Novembro de 2018

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20 de novembro de 2018

(Quinn)

Só mesmo o senhor Schuester e a gratidão que tenho por ele e pela formação do coral Novas Direções de William Mckinley High para me fazer matar um dia de trabalho e antecipar a minha ida a Lima, Ohio. A minha programação era chegar na quarta-feira, passar o dia com minha mãe e descer para Columbus pela manhã para o tradicional almoço de ação de graças com os meus sogros. Domingo já estaria de volta à metrópole para continuar o meu batente com a pré-produção do filme para TV que começa a ser rodado no início de dezembro. Programação de um mês de filmagens excluindo as paralisações previstas aos feriados de fim de ano. O que podia fazer se a história se passa no inverno? O bom e ruim ao mesmo tempo é que vai acontecer praticamente no mesmo tempo em que Rachel estar na Califórnia filmando o novo Star Wars. Ela ia fazer uma das jedis alunas de Luke Skywalker. Era uma personagem com pelo menos três boas cenas, umas quinze linhas de fala, aparições de background e que morre durante a batalha crucial.

O bom é que Rachel seria eternizada dentro de Star Wars, mesmo que fazendo uma personagem que só apareceria neste filme. O ruim é que ela seria eternamente compromissada com esse tipo de franquia. Minha mulher precisaria só de alguns dias para gravar toda a participação num estúdio, mas por causa dos detalhes técnicos que envolvem o filme, a produção mandou que ela ficasse a disposição por um mês. Ou seja. Ela passaria a maior parte do tempo na casinha que temos em Santa Mônica. Rachel ia aproveitar para fazer um ensaio de moda e acertar a questão do beard.

"Quinnie" – minha mãe me gritou da cozinha – "Venha aqui dar assistência a sua esposa."

Resmunguei. Não era por preguiça, mas é que minha mãe parecia que jamais permitira Rachel se sentir à vontade. Ela era tratada como hóspede, e como tal, não lhe era permitido se virar sozinha dentro de casa. Sequer lavar um copo era permitido. Entrei na cozinha e lá estava Rachel com jeito de poucos amigos diante de um prato com torta de blueberry.

"O que foi?"

"Você poderia dizer a sua esposa para ficar quieta e comer a torta dela?"

"Eu só me ofereci para ajudar a arrumar a cozinha. E ela me deu um pedaço de torta."

Olhei para a minha mãe e depois para a minha mulher. Suspirei. Eu nunca conseguiria vencer nessa batalha silenciosa que as duas travavam. Voltei a olhar para Rachel e com um meio sorriso forçado pedi para ela fazer um esforço. Ela começou a comer o pedaço de torta.

"Martin disse que está ansioso para o almoço de amanhã. Ele antecipou o cardápio de ação de graças só por nossa causa."

"Comer peru dois dias seguidos? Que ótimo!" – revirei os olhos.

"Não seja mal-criada, Quinnie. Martin disse que gostaria de ver a nossa família interagir, mesmo que sua irmã Frannie não queira aparecer."

"Frannie está comemorando um ano de casamento, mamãe. Ela não viria para cá."

"Que horas vocês vão para o tal encontro?" – mamãe mudou radicalmente de assunto.

"Em uma hora" – Rachel olhou para o relógio. Sim, ela ainda usava um.

"Não deveriam estar se arrumando?"

"Quer saber? É a melhor sugestão que ouvi por hoje" – Rachel deu uma garfada no pedaço de torta e saiu da cozinha.

Deixou metade da torta no prato, que eu peguei e terminei de comer. Não quis encarar minha mãe naquele instante.

"Ela não gosta de mim" – minha mãe suspirou – "Por mais que eu tente, Quinnie, sua esposa não gosta de mim."

"Ela gosta" – passei a mão nas costa dela em conforto – "Mas ajudaria se a senhora a deixasse mais à vontade sempre que ela venha aqui, que já é tão raro. Ela não gosta de se sentir como mera visita em locais que ela considera da família. Rachel gosta de invadir o apartamento da irmã dela e fuçar a geladeira. Ou maltratar o piano da casa dos pais dela sem pedir autorização. Ou mesmo ir à casa de Kurt Hummel e abusar do DVD player porque ele é o único que ainda tem um aparelho desse de pessoas que conhecemos em Nova York. Se ela queria te ajudar a arrumar as coisas, deixa."

"Só queria ser gentil e poupá-la de trabalho."

"Não se esforce tanto, mamãe."

Encontrei Rachel no meu velho quarto (que agora era de hóspedes) procurando uma roupa em nossa mala. Ela não parecia zangada, só pensativa. Abracei-a por um instante e a embalei. Exalei o perfume bom da pele do pescoço até sentir que ela relaxou um pouco nos meus braços. Precisava dizer mais nada. Escolhemos nossas roupas e tomamos banho juntas para poupar água e namorarmos um pouco. Vestimos nossas roupas e eu peguei o velho carro da minha mãe para seguirmos ao auditório municipal de Lima, onde aconteceria o evento. Lima foi escolhida para as estaduais deste ano porque mais uma vez havia duas escolas ex-campeãs nacionais se confrontando na etapa eliminatória. Estava nem aí para a competição em si. O que interessava era a homenagem para a despedida do professor Schuester. Ele e Emma estavam de mudança para Portland, Oregon. Que fossem felizes.

Sob comando do Novas Direções, o professor Schuester conquistou três títulos nacionais em cinco finais. A primeira delas conquistada em Nova York, comigo, Rachel, Santana, Mike, Kurt, Finn, Tina, Artie, Puck, Lauren, Sam, Mercedes e Brittany. Foi uma equipe inesquecível. A segunda vez em que foram campeões aconteceu em Chicago quando Blaine e Finn foram solistas masculinos e outra garota que entrou no lugar de Rachel dividiu o papel de principal solista feminino com Mercedes. A terceira vez que o Novas Direções foi campeão no meio deste ano em Miami já foi com uma equipe completamente nova composta por nomes que não me dizem respeito. O que sei é que neste ano Tina assumiu o papel de co-diretora e ensaiaria o grupo de alunos nas finais caso o Nova Direções se classificasse.

"Estou ansiosa" – Rachel confessou.

"Boas lembranças?"

"Ótimas lembranças" – ela apertou a minha mão – "Foi numa competição dessas que você roubou um beijo meu. Lembra?"

"Dizem que casais que começam um relacionamento com um beijo roubado são mais fortes e duradouros."

"É uma boa premissa."

Ao entrarmos no saguão, encontramos Tina. Fazia muito tempo que não a via, mas ela mudou nada. Vestia-se como uma adulta, claro, mas o rosto era basicamente o mesmo. Ela estava por ali para entregar os convites aos veteranos. Todos nós sentaríamos na mesma fileira, aparentemente.

"Meu deus! Rachel Berry-Lopez e Quinn Fabray" – ela nos deu um abraço apertado – "Não esperava que viessem. Fizemos até uma aposta e eu perdi."

"Sinto muito" – brinquei.

"Nunca fiquei tão feliz em perder. Aliás, todo mundo compareceu. Isso é tão emocionante."

"Minha irmã já chegou?" – Santana veio no mesmo voo que o nosso, assim como Kurt, Johnny, Brittany e Robert, mas ela se hospedou na casa da tia dela. Ironia do destino: Robert adorava brincar com Johnny.

"Já sim. Ela e o namorado bonitão dela. Quem diria? Eu achava que você ficaria com Finn Hudson enquanto Santana terminaria os dias com Brittany. Mas olha só..."

"Obrigada pela parte que me toca, Tina" – reclamei – "E uma correção: é Rachel Fabray agora."

"Minha esposa é um tanto quanto possessiva" – Rachel piscou para Tina – "Mas ainda posso ser chamada pelo meu nome artístico."

"Rachel Berry!" – ouvimos uma voz por trás. Era ninguém menos do que um levemente envelhecido, mas ainda cheio de pose Jesse St. James – "Mas a que devemos a honra de ter uma estrela da sua grandeza aqui neste modesto evento de corais?"

"Uma despedida importante" – ela respondeu com um sorriso adorável. Mais do que eu gostava que ela destinasse a alguém, em especial a um ex-namorado – "E você?"

"Eu sou o novo diretor do Vocal Adrenalina."

"Isso é ótimo! Tomara que você retorne a tradição de sucesso da minha mãe."

"É o que espero. Primeiro tenho de passar pelo seu antigo coral e por outras três equipes."

"São apenas cinco na programação?"

"As eliminatórias foram ontem e nós passamos em primeiro lugar" – Tina contou vantagem.

"É o que veremos. O show de verdade acontece hoje" – Jesse sorriu confiante. Rachel e eu trocamos olhares e eu estava secretamente aliviada por não fazer mais parte desse mundinho há muitos anos. A única competição que sonho hoje em dia é com Tribeca, Cannes e Berlim.

"Boa sorte aos dois" – Rachel foi política e pegou minha mão para entramos no teatro.

A última vez que pisei meus pés ali foi nas locais em que vencemos quando eu fiz o dueto de The Time of My Life com Sam, e Santana fez o solo de Valerie com um show de dança de Mike e Brittany. Continuava tudo do mesmo jeito. Depois do saguão e da porta de entrada para checagem dos ingressos havia um hall grande com um café e bar, além dos banheiros. Era onde havia as escadas de acesso para o mezanino do teatro e a porta para a audiência. Em meio da multidão encontramos Santana, Johnny, Kurt e Finn Hudson conversando animadamente com Sam, uma garota que não conhecia e Puck.

"Rachel e Quinn!" – Puck fez festa.

Olhei para ele e estranhei. Estava tão envelhecido. Puck só tinha 25 anos, mas parecia ter passado dos 30. Nós nos abraçamos e também a Sam. O cumprimento a Finn foi o mais breve e seco. Quis rir da quantidade ex-namorados que havia ali. Chegava a ser ridículo. Puck foi parceiro de cama duradouro de Santana, teve uma filha comigo e chegou a namorar Rachel brevemente. Sam foi o meu namoro mais sexual até Rachel. Ainda tinha Finn, que foi meu namorado, de Rachel e ele ainda perdeu a virgindade para Santana. Sim era ridículo.

"Quem mais chegou?" – Rachel perguntou.

"Eu vi Artie conversando com Brittany e Mercedes mais adiante" – Kurt respondeu – "Blaine está por aí, assim como Matt, Mike. Oh, Lauren fez redução de estômago e está irreconhecível. Tem outros garotos da segunda geração, como Sugar Motta, Joe, Rory, Sunshine..."

"Não os conheço" – Santana disse seca – "Mas presumo que tenham sido esses a nos substituir, certo?"

"Fomos bicampeões nacionais com eles" – Finn disse como se fosse algo pessoal – "Tenha um pouco mais de respeito."

"Sinceramente, Saco-Suado-de-Batatas, eu não dou a mínima" – Santana sorriu e puxou Johnny – "Está na hora. Vamos logo ver o último game do senhor Schue."

...

(Rachel)

Competições eram tão excitantes. Tudo bem que foi em meio a uma agenda apertada, mas fiquei muito feliz em poder comparecer à despedida do senhor Schue. Ele que foi uma das pessoas fundamentais em minha carreira. Ele não contribuiu necessariamente para o meu crescimento vocal, claro, mas foi por meio do grupo que ele criou e de que eu fui uma das pioneiras que tive a oportunidade de chegar a Nova York mais cedo que planejei.

Tenho tantas boas recordações do Novas Direções. Foi ali que fiz meus primeiros amigos verdadeiros como Kurt e Mercedes. Foi ali que comecei a namorar Finn, o meu primeiro amor. E também foi lá que comecei a namorar Quinn, o meu amor definitivo. Como não falar de Mike? Ele que era apenas um colega de equipe e que se transformou num dos meus melhores amigos. Foi o lugar que uniu Santana e eu quando eu jurava que passaríamos todo o período da escola sem mal nos falarmos nos corredores. Foi por causa do Novas Direções que minha mãe se aproximou de nós e indiretamente adotou Beth quando Quinn entregou a menina à adoção. Tantas coisas lindas aconteceram naquele coral e esses fatos superaram e muito os problemas que tivemos dentro dele. Por isso fiz tanta questão de estar aqui.

"Vou tentar ir aos bastidores desejar sorte ao senhor Schue" – disse a Quinn, que apenas acenou.

Ela foi para a poltrona junto com Santana, Johnny e nossos amigos. Mas eu precisava escapar para ver o meu querido professor. Passar para os camarins não foi tarefa difícil. Ajudava o fato de eu ser uma pessoa conhecida. Ouvi dizer que em Lima ganhei status de lenda viva, superando inclusive a treinadora Sylvester. Estava acostumada a ver olhos arregalados em certos lugares em que ia, em especial em meio a fãs da Broadway ou da série. Mas ali? Era um corredor de olhos arregalados.

"Posso ajudar, senhorita Berry?" – uma moça postou-se à minha frente sem eu nem precisar me apresentar.

"Onde está concentrada a Nova Direções, de William Kckinley High?"

"Segundo camarim à esquerda. Eles serão os últimos a se apresentarem."

Acenei e fui em direção ao camarim, parando para acenar e desejar boa sorte ao primeiro grupo que se concentrava na anti-sala de acesso ao palco. Faltava dez minutos para começar. Dei duas batidas à porta antes de entrar. Vi o senhor Schue ajudando no aquecimento das vozes enquanto alguns garotos conversavam e algumas garotas terminavam de se maquiar.

"Com licença, senhor Schue."

"Rachel!" – ele abriu um sorriso e veio me dar um forte abraço, que eu correspondi prontamente – "Isso é maravilhoso e é uma surpresa. Me disseram que você estava ocupada demais e que não poderia vir."

"Seja lá quem te disse isso, quis pregar uma peça. Claro que eu daria um jeito de estar aqui."

"Senhoras e senhores" – ainda com o braço nos meus ombros ele chamou os garotos – "Esta é a primeira e única Rachel Berry-Lopez. Ela que saiu deste coral para trilhar o caminho dos sonhos dela e conseguiu chegar lá. Temos uma grande inspiração aqui."

Acenei de maneira geral para os garotos. Era um grupo maior do que da minha época, em que tínhamos de pedir quase que pelo amor de deus para alguém entrar e termos os 12 mínimos, como foi o caso de Lauren. O senhor Schue tinha simplesmente 20 adolescentes sob comando e estava curiosa para saber o que ele faria com essa força conjunta.

"Tem alguma coisa a nos dizer, senhorita Berry?" – uma menina de olhos castanhos brilhantes se aproximou.

"Acima de tudo, divirtam-se. Estar no palco é algo mágico, numa um peso. Por isso vão até lá e sejam vocês mesmos, se soltem e confiem que tudo dará certo."

Ganhei aplausos e me despedi desejando um "quebre a perna". Estava com o ego inflamado, confesso. Cheguei a minha poltrona ao lado de Quinn praticamente no mesmo momento em que as cortinas se abriram para o primeiro grupo. Era uma escola de Cleveland com 16 integrantes. Cada escola tinha de cinco a dez minutos para se apresentar e poderia cantar quantas músicas quisessem durante esse tempo. Cleveland escolheu uma dinâmica interessante de fazer um medley de vários clássicos da música country. Foram muito inteligentes ao valorizar diversos solistas e em investir numa coreografia bem elaborada. Terminaram com a épica Jolene, eternizada por Dolly Parton, sob muitos e merecidos aplausos.

"Esses moleques vão criar problema" – Santana comentou ao meu lado – "A gente nunca pensou em fazer um medley."

"Fizemos um com as músicas do Journey naquela vez."

"Não foi bem um medley e nós perdemos" – Santana pontuou.

"Porque uma certa Shelby Corcoran decidiu fazer uma coreografia épica dentro de uma apresentação tecnicamente perfeita com o maior clássico dos Queen."

"Eu não vi a apresentação, lembra? Quinn estava parindo na hora."

"Eu o quê?" – minha esposa começou a prestar atenção tão logo ouviu o nome dela.

"Nada" – Santana e eu dissemos ao mesmo tempo.

Cinco minutos de intervalo entre o grupo de Toledo subiu ao palco. Esse tinha a configuração mínima de 12. Começaram com uma balada, bem ao estilo Novas Direções. A menina solista cantou Celine Dion e foi razoavelmente bem para uma música com boas dificuldades. Em seguida os garotos tomaram a frente para cantar um rap de Pittbull e depois finalizaram com Bruno Mars. Achei desencontrado.

"Esses caras foram finalistas das estaduais?" – Mercedes questionou ao lado de Quinn – "Nada bom. Nada bom."

Fiquei atenta para o terceiro grupo. Era simplesmente o Vocal Adrenalina, que tinha uma torcida bem mais modesta do que na minha época. Era o que a falta de títulos fazia. Vi o grupo de 24 integrantes, o maior entre os cinco finalistas, se posicionar. Os garotos estavam em ternos pretos e as garotas em vestidos pretos também elegantes, mas um tanto quanto insinuantes, eu diria. Havia uma mesa de DJ no fundo meio do palco e a batida começou. Mal acreditei. Jesse St. James estava fazendo Justin Timberlake. Começou com Rock Your Body. Coreografia perfeita, boa interação de vozes femininas e masculinas. Foi uma sensação quando um dos garotos começou a fazer beatbox no meio da música. Esse mesmo garoto apresentou o verdadeiro solista que começou a cantar Suit & Tie com um timbre muito parecido com o original. Era incrível. Havia até um integrante que não devia nada a Jay Z. Tinha a voz até mais forte. O arranjo foi impressionante e em nove minutos de apresentação houve a primeira grande ovação da noite.

"Uau, esses caras são mesmo muito bons" – ouvi Johnny comentar com Santana. Como ele estava na poltrona de trás, era como se tivesse falado comigo também.

"Agora são dois concorrentes fortes" – Artie, que estava ao lado de Santana, ponderou.

"E eles deixaram de ser autobots" – Santana completou.

Cinco minutos e o grupo de Westerville entrou no palco. Eram os velhos Warblers. Um grupo com 18 garotos, não usavam mais o uniforme (ao menos eles aprenderam a não se passarem por estudantes da Grifinória ano após ano). Como era de costume, ótimos vocais, alguma dança e a música pop do momento.

"Menos dois" – Quinn comentou.

"Tecnicamente eles foram muito bem" – rebati.

"Mas o repertório é um lixo."

Cinco minutos. Olhei para os meus velhos colegas de coral. Estavam todos ali. Na primeira fileira estavam Artie, Santana, eu, Quinn, Mercedes, Kurt, Finn, Puck e uma surpreendente magra Lauren. Atrás de nós, ao lado de Johnny, estavam Mike, Matt, Blaine, Brittany (com o filho no colo), Sam (e a noiva). Os outros relacionados, como o meu primo Julio, estavam em outros locais, assim como integrantes de outra geração. Inclusive os mais recentes campeões. Tinha uma menina chamada Marley Rose que foi a última solista campeã do Novas Direções. Era uma moça morena, alta, olhos azuis grandes. Bonita ela.

Todos nós nos entreolhamos e demos as mãos numa corrente a favor do senhor Schuester. Tinha certeza que ele e Tina estariam ansiosos assistindo tudo ao lado do palco. O grupo se posicionou de costas para o público. Até aí nada de novo. Um garoto virou-se e começou a cantar The Fixer, do Pearl Jam. O resto começou a cantar os iê, iê, iê e desenvolver as coreografias. Interessante. Na minha geração não havia um homem capaz de cantar rock de forma convincente. Puck tinha até a postura, mas estava longe de ter a força apropriada nos vocais. Achei que ficou bem à nossa tradição. A segunda música era uma inédita. Não sabia que o senhor Schuester continuava a investir nos compositores internos. Era um rock pop bem adolescente, mas que tinha lá o seu coração, como em Loser Like Me. Terminou com uma segunda canção inédita cantada pela garota que me pediu uma palavra para o grupo no camarim. Ela não era ruim, mas sinto dizer: era um tipo bem comum.

O Novas Direções fez uma apresentação muito boa. Como sempre, colocando o coração em primeiro lugar. Os organizadores anunciaram um intervalo de 20 minutos para a decisão dos jurados, que discutiriam tudo rapidamente numa sala fechada. Enquanto isso, música mecânica, um breve show de stand up comedy e as saídas ao banheiro.

"Não sei não. Os concorrentes foram bem" – Mike estava pessimista – "Por mais que eu torça por Tina e o senhor Schue, o Vocal Adrenalina foi excelente."

"É esperar para ver" – Finn concluiu.

A organização chamou os cinco grupos no palco com seus respectivos diretores. Warblers foi o quinto, o grupo das canções desencontradas foi o quarto. Eles deixaram o palco com um troféu de participação. O troféu do terceiro lugar era melhor e este ficou para o Novas Direções.

Foi um anti-climax. Se o Nova Direções ficasse em segundo lugar, poderia ao menos participar de uma repescagem para tentar entrar no grupo dos melhores segundos colocados dos outros estados, entre os seis que compõe a região de competição de Ohio que acontecia um dia antes das regionais. O Vocal Adrenalina ganhou e eu fiz questão de cumprimentar Jesse pelo trabalho extraordinário.

De qualquer maneira, todos nós nos dirigimos para William McKinley onde estava organizada uma recepção e o coquetel de despedida do senhor Schuester no ginásio do colégio. Quinn e eu fomos no velho carro de Judie e ainda demos carona a Santana e Johnny. Aliás, todos que estavam com namorados de longa data ou casados levaram seus respectivos para a confraternização. Sam estava noivo, Mercedes havia se casado com Julio, Brittany tinha um filho, Santana namorava firme com Johnny, eu e Quinn estávamos casadas, Tina também casou e já tinha um filhinho de um ano que adormeceu nos braços do marido dela. Ela se casou na faculdade e parecia muito bem. Eu brinquei um pouco com o filhinho dela. Era um garoto bonito que tinha os olhos puxados, cabelos pretos, lisos, mas era a cara do pai dele.

Fiquei imaginando como seria se Quinn e eu tivéssemos um filho biológico. Por meio milhão a gente poderia ir para a Alemanha e tentar dentro do programa científico desenvolvido por lá. Eu tinha esse dinheiro mensalmente graças as ações da Weiz Co. Mas Quinn não queria nem discutir. Disse que não tínhamos tempo para cuidar de uma criança e ainda éramos jovens demais, logo, nossa conversa não tinha ponto algum. Isso me frustrava.

Nem todos formaram uma família ou estavam à procura. Finn estava solteiro. Disse que teve uma namorada neste ano, mas que eles terminaram em comum acordo. Kurt estava enrolado com o David, mas evitava dizer que era um namorado. Blaine se dizia solteiro, Mike tinha uma mulher por semana, Artie estava solteiro, Puck também. Lauren também disse que estava à caça de alguém. Interessante é que só eu namorei e me casei com alguém da velha turma.

"É uma bela festa, não acha?" – Finn se aproximou num momento em que estava só.

"É sim, o senhor Schuester merece. Uma pena que o coral se despediu sem o título."

"Verdade" – ele acenou e ficamos a observar a turma por um momento. Os mais jovens procuravam interagir com os mais velhos, tiravam fotos, faziam pequenas brincadeiras – "É estranho ver Brittany com um filho. Até mesmo Tina. Dá mesmo a exata certeza de que estamos ficando velhos."

"Estamos mesmo. O tempo passa depressa. Puck e Mike já estão com 25 anos, eu e Santana vamos completar 24 em algumas semanas, Beth já tem sete anos, faz seis anos e meio que moro em Nova York e ganhamos o primeiro título, e há quase dois anos que estou casada com Quinn. Tudo isso aconteceu num estalar de dedos."

"Dá certa nostalgia você falar assim. Mas eu não gosto do nosso primeiro título em Nova York."

"Por quê?"

"Foi quando eu te perdi para ela" – apontou para Quinn, que conversava com Emma e Artie com um copo de champagne em mãos.

"Está enganado" – encarei Finn – "Você já tinha perdido antes, nas regionais em Cleveland. Foi quando Quinn me roubou um beijo e me fez apaixonar por ela. Até então, só existia você. Depois de Cleveland havia você e ela. Em Nova York ela tomou conta de mim por completo."

"Quinn foi muito mais esperta que imaginei."

"Talvez."

"Ao menos você está feliz, certo? Daqui a pouco vocês estarão como Tina e o marido: aumentando a família."

"Aumentar a família... talvez demore um pouco."

"Claro, tem a sua carreira..."

"Sabe que não é isso? Eu tenho uma carreira estabelecida, uma vida financeira estável. Não tenho impedimentos para aumentar a família."

"Então?"

"Eu gostaria de engravidar depois que terminar Slings and Arrows ano que vem, mas Quinn não quer nem conversa a respeito. Ela diz que somos jovens demais, mas eu não penso assim. Acho que o momento certo está chegando..." – encarei Finn que estava compenetrado e isso me deixou sem graça. Falei mais do que o necessário – "Desculpe te amolar com essa conversa chata."

"Não. Eu gosto de te ouvir falar a respeito. Acho bonito você querer ter um filho enquanto é jovem e cheia de energia."

"É..." – ficamos em silêncio.

"Eu não hesitaria, sabe?"

"O quê?"

"Se nós estivéssemos juntos e você dissesse que havia chegado a hora de aumentar a família, eu não hesitaria."

Acenei para Finn e fui até Santana, que conversava com Blaine e um garoto da geração posterior chamado Jake, que aparentemente namorava a menina que foi solista, Marley Rose. O grupo me recebeu com sorrisos. Não queria me unir a Quinn naquele instante porque sei que arrumaria uma forma de trazer o assunto da maternidade novamente e eu não gostaria de sair aborrecida.

"Rachel" – Kurt me chamou – "Estão nos chamando para tentar fazer Don't Stop Believen original. O que acha?"

Poderia se passar décadas que ainda assim eu seria capaz de fechar os olhos e recordar cada detalhe daquela primeira apresentação. Diante do estímulo adicional dos mais novos aceitei. Subimos no modesto palco em que a banda estava tocando num karaokê voluntário. Em pouco tempo Tina, Mercedes e Kurt começaram a vocalizar e Finn a cantar o primeiro verso. Artie pegou a guitarra e tudo aconteceu com uma fluidez incrível. Os vocais de Finn estavam falhos, destreinados, todo o resto sequer tinha feito aquecimento, mas nos arranjamos bem e saímos ovacionados. Finn me deu um abraço apertado ao final da apresentação. Éramos apenas sorrisos. Então olhei para o pequeno público, para Quinn. Estava de braços cruzados e eu sabia que ela não gostou nada da demonstração final de afeto.



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