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You have your way. I have my way. As for the right way, the correct way, the only way, it does not exist. Friedrich Nietzsche.

26.

Entrei em meu carro e estava transtornada. Eu tinha que reconhecer... Eu não sabia de mais nada. Ideias idiotas habitavam e circulavam em meu cérebro sem lógica e sem nenhum sentido. Dirigia em direção à fazenda, perdida, totalmente perdida.

Eles poderiam estar atrás do meu dinheiro, da minha grande fortuna, desde o início. Afinal, eu era uma jovem ingênua, bom, nem tanto, rica e desesperada, muito fácil de atrair. Tudo o que eles precisavam me dar era a absolvição da minha culpa, a cura da minha irmã, e meu dinheiro poderia ser todo deles. Eles podiam estar atrás da minha grande fortuna. Eu era bilionária. Eu era a isca perfeita. Não fazia sentido! A Ordem toda era bilionária. Dinheiro jamais foi uma preocupação da Ordem. Não tinha lógica. Ou eles poderiam ter descoberto minha traição e terem resolvido se vingar de mim. Afinal, se eu assinei o pacto com Satan, eu não passava de uma ordinária. Enganar a Lux Ferre seria até para eles muita audácia. Eu mereceria sofrer pela eternidade? Eu mereceria viver para perder tudo? Seria isso? Eles não poderiam ser tão tolos a esse ponto. Estava na cara que eu não tinha como assinar o pacto! Eu não tinha informação nenhuma. Eu era inocente! Por que eles não perceberam isso? Caim não tinha visto isso? A última vez que estive com ele, ele pareceu entender que ele vinha violando o livre-arbítrio, ele parecia saber que eu tinha traído a Ordem, ele não pareceu ter raiva de mim. Será?

Mecanicamente estacionei o carro. Passei reto pela Dona Lurdes que tentou me cumprimentar de longe, mas acho que percebeu que era melhor não me perturbar. Fui até a cocheira. Aprontei o Tempestade e o montei. Montar sempre foi maravilhoso para pensar. E o Tempestade da Sara era o cavalo mais confiável que eu já conheci, ideal para conduzir alguém, que estava com a cabeça cheia, desatenta e distraída.

No passeio, conseguiria pensar melhor. Eles não podiam ser tão tolos a ponto de achar que eu tinha traído a Ordem e Lux. É claro que no início eu queria trair toda Ordem satânica e Lux Ferre, não havia dúvida alguma disso. Sim, era tudo o que eu mais queria. Porém, durante o processo o que eu quis era ter informações sobre o pacto, era saber o que estava em jogo. Eu só quis entender! Eu havia conversado com o meu pai, que sempre fora categórico de que eu precisava ter todas as informações antes de tomar minha decisão. Meu pai me guiou. Ele me disse, eu me lembro. Nós dois sentados na mesa da adega da fazenda, eu aflita lembro de ter pedido ajuda a ele para traçar um plano contra o "diabo" e ele me perguntou quem era o diabo, quem era o enviado, o que eles queriam comigo, ele disse que eu tinha que saber as coisas e não supor nada com base em histórias que escutei que nem sabia se eram reais.

Papai soube o tempo todo que eu precisava de informações e que as informações me foram sonegadas. Eu precisava da verdade. Eu não fiz nada de errado. Isso agora era de uma obviedade ululante para mim. Caim tinha que saber como eu me sentia. Ele tinha que saber que eu não gostei de ser enganada pela Ordem.

Se ele sabia das minhas intenções, ele poderia ter impedido um levante da Ordem contra mim e minha família... Caim poderia? Não poderia?... Não, ele não! Justo Caim não tinha entendido? Como isso seria possível? Ele tinha me deixado? Não tinha motivo nenhum para isso. Ele me amava, era real, eu sabia. Eu me lembro da despedida antes da prova do Rio de Janeiro, o jeito como ele me olhou, era verdadeiro, era sim, ele me amava. Eu sentia que era. Ele me amava e sempre me amou. Ele ainda tinha prometido que sempre estaria comigo, sempre.

Olhei para a paisagem e pensei forte em Caim buscando falar para ele continuar me apoiando. Eu fiquei pensando nisso e torcendo que chegasse a ele de alguma forma. Não me falte, Caim. Não me falte, Caim. Depois de um tempo, cansei e comecei a chorar. Por que ele teria me abandonado? Não fazia sentido! E gritei desesperada, fazendo com que o Tempestade voltasse a galopar. Eu te amo, Caim! Eu te amo! Não quis te enganar, eu não quis!

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