. Nós tínhamos que nos separar. Seria cada um por si. Todos nós, só com nossos punhais, mas sem dinheiro nem documento.

Encontrei um banco na praça e era a melhor alternativa que tinha para minha primeira noite, sem poder pedir ajuda, não restava muita alternativa. Não comi nada, ainda não tinha fome suficiente para revirar o lixo.

Desde que Caim tinha conversado comigo sobre a prova, eu já vinha pensando em como eu poderia sobreviver e aquela noite difícil e incômoda no banco da cidade me fazia refletir ainda mais a respeito. Estava olhando as estrelas no céu quando o rosto de um homem apareceu sobre a minha face. Gelei. Ele cheirava mal, tinha um sorriso amarelo e um olhar cruel e faminto.

Antes que pudesse fugir, ele colocou sua mão em cima da minha boca. Tentei chutá-lo, tirar suas mãos de cima de mim, mas vieram mais dois homens que ajudaram a me imobilizar. Eles me levaram para um beco ermo e sujo. Eles não falaram nada. Eles me colocaram no chão e o cara horrível de sorriso amarelo partiu para cima e me deu um forte soco no estômago. Como reflexo meu tronco caiu para frente e enquanto eu me recuperava do golpe, aproveitei para sacar meu punhal, que eles não tinham visto, e em um golpe rápido apunhalei meu agressor que ficou no chão sangrando.

Partiram os outros dois para a minha direção, eles estavam lado a lado, eu consegui dar um salto em direção ao da direita, chutando-o no estômago, enquanto meu cotovelo ia com tudo na nuca do segundo agressor que caiu no chão. E antes que eu partisse com tudo para cima do primeiro que me agrediu e para aquele que sobrevivera ao meu chute, escutei uma voz vindo do fundo do canto escuro. Quem era?

Senti alguém caminhando atrás de mim, aproximando-se. Imediatamente olho em direção aos passos e vejo o dono da voz rouca, que era um homem baixo, forte, moreno e de brilhantes olhos verdes. Nas mãos ele tinha uma faca afiada apontada em minha direção.

— Minha princesa, perdoe meus companheiros. Eles não sabem como tratar uma dama como você — disse pegando minha mão direita e levando-a até seus lábios.

Eu não disse nada, temia a lâmina daquela faca.

— Eu gostei de você. E como gostei! — disse enquanto passava a ponta da faca afiada pelos meus seios, observando-me por todos os ângulos como um animal prestes a montar na fêmea escolhida. — Como você se chama, princesa?

— Cobra. — Meu olhar tinha uma força que eu percebia que ele não conseguia avaliar, eu tinha forças para enfrentar qualquer obstáculo.

— Cobra? — perguntou o chefe da gangue com sarcasmo apalpando meus seios com vontade. — E desde quando cobra tem seios macios como esses? — ele disse sorrindo feito um psicopata.

— Sim, Cobra, é como sou conhecida nas ruas por onde já andei — menti.

— Pois não, Cobra. Eu sou o chefe dessa espelunca. Sou eu que mando por aqui. Portanto, você não ficar vagando por aqui, sem a minha benção. Você errou.

Suspirei fundo.

— Mas tranquilo, eu gostei de você. Acho que podemos nos entender. — Ele expirou quente no meu ouvido, depois num ato brusco rasgou de uma vez minha blusa com sua faca e deixou meu sutiã e meu torso nu à mostra.

Eu continuei inalterada, eu não iria dar o prazer dele me ver nervosa. Eu sabia que porcos como ele curtiam esse clima de tensão. Eu sentia muito ódio dentro de mim, mas infelizmente a faca em minha direção e seu olhar certeiro impediam-me de tomar qualquer atitude de revanche. Então, eu suportava tudo aquilo para defender minha vida.

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