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Leave no stone unturned. Eurípedes.

12.

Eu sorria realizada com a minha esperteza. Eu me sentia fantástica, sublime e, não podia esconder, lisonjeada, afinal eu havia sido eleita pelo diabo pelo meu exemplo de liderança, e eu era uma líder da ordem máxima. Isso não devia ser pouca coisa. O príncipe das trevas me escolheu pessoalmente! Ria sozinha. Eu era fantástica. Até o diabo me queria para estudar na sua maravilhosa escola. Eu poderia aprender finalmente tudo o que sempre quis e nunca ninguém me ensinou. Imagine só eu aprender todas as técnicas da indução, influência e envolvimento, levando todos a fazer exatamente o que for de minha vontade. Talvez, afinal, não fosse tão ruim ser uma líder satânica, ainda mais da ordem máxima.

Esses pensamentos e sensações passam pela minha cabeça enquanto caminho para o estacionamento, é no momento que olho para a Catedral da Sé que me assusto comigo mesma. Meu Deus do céu o que eu estava pensando? Como posso querer manipular as pessoas? As pessoas devem poder escolher e decidir, isso foi tudo que meu pai me ensinou a vida inteira... E essa soberba que sinto por ser líder da ordem máxima? Eu nem sei o que significa isso! Abaixo a cabeça arrependida daquele orgulho idiota que senti sem sequer saber se realmente era digna de mérito. Olho para o chão confusa, sem saber o que realmente quero para mim. Temo que o ar daquela mansão demoníaca de alguma forma tenha tirado de mim o que restava da minha fé, sei que é irracional e louco meu pensamento, mas resolvo entrar na Catedral da Sé e me ajoelho para rezar, quando faço isso a lembrança da dor nos meus joelhos vem à mente, ainda assim ajoelho e para minha surpresa não sinto nenhuma dor. É nesse instante que percebo que já faz um bom tempo que não me ajoelho para rezar. Rezo um pouco, já sem saber como é o Deus para quem estou rezando, ainda que não reconheça isso em voz alta. Sinto-me uma estranha na Igreja, como uma intrusa, e saio arrependida. Mais perdida que nunca vou para casa.

Assim que entro em casa noto que minha mãe fica entusiasmada com minha chegada. Percebo que cheguei bem na hora do jantar. Ando em direção à copa atrás de minha mãe que me puxa e fala sem parar. Confesso que não ouço nada do que ela fala, estou com dificuldade de me concentrar, me sinto confusa e um pouco enjoada. Entro na copa e lá está Sara. Parece mais leve, talvez esteja aceitando afinal sua vida tal como é. Assim que eu sento, vejo a cara de felicidade da minha mãe olhando para suas duas filhas à mesa.

Percebo que Dona Carmen também está feliz e Sara parece contente. Tento prestar atenção no que Sara está dizendo, é algo de como ela enfrentou bem as dificuldades da doença.

— Sara, deve ser difícil mesmo...

Não consigo terminar a frase, subitamente sinto um calor forte percorrendo meu corpo, sinto meus olhos querendo fecharem-se e com muita dificuldade tento mantê-los abertos para ver sofregamente Sara e minha mãe ainda sorrindo. Sinto minhas pernas e meu corpo amolecendo suavemente, é como derreter e, então, meu corpo involuntariamente despenca da cadeira. Depois disso, apago completamente.

Acordo deitada em minha cama, com minha mãe ao lado, sentada no sofá, velando meu repouso e me perguntando como eu me sinto.

Eu consigo abrir um pouco os olhos, porém não tenho as forças necessárias para falar. Eu tento, mas exige muito esforço.

— Não — murmuro após alguns segundos.

Eu sinto um fervor percorrendo todo meu corpo, que está mole e dolorido. A febre arde e eu estou com ânsias horríveis que reviram meu estômago e tenho certeza de que não vou conseguir ficar muito tempo sem colocar todo o jantar para fora.

Consigo com muita dificuldade levantar minha cabeça, mas não por tempo suficiente para vomitar ao meu lado, acabo vomitando em mim mesma. Escuto os passos de minha mãe correndo e seus gritos chamando as enfermeiras. Aquilo é um alerta para minha condição. Eu estou mal, muito mal. Será que estou morrendo? Deve ser aquele casarão maldito. Aqueles adeptos satânicos me pegaram... Quero pensar e entender tudo, mas não consigo. Ninguém com aquele tipo de dor conseguiria refletir qualquer coisa. E também agora já foi, não adianta mais pensar. Só sinto aquelas dores dilacerantes e é só nelas que me concentro para buscar algum meio de suavizá-las, mas parece impossível, elas me arrebentam.

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