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Thoughts are the shadows of our feelings – always darker, emptier and simpler. Friedrich Nietzsche.

25.

Eu cheguei rápido ao casarão. Larguei o carro na rua mesmo e fui correndo para o casarão. Na rua estreita do casarão, repleta de paralelepípedos, meu salto enroscava, tirei os sapatos e continuei correndo, decidida a recuperar toda nossa fortuna. Passei correndo por várias mansões gigantescas e desbotadas até chegar ao nosso casarão. Entrei acelerada pelo portão de lanças pontiagudas, atravessei o jardim, subi as escadas de mármore até a porta principal e submeti o símbolo do meu eu superior, do 666, ao leitor e entrei, e para a minha total e absoluta surpresa o hall estava deserto. Não havia ninguém naquele lugar imenso e frio de mármore.

Não convencida, lancei-me a correr pelos corredores, abrindo as portas de suas inúmeras salas e nada. Todas desertas e abandonadas, o que se notava pela poeira que se acumulava sobre as mesas e cadeiras. Voltei ao hall e subi as escadarias de mármore, vasculhei os andares de cima e não encontrei ninguém. Ninguém na biblioteca, que estava toda fechada. Ninguém na sala de Caim. Ninguém nas salas de reuniões. Ninguém no espaço vazio de mármore do último andar. Corri desesperada para o jardim, que ficava atrás do casarão, e nada. Tudo abandonado. O mato crescia em meio às estátuas renascentistas e dos caminhos de pedra. O casarão estava abandonado.

Estava confusa. Era tudo tão louco. Não conseguia imaginar o que estava acontecendo... Eles tinham fugido com meu dinheiro? Foi tudo por causa do meu dinheiro? Não era possível. Não. Tudo o que eu vivi com Caim foi real. Eu senti. Foi verdadeiro. Eles quiseram se vingar de mim? Da minha traição? Não, não podia ser. Eles tinham violado meu livre-arbítrio. Caim tinha que saber disso. Ele tinha que entender. Senti minhas pernas bambas e me deixei cai rno chão por alguns instantes até recuperar um pouco de energia para me levantar. Saí do casarão, fraca, desolada e exausta. Depois que passei a porta, vi um homem, loiro e lindo, de aproximadamente trinta e poucos anos, no jardim do casarão, munido de pedras na mão, jogando-as nas janelas com fúria.

— Morram, seus malditos filhos do demônio! Eu os amaldiçoo! Eu os amaldiçoo! Pela eternidade! Morram no fogo de Satan! Morram, seus malditos! — ele urrava desesperado.

— Eles não estão aí. Eu acabei de entrar e o casarão está vazio — disse calma para não irritá-lo ainda mais.

— O que você está fazendo aqui? Quem é você? Você é uma deles? Deixe-me ver sua mão — disse o belíssimo rapaz agarrando minha mão direita para verificar o meu símbolo demoníaco. — Você é uma deles! Venha me mate! Vamos lutar! Eu já não tenho nada a perder — ele gritou na minha cara e me empurrou para trás.

— Calma! — eu gritei. — Eu não sei quem você é! Eu era uma deles, porém fui deixada para trás, eu vim aqui entender e...

O cara não conseguia ficar quieto e parecia não escutar o que eu dizia, ele andava de um lado para o outro e tinha, em sua feição linda de anjo, um olhar louco e alucinado.

— Eu sei, eles fizeram com você, não foi? — ele me interrompeu, agarrando meu ombro esquerdo. — Diga: fizeram?

Eu olhava assustada, ele estava pior que eu. Parecia que o desespero era tamanho, que já tinha perdido sua sanidade mental. Ele tinha a feição transtornada. Ainda aquele lindo anjo babava feito um maníaco. Não fosse sua beleza encantadora, que entregava que ele também deveria ser um líder demoníaco, imaginaria que tivesse fugido de um hospício. Ele continuava atirando pedras no casarão sem acertar as vidraças. E seus olhos, que ferviam sua loucura, não se fixavam em lugar algum. E ele continuava praguejando contra o casarão, atirando pedras.

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