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Better to reign in Hell, than to serve in Heaven. John Milton.

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Parecia um sonho. Era difícil acreditar que aquilo estava realmente acontecendo... O barulho ensurdecedor dos tambores me trouxe à realidade. Era real. Aquilo estava mesmo acontecendo...

À minha frente eu via uma plateia de líderes satânicos. Eles me encaravam sem receio. Era difícil fugir daqueles olhares afiados. Eu sabia que em instantes chegaria a minha vez de ser despida na frente de todos e mergulhar na escuridão do sangue. De alguma forma estranha eu não temia aquele ritual de iniciação. Alguma coisa tinha mudado dentro de mim, muito além da mera aparência. Eu me sentia forte e livre como nunca antes havia me sentido. Eu sentia que minha alma estava além de qualquer tipo de negociação. Nenhum ritual, por mais dramático que pudesse parecer, poderia tomar posse da minha própria essência divina.

Ainda assim eu tinha medo de ser descoberta por aqueles líderes de olhos famintos durante o ritual. Minha vida dependia da minha capacidade de não entregar meu segredo. Agora eu era uma prisioneira da minha própria farsa e tinha que representar bem em cima daquele palco.

Os batuques se tornaram ainda mais fortes e ritmados, percebi que tinha chegado a minha vez. Eu tinha controlado meu medo e estava calma. Percebi que o Mister Sinistro me olhava com um misto de satisfação e admiração. Ele tinha um sorriso lindo no rosto. Devia ser porque eu era sua conquista. Não, seus olhos diziam que era mais que isso, aquele sorriso era de pura alegria. Ele estava feliz de me ter ali ao seu lado. Engraçado como seus olhos e seu sorriso me fizeram bem. Eles lembravam os olhos do meu pai e me deram a confiança que eu precisava para seguir em frente sem medo. Ele se aproximou de mim e suas mãos quentes prenderam as minhas com força, mas ao invés de medo, eu me senti acolhida.

— Eis uma líder da ordem máxima, a única que temos no Brasil — ele grita levantando meu braço para o alto para a plateia se empolgar. — Aplausos para ela!

Ouvi urros e gritos da plateia acompanhados de fortes aplausos. Eu sorri para o Mister Sinistro, me senti agradecida, e ele retribuiu confiante. Ele com suas mãos quentes tirou delicadamente meu manto negro e me despiu. Eu fiquei completamente nua na frente daquela multidão. Aquilo que era meu pesadelo desde tenra idade não me horrorizou. Respirei fundo corajosa, sorri uma última vez para ele e fechei os olhos. Em poucos segundos fui mergulhada na escura banheira de sangue. Ele me trouxe rapidamente à tona. Eu estava inteira coberta de sangue, estranhamente minhas narinas me diziam o contrário, pois eu sentia forte a fragrância de álcool. Sorri aliviada, a banheira era de vinho tinto, bebida que eu apreciava tanto e que reconheceria em qualquer circunstância.

O Mister Sinistro segurou em minhas mãos, mais uma vez, ele ainda tinha aquele sorriso de alegria no rosto.

— Nos dê seu juramento de sangue! — ele ordenou confiante.

Eu tinha os olhos serenos, quase frios, não por que eu confiasse em Deus, ou porque não temesse Satan, mas sim porque, finalmente, tinha entendido da minha importância divina. Eu estava desperta.

— A minha única lei é seguir a minha própria vontade. Estou pronta para ser iniciada! — gritei empolgada.

— Faça a renúncia a seu antigo Deus! Faltou essa parte no seu juramento! — Ele segurou forte meu punho, ainda assim alguma coisa no jeito como ele me olhava e em seu sorriso me fazia crer que aquilo era pura encenação, era como se ele quisesse me testar. Parecia que eu lia seus pensamentos.

— Eu sou livre para fazer o juramento que quiser — desafiei, confiando em meu sentimento.

Eu devia estar louca para cometer aquela ousadia, mas eu sentia que tinha que falar aquilo que pulsava forte dentro de mim, ainda mais após a experiência do ritual. A liberdade fluía em minhas veias para eu manifestar quem eu realmente era.

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