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There are two things a person should never be angry at: what they can help and what they cannot. Plato.

9.

Como todo bom paulista que aprecia churrasco e pizza, nós não fugíamos à regra. Tínhamos perto da piscina uma churrasqueira e um bom forno a lenha.

Minha mãe avisou que teríamos pizza na piscina nesta noite. Eu não estava nem um pouco animada para pizzada, dada às descobertas horríveis com as quais eu precisava conviver. Além disso, ter que ficar parada, mantendo distância e esperando, não era nada fácil para mim, pois eu estava acostumada a correr atrás e solucionar meus problemas. Não sabia como devia agir. Tudo o que eu queria era ficar pensando a respeito, mas minha mãe vinha planejando aquilo há tempos e eu não queria estragar tudo. O negócio era aguentar aquele martírio.

Vanessa me olhava de longe. Eu percebi pelo rosto dela que ela tinha percebido meu desânimo. Ela notou que eu olhava para ela e veio em minha direção. Fiquei parada esperando.

— Tina, que cara é essa?

— Não é nada não, Van. Estou pensando no que virá depois desse final de semana maravilhoso. Eu ainda não pensei em como vou lidar com minha irmã. Tenho medo de que ela se feche novamente.

Bem, eu não menti em nada, essa era mesmo uma preocupação que eu tinha, mas não era essa a causa do meu desânimo.

— Não fique assim, Tina. Eu conversei bastante com a Sara e acho que ela está bem melhor. Quer saber? Acho que esse é só o começo da melhora dela. Ela resolveu tocar sua vida. Você vai ver. Tudo vai ficar bem.

— É, talvez você tenha razão.

— Claro que tenho. Venha comigo, vamos colocar biquíni.

— Você quer nadar agora à noite?

— Mas é claro, Tina. A piscina é aquecida, iluminada e o tempo está maravilhoso. E tem mais — disse sorrindo — você vai nadar comigo. — E me puxou pela mão.

— Tá bom, você venceu — disse rindo.

Eu conhecia a Vanessa há muito tempo. Ela havia estudado comigo e com Sara no colégio e sempre havia sido uma boa amiga. Nós duas sempre gostamos muito dela. Ela, com seu jeitinho suave, sempre nos convencia a fazer suas pequenas vontades. Além disso, sempre esteve ao nosso lado. Logo após o acidente, ela visitava Sara todos os dias. Acho que ela ajudou muito a Sara e também a mim, sem que eu percebesse.

Poucos minutos depois, estávamos sentadas em uma das mesas da piscina. Então, Carla se aproximou de nós duas. Bronzeada, ela vestia um decotado vestido azul que combinava com seus olhos. Aquela cobra era linda mesmo, pensei.

— Fiquei procurando você, Tina. Onde você estava?

— Tava por aí — respondi irritada.

Carla me olhou brava, não conseguiu nem disfarçar e eu, é claro, resolvi provocá-la um pouquinho mais.

— Aconteceu alguma coisa?

— Você parece tensa mesmo. O que aconteceu? — Vanessa perguntou a Carla.

— Não aconteceu nada, gente. Eu precisava falar com você, Tina. Por onde você andou? — insistiu cobrando uma resposta que eu não estava a fim de dar.

— Já disse que tava por aí. Sabe, eu fiquei pensando no que você me falou hoje de manhã a respeito de como será duro enfrentar a realidade lá em casa depois desse final de semana. — Eu queria que a Vanessa soubesse que era a Carla que tinha colocado aquilo na minha cabeça.

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