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It's not what happens to you, but how you react to it that matters. Epictetus.

14.

No banheiro, eu olhei as enfermeiras dando banho na Sara. Ela me olhava confiante. Queria abraçá-la se não estivesse tão fraca.

— Confie em mim, Tina. Vai dar tudo certo — ela sussurrou ao meu ouvido.

Os instantes que se seguiram foram os mais longos da minha vida. Eu confiava em Sara, eu acreditava que dentro dela existia uma força poderosa, se ela estivesse mesmo motivada e segura, daria tudo certo. Ainda assim, eu sentia o medo acelerando meu coração e aumentando minha febre, pois eu sabia que ela, pura do jeito que era, teria que enfrentar ninguém menos que Lúcifer. Com a desvantagem de que ela não fazia a mínima ideia de quem ele era. Talvez não saber deixou ela menos temerosa, talvez eu tivesse feito algo bom em não avisá-la... Para que pensar nisso? Eu não podia quebrar a confidencialidade e pelo próprio objetivo de assinar o pacto em cheque? Eu não poderia ter feito nada diferente, tentava me tranquilizar. Poderia?

Cada segundo se arrastava com a potência de horas, eu sofria pelas dores, mas principalmente por Sara ali do lado de fora, indefesa, enfrentando sozinha o senhor do inferno.

Tum-tum-tum. Meu coração batia acelerado sem trégua. Sentia a camisola grudar em meu corpo. O suor escorria. Toda vez que os soluços ameaçavam ganhar vida eu enfiava uma toalha na minha cara, essa habilidade eu tinha. A quem eu queria enganar? Eu duvidava que Sara conseguisse, eu estava morrendo de medo. Mas ela parecia tão segura, tão linda, tão poderosa... Será que ela conseguiria? Será? Será?

Meu coração não parava de bater acelerado. Eu estava em pânico, em absoluto pânico. O suor, o coração, um desespero de sair depressa dali, rápido. Eu olhava a porta, a maçaneta, eu iria abrir, eu precisava, tinha que ajudar Sara. Ela estava lá sozinha, precisando de mim, eu tinha que sair, tinha que sair agora. Ainda assim, meu coração encontrava coragem para me controlar. Você pode colocar tudo a perder, ele dizia para o meu medo. O pior pode acontecer se abrir a porta, controle-se, ele impunha. Mas se eu não abrir ela pode morrer, minha mente me dizia receosa. Se você abrir vocês duas podem, ele gritava e me acalmava em seguida. Tudo vai dar certo, confie em sua irmã, ela te ama, como você a ama. Acredite.

Consegui esperar um pouco, buscava pensar em Sara, confiar nela, imaginava que ela conseguia mover a mão e assinar o pacto, alguma magia. Mas como, minha mente gritava atordoada, ela é tetraplégica. Algum jeito, alguma forma, confie, confie, bradava meu coração alucinado.

Meu medo voltava a me desesperar e meu coração a me acalmar e estava ali imóvel, segurando tanta energia, tanto nervoso que a qualquer instante eu sentia que poderia explodir.

— Meu Deus!!! — Escuto a voz da Sara gritar por ajuda.

Imediatamente saio desesperada do banheiro para ajudá-la. Ela está na cama, sozinha, chorando e chorando. Então percebo, é isso, ela está se mexendo! Ela está curada!!! Vou correndo em sua direção, eu me atiro em seus abraços e nós duas choramos emocionadas. Ela está curada! Ela está curada! Eu estou curada! Eu estou curada! Eu não sinto mais as dores! Não vou morrer... Ela está bem! Eu estou bem! Estamos bem, finalmente! Sinto toda energia que tinha se esvaído me preencher, estou de volta. Estamos bem, estamos bem!

— É um milagre! — ela grita. — É um milagre!!!

As enfermeiras e minha mãe invadem o quarto preocupadas. Elas nos veem pulando e gritando e correm em nossa direção. São abraços, risos, lágrimas e mais abraços. É a alegria que transborda. Nunca fui tão feliz. Nunca fui tão plena. Sara se joga no chão e se ajoelha.

Pacto SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora