Julho de 2017

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11 de julho de 2017

(Rachel)

Havia um lençol recém-comprado sobre parte do meu corpo. Estava nua num quarto estranho, numa cama estranha, torta. O meu traseiro e parte das minhas costas estavam afundados numa irregularidade do colchão. O quarto era pequeno, tinha uma televisão pequena pendurada na parede, a decoração até que era interessante, com cortinas coloridas e paredes azuis num tom mais escuro. Parece que foi feito por um decorador ainda estudante que pegou o trampo por indicação do amigo do amigo. Ou talvez tenha sido o próprio dono do albergue moderninho com estudantes do mundo inteiro hospedados no local. Tenho certeza que essas pessoas adoram o local com decoração "ousada" que tem cadeado nos armário em Porte Saint-Denis, não muito distante do centro de Paris. Eu olhava pela janela e via uma rua estreita com prédios mais antigos do que os de alguns setores de Nova York, que pareciam padronizados. Havia uma lavanderia em frente e precisávamos subir uma rua para encontrar a avenida em que encontrávamos transporte público e alugávamos bicicletas. O cheio era impressionante. Odor de cidade velha, mais até do que certos bairros de Nova York. Não sabia descrever o que era esse cheiro. Era que envolvia urina, suor e concreto. Não era tão agradável a mim, embora Quinn pensasse que era perfume.

"Hummm" – ela se movimentou ao meu lado e deu um beijo no meu ombro. Tinha um pequeno sorriso no rosto, cabelos revoltos, e o braço que estava em cima o meu corpo começava a se movimentar pelo meu abdômen. Uma mão parou no meu seio e os dedos começaram a brincar com o meu mamilo. A pequena estimulação o fez enrijecer. Quinn se movimentou em direção ao meu peito e logo senti a boca da minha esposa se movimentando preguiçosamente sobre o outro seio – "Bom dia" – ela disse rapidamente antes de voltar a atenção ao meu corpo.

"Bom dia" – respondi e tentei ajustar o meu corpo dolorido para uma posição mais confortável dentro do buraco no colchão. Fazer sexo matinal com desconforto nas costas era o fim.

"Obrigada!" – ela foi tomando um caminho sobre mim e beijou os meus lábios – "Foi o melhor aniversário da história" – disse antes de voltar a mergulhar a língua dela dentro da minha boca. Correspondi da melhor forma possível.

Para ser sincera, não estava muito no espírito de fazer sexo naquele instante, mas faria por ela. Foi uma correria conseguir viabilizar o aniversário dela em Paris. Quinn conseguiu antecipar 15 dias de férias na Bad Things e reservou hospedagem, comprou passagens e fez todo o planejamento para ir a Paris. Ela chegou um dia antes que eu, porque ainda estava enrolada em Los Angeles. Peguei um voo de LA a Paris e, conseqüentemente, tive de suportar mais horas dentro de um avião. Quinn me buscou no aeroporto com um sorriso que compensou as muitas horas na poltrona da classe econômica ao lado de um sujeito que me reconheceu pelo trabalho em Slings and Arrows e mandou twitts a respeito. Só podia desejar que a base de fãs da série não fizesse grande coisa com a informação.

Foi o choque quando vi o "hotel" escolhido por Quinn. Tudo bem que ela gostaria de fazer uma viagem em que ela pudesse arcar com a realidade econômica que tinha, independente da minha renda. Mas sério? Nem quarto com banheiro tinha ali. Era preciso se virar num vestiário em que eu mal confiava andar de chinelos de dedo. Meu primeiro dia foi de descanso, ao passo que Quinn já tinha revirado um bom pedaço de Paris, ou pelo menos da vizinhança. Procurei não reclamar das instalações para não estragar o clima do aniversário dela. Deixei a minha mala no armário com cadeado, mesmo o nosso quarto sendo da ala "mais cara" daquele albergue, e fui jantar com minha esposa. No dia seguinte, ela me levou para conhecer tudo que era ruela de bicicleta. Paris para mim era glamour. Era um polo de moda em que andávamos pela Champs Élysées mostrando para todos os rudes franceses que éramos bons turistas. Basicamente como foi a minha primeira visita a Paris quando tinha dez anos junto com papai, meu pai e Santana. Quinn tinha outra concepção. Ela queria conhecer os "cantinhos" e ali eu a acompanhei debaixo de um calor que deus me livre enquanto ela enchia a memória da máquina com centenas de fotos. Procurei entender e participar com um sorriso, mas isso não me impediu de comprar um jogo de lençóis novo porque, sinceramente, sentia nojo daqueles fornecidos pelo albergue.
E assim foi por três dias, inclusive no aniversário de Quinn. Apesar de todo meu novo treinamento, já não agüentava mais a bicicleta e o calor. Mas sorria porque a minha amada esposa fazia 23 anos e ficava mais bonita a cada ano que passava, se é que era possível. Quinn era o meu leãozinho e eu continuava tão apaixonada por ela quanto no início. Se não mais. Infelizmente, as minhas pernas naquele instante não amavam minha esposa. Nem mesmo a minha coluna. Ainda assim, gastei um tempão numa livraria, que era bonita, fato, ainda assim: uma livraria. Tudo porque ela quis revirar aquelas prateleiras em busca de clássicos em francês. Quinn não falava com a fluência que dizia ter, mas era muito melhor do que o meu francês caduco e pobre. Infelizmente aquela não era a minha querida Espanha, onde me sentia à vontade. Quinn conversou com o atendente, gastou hora ali e encontrou um exemplar antigo de "As Coisas", de Georges Perec, Ou melhor: "Les Choses: Une Historie dês Années Soixante", que era um clássico dos anos 1960 que eu só ouvi falar, mas que provavelmente nunca leria.
Quinn comentou mais a respeito do livro do que do cordão de ouro branco com um pingente escrito R&Q que mandei fazer especialmente para ela. Entreguei meu presente no restaurante em que estávamos e procurei buscar o melhor clima romântico para tal. Minha esposa sorriu, agradeceu o presente, colorou-o no pescoço e voltou a falar de ruelas parisienses. Em seguida, fomos a um cabaré e ela quis fazer uma rapidinha ao céu aberto antes de voltarmos ao albergue para transar um pouco mais.

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