Pacto Secreto

13.

Whaetever is done for love always occurs beyond good and evil. Friedrich Nietzsche.

13.

Estava deitada na cama do hospital, em um daqueles momentos em que ficava acordada entre cochilos. Nessas horas de consciência eu chegava a temer por minha vida, mas afastava esses pensamentos tenebrosos confiando na ideia de que as coisas vão dar certo. Alguma coisa tinha acontecido que as dores aumentam muito. Por algum motivo, os anjos devem ter me abandonado. As dores vêm intensas com força total. Talvez tenha chegado a hora de eu morrer. Eu tremia de febre e frio. Sentia com mais intensidade o dilacerar dos meus órgãos. A todo tempo, sem trégua ou descanso, sentia que havia uma besta maldita e faminta dentro de mim. Ela estava devorando todos os meus tecidos por dentro. A dor era colossal e desumana.

Eu voltei a vomitar e a suar descontroladamente. Tonturas e tremores percorriam meu corpo em ondas fortes e próximas. Era um maremoto. Meu corpo se desfazia e não havia nada que pudesse ser feito. Eu piorava a olhos vistos. Minha mãe agora chorava compulsivamente, rezando freneticamente, enquanto eu vomitava. Eu vou morrer agora? Chegou a hora? Qual a justiça disso? Foi tudo em vão, toda minha luta por nada? Nada importa a Deus? Nem ao diabo? Vou mesmo morrer? E se eu morrer mesmo? Sara ficaria para sempre tetraplégica? Minha mãe também me perderia? Para que fui me arriscar? Será que elas vão finalmente encontrar um jeito de serem felizes? Será que a minha morte pode ser um bem? Não vou deixar isso acontecer. Eu me recuso a morrer. Vou lutar. Só até a assinatura, eu preciso resistir mais, um pouco mais.

Foi, então, que algo aconteceu e comecei a me sentir melhor. Não estava curada, a dor persistia ainda em algum lugar dentro de mim, mas sentia um conforto. Os anjos deviam ter voltado. Procurei por eles a minha volta, mas nada. Foi quando olhei para a porta que o vi. Ele, o próprio diabo. Eu não tive dúvidas de que era mesmo ele, pois nunca, em toda minha vida, vira alguém tão maravilhoso. Ele não era desse mundo.

Lembrei da época em que naveguei bastante pela internet buscando mais informações sobre o Diabo, Satanás, Lúcifer e tantos outros nomes. Na época foi marcante compreender a história do anjo caído Lúcifer, cujo nome significa portador da luz, o mais forte e o mais belo de todos os querubins.

E agora eu via com meus próprios olhos que era verdade, o anjo caído era mesmo o mais belo. Ele vestia um terno preto de caimento exato, diferente do terno vermelho que já tinha imaginado em meus sonhos. Usava uma glamourosa gravata vermelha. Seus lábios perfeitos sorriam marotamente. Ele parecia ter cerca de trinta e poucos anos e era, sem dúvida alguma e disparado, o homem mais lindo que eu já tinha visto na minha vida, se é que podia chamá-lo de homem. Para fazer justiça, ele era perfeito. Ele possuía uma beleza infinitamente superior a do Enviado, era também mais alto, mais forte e mais escultural. Era tão espetacular que parecia mesmo um anjo caído. Parecia impossível não abrir os lábios diante de criatura tão bela e, sem pensar em nada, eu simplesmente sorri. Estremeci ao perceber meu sorriso bobo. A imagem me enganava. O diabo representa a maldade, a perversidade, a mentira e o que há de ruim no mundo. Eu não podia me iludir, e, pensando nisso, eu me esforcei para manter o controle.

Ele sorriu para mim novamente e pateticamente eu retribuí. Minha tentativa de autocontrole tinha se mostrado um verdadeiro fracasso. Percebi que o semblante da minha mãe tinha relaxado, provavelmente ela estava aliviada de me ver bem melhor e seus olhos atentos mostravam que ela estava curiosa. Decerto ela queria saber quem ele era e talvez até se perguntasse por que eu sorria feito uma idiota.

Ele me olhou como se eu fosse muito especial, e tive raiva, aquele olhar era para convencer minha mãe de que era um amigo.

— Sou um velho amigo da Tina, Lux Ferre. Você deve ser a adorável Suzi — ele disse com uma voz sedutora e harmoniosa.