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To find yourself, think for yourself. Socrates.

24.

Tinha, enfim, terminado minha temporada no Rio de Janeiro. Mais uma vez percebi que sacudir a poeira e seguir em frente acreditando naquilo que existia dentro da mim era a melhor forma de viver a vida. Chorar pelos cantos e amaldiçoar a vida eu sabia, por experiência própria, que só me afundaria mais na lama. Eu decidi que acreditaria em mim sempre, eu era mesmo forte.

O potencial divino que a Ordem tanto falava se tornava cada dia mais real e factível. As provas me faziam ver de forma muito clara o tamanho do meu potencial. A galera da luta tinha se afeiçoado a mim, e, por isso, a despedida não foi fácil, Mas a verdade é que eu me sentia feliz em poder voltar depois de todo aquele tempo. A saudade que sentia de Caim chegava a doer. Invadia audaz e confiante meu coração e mostrava que não iria fraquejar. Eu precisava vê-lo. Muito. Só de imaginar Caim no aeroporto, meu coração palpitava forte.

O cara da Ordem no Rio, que me encontrou e devolveu meus documentos, explicou que só eu voltaria para casa, dois iniciados desistiram da prova ou os outros dois ainda estavam fazendo a prova, pois tinham violado as regras e pedido ajuda.

Assim que o avião pousou, levantei da cadeira e peguei minha bagagem de mão. Saí do avião correndo em direção ao portão de desembarque. Eu corria o mais rápido que podia. A emoção de imaginar Caim sorrindo para mim me contagiava. Seria maravilhoso vê-lo sorrindo feliz e depois abraçá-lo. Tão logo saí, meus olhos procuravam com urgência Caim em meio ao grupo de pessoas que aguardavam. Olhava ansiosa à minha volta e nada. Continuei procurando por mais uns dez minutos, nas lojas próximas, no Café, na livraria e nada! Nada!

Fiquei decepcionada, mas a saudade era tanta que pouco me importava o porquê Caim não estava me esperando, eu queria vê-lo e ponto final. Tomei um táxi feliz, imaginando que logo estaria com Caim, que ele me beijaria com aquele ímpeto que ele tinha e que poderia derreter em seus braços fortes.

Assim que cheguei ao prédio de Caim meu coração bateu ainda mais forte. Eu não via a hora de encontrá-lo. Eu me identifiquei na portaria com pressa dizendo que procurava Francisco Araújo, torcendo para que o porteiro abrisse logo aquela porta e eu pudesse correr para o elevador.

— Seu Francisco está viajando, Dona Valentina — o rapaz anunciou preocupado.

— Quando ele volta? — perguntei decepcionada. Senti imediatamente alguma coisa ruim apertando meu peito. Buscava evitar aquele sentimento, mas estava arrasada.

— Sei informar não, moça. Só sei que já faz duas semanas que Seu Francisco foi de viagem.

Minha garganta naquele instante fechou e eu não consegui falar nada. Eu abaixei a cabeça e senti as lágrimas escorrerem pelos meus olhos. Comecei a andar em direção à minha casa, não tinha condições de conversar com qualquer taxista, queria estar só. Por alguns minutos tudo o que consegui fazer foi chorar. Eu sentia que alguma coisa não estava bem. Uma dor física me consumia e me rasgava por dentro. Eu conhecia Caim. Podia ser o negócio que fosse, o ritual que fosse, o que quer que fosse, ele não iria simplesmente viajar. Senti um vazio profundo em meu coração e uma dor brutal que vinha das minhas entranhas. Dei um grito mudo e logo em seguida senti um turbilhão de ar subir pela minha garganta e urrei forte, seguido de uma avalanche de soluços. Quem me visse, teria a certeza que alguém tinha morrido. Eu estava arrasada. Sentia alguma coisa muito ruim no peito apertando forte e não conseguia parar de chorar.

Ainda bem que quando cheguei em casa não tinha ninguém, já era tarde. Deitei na minha cama do jeito que estava e pude ficar à vontade com meus pensamentos, enquanto o sono não vinha.

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