5.

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Do what thou wilt shall be the whole of the Law. Aleister Crowley.

5.

A manhã daquela segunda-feira foi muito produtiva, fechei algumas vendas consideráveis, duas especialmente para um haras nos Estados Unidos, que renderam ótimos valores. Acertei o transporte e o seguro dos animais até o endereço final nos Estados Unidos. Fiz mais algumas ligações, acertei todas as pendências e, no final de tudo, sorri satisfeita. Há tempos eu não sentia aquele ânimo para trabalhar.

A porta do escritório dava para o salão. Achei graça de ver minha mãe passeando pelo salão com o telefone na mão toda compenetrada. Era bom vê-la ocupada com os preparativos da nossa viagem. Resolvi ligar para Carla e depois para Vanessa, para elas já reservarem o final de semana.

— Carla, tudo bem? Saudades de mim? — falei brincando.

— Morrendo de saudades — ela respondeu com bom humor.

— Soube que você esteve por aqui ontem — comentei, para que ela dissesse o motivo da visita.

— Pois é, fui até aí para te ver, mas você não estava, mesmo assim foi legal poder passar um tempo com a Sara.

— Ontem eu achei ela tão bem. Acho que ela gostou da sua visita.

— A gente conversou bastante. Foi bom. — A voz de Carla pareceu distante, provavelmente por estar pensando nas coisas que a Sara tinha lhe dito.

Quis dizer que não importava o desabafo, talvez até a meu respeito, o resultado tinha sido ótimo.

— Foi tão bom que a Sara até concordou em ir para fazenda.

— Que ótimo, Tina!

A voz de Carla pareceu mais animada.

— Vem com a gente?

— Claro! Quando?

— Final de semana que vem.

— Perfeito — ela respondeu firme.

— Eu preciso falar com você, Carla. Tem tanta coisa maluca acontecendo — comentei, sem ter certeza se queria ter aquela conversa por telefone.

— O quê, Tina? — ela perguntou.

— Sei lá. Tanta coisa... Estou meio perdida.

— Mas eu achei você tão melhor — ela falou para que eu contasse mais alguma coisa.

— Tem uma outra coisa... — disse, querendo muito contar a ela sobre meu dilema, mas sabendo que não podia.

— O quê? — Ela quis saber.

— É difícil falar — desabafei.

— Tina, pode me contar. — Ela parecia ainda mais interessada, pois falou com a voz ainda mais firme, quase mandatória.

— Eu preciso tomar uma decisão, mas não tenho as informações. — Consegui abrir meu conflito sem dizer o que era. — Eu preciso decidir, mas é difícil decidir, envolve muita coisa, sabe? Outro dia, por exemplo, falei com meu pai — disse sabendo que aquele era o máximo que podia ser dito com sinceridade.

— Como isso aconteceu? — Carla falou ainda mais alto que de costume, indicando que seu interesse havia ficado ainda maior.

— Nem eu sei... Mas acho que foi em um sonho.

— O que vocês falaram?

Ela realmente queria saber. Era possível afirmar isso pelo tom da sua voz. Fiquei feliz de ela ter mostrado interesse por um assunto que eu sabia que podia ser chato, afinal, ninguém gosta muito de saber sobre o que a pessoa sonhou ou deixou de sonhar.

Pacto SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora