Março de 2018

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02 de março de 2018

(Quinn)

“Hoje você está particularmente para baixo” – Irina disse com a ponta da caneta nos lábios. Odiava quando ela fazia isso passava a impressão mais profissional, de distanciamento. Era nesses pequenos gestos que tinha a certeza que lidava com a minha psicóloga, uma profissional distanciada, e não com uma velha conhecida que eu podia conversar sobre tudo.

“Terry me mandou chamar novamente para o escritório da Bad Things.”

“Por quê?”

“A série The Project foi cancelada pela ABC.”

“Desculpe a ignorância, mas a empresa que você trabalha não pode continuar o projeto?”

“Poderiam, mas não vai rolar. Os caciques da Bad Things decidiram não investir mais nesse projeto e encerrá-lo assim que o último episódio for gravado. Eles estão com um longa-metragem em pré-produção e ninguém quis ir atrás de outros veículos, como a Netflix para salvar a série.”

“Assisti alguns episódios. Confesso que foi por sua causa. Achava interessante. Era muito bem feita.”

“Sim, era. Aliás, como tudo que é feito na Bad Things. Existe lá dentro uma norma de padrão de qualidade seguida à risca. Para se ter uma idéia, a empresa hoje está num patamar que ela rejeita contas com potencial de atrapalhar o andamento dos demais trabalhos em curso. Tudo que a Bad Things faz é com produção de primeira. Uma série pode ter péssimos atores, roteiristas razoáveis, ou um diretor de merda. Mas a produção é sempre um primor.”

“Por que a série foi cancelada?”

“Decisão da ABC. A audiência era razoável suficiente para o projeto seguir por mais uma temporada, mas até onde sei, a ABC condicionou a renovação da série mediante a um corte significativo no orçamento. A Bad Things não concordou porque, segundo Gary, isso implicaria em corte nos salários, demissões e sobrecarregar os profissionais de um modo não aceitável. A produção também teria de ser simplificada, o que para um cara que tem formação em direção de arte é quase um insulto. Barbra ratificou a argumentação de Gary, não por causa dos cortes, mas por causa do estreitamento da margem de lucro da Bad Things com a série. Entre fazer algo menor, mas continuar, ou decepar tudo de uma vez, eles optaram pela opção mais pragmática.”

“Você ficou decepcionada mais com a Bad Things do que com a ABC, correto?”

“Por aí. O que mais me revoltou é que eles sequer me deixaram participar das gravações dos dois últimos episódios. Gary mandou me desligar da equipe nessa semana. Ontem foi o meu último dia junto com o pessoal” – limpei uma lágrima. Já tinha chorado o suficiente quando me despedi do elenco e das pessoas que trabalhavam diretamente comigo, em especial os que não eram funcionários da Bad Things.

“Por que eles não deixaram? Alguma reclamação com o seu trabalho?”

“Não até onde sei. Há um contrato para fazer uma série de filmes institucionais para a GM e a equipe que for montada vai passar umas três semanas em Detroit. Tudo indica que eu estou nessa equipe, pelo que Terry me informou. A reunião é nessa segunda e acho que já vou ter que viajar junto com o diretor encarregado na quinta-feira para dar início à produção.”

“Você pensa que fracassou por ser desligada de um projeto que não tinha mais futuro para ser incluída em outro?”

“Não sei, doutora. Só sei que a sensação é amarga. Como se estivesse apreciando um pedaço de bolo, até que alguém tira a fatia que nem tinha terminado e me manda comer um prato de rúcula.”

“Ouvir você falando desse jeito, me soa como se a empresa tivesse te punindo, Quinn. Você realmente acredita que seja isso?”

“Eu não sei.”

“A GM me parece ser uma conta importante para a Bad Things.”

“É uma das maiores contas, para falar a verdade.”

“Não me parece que eles iriam colocar profissionais descompromissados para cuidar de algo tão importante, concorda?”

“Acho que não” – eu sabia, lá no fundo que estava reagindo mal – “Mas o prazer que se tem em fazer um trabalho não se compara com o outro.”

“Quinn, até entendo que o prazer que se tem nesses trabalhos é algo distinto, mas ainda não consegui enxergar o problema que envolve a sua pessoa. Pelo que me contou aqui, a empresa te valoriza o suficiente para confiar a você um projeto importante, mesmo que isso significasse te tirar de algo que gostava, mas que já era um produto descartado. Projetos são assim: até mesmo aqueles mais bem-sucedidos estão fadados a ter um fim algum dia. Sei que é difícil desligar deles, sobretudo quando se há grande envolvimento emocional, mas aqui estamos nós para trabalhar esse desapego.”

“Não era tão apegada assim à série” – olhei para a bolinha em minhas mãos – “Quer dizer, eu era... mas acho que seria mais fácil se a gente tivesse saído por cima.”

“Então a sua bronca maior foi por conta do fracasso do projeto e nem tanto pelo seu desligamento precoce” – era uma afirmação e Irina relaxou na poltrona como se tivesse satisfeita por ter encontrado o meu problema, ou algo assim. Eu a odiava por isso. Odiava mesmo – “Precisa entender que essas coisas não são pessoais, Quinn.”

“É, mas era algo que meu nome estava incluso, meu suor e não posso negar que a sensação do fracasso me atingiu em cheio.”

“Isso não é de agora, ou por causa dessa série em específico. Você não lida bem com esse tipo de revés de modo geral.”

“Eu fui criada para ser uma vencedora, doutora. Não é fácil lidar com fracassos, apesar de já ter passado por vários deles.”

“Seus pais sempre foram exigentes quanto a ser um vencedor, correto?”

“Desde que me entendo por gente” – suspirei.

“Como isso acontecia? O que seus pais diziam a você e a sua irmã?”

“Da importância de sermos modelos para os outros, de só andar com vencedores como nós, gente que valesse à pena. Minha mãe foi cheerio na época dela, foi a rainha do baile, fazia trabalhos de caridade na cidade, casou-se com um homem que nasceu rico, filho de banqueiro, serviu o exército antes de entrar na faculdade. Você sabe: modelos ideais. Heterossexuais, brancos, tradicionais. Meu pai sempre foi exigente comigo e com Frannie. Tínhamos de tirar boas notas, entrar no quatro de honra, ser atléticas, namorar os caras certos, ter amizades aceitáveis, liderar, vencer. Um desvio, um vacilo e meu pai nos apresentava a uma palmatória de madeira que guardava no escritório dele em nossa casa para nos lembrar como o fracasso podia ser doloroso.”

“A surra era o preço da falha” – Irina franziu a testa.

“Basicamente. Nas falhas que ele considerava menos graves ele batia na palma de nossas mãos. Nas mais graves, ele mandava subir o vestido e se inclinar.”

“Quinn...” – senti que Irina pisou em ovos nesse momento – “O seu pai, por um acaso tocava em você durante essas punições? Você chegou a sofrer constrangimentos?”

“Oh não doutora” – me aprecei em esclarecer – “Meu pai é muita coisa: é um homem machista, orgulhoso, conservador, cheio de idéias preconceituosas, mas ele nunca encostou a mão em mim ou em Frannie com esse propósito, eu lhe asseguro. Ele nunca me tocou de forma sexual. Meu pai não é um estuprador. Nem ele, nem a minha mãe. O que acontecia nesses momentos em que ele mandava levantar o vestido e me inclinar com as mãos apoiadas na mesa era para contar a quantidade de vezes que ele surraria meu traseiro com a palmatória.”

“Ainda assim, isso não foi correto da parte dele, Quinn. Isso é uma forma de abuso.”

“Sei disso, doutora, mas ainda acho que isso é nada perto das coisas que gente costuma ver nos noticiários populares. Como os pais que estupram as filhas, as mantém cativas, fazem outros filhos nelas para serem abusados também. Meu pai nunca me tocou dessa forma. Ele brigava conosco se nos visse sentadas no colo de qualquer outro homem, até do nosso avô Penn, que era pastor. Quando era criança, meu pai dizia que podia conversar, brincar, contar piadas, mas jamais ficar sozinha com homens mais velhos. Na época eu não entendia, não tinha a malícia, mas hoje eu sei que ele estava certo em ter esse cuidado apesar de alguns exageros aqui e ali. Meu pai tinha uma política rigorosa quanto a namoros também. Pelo menos em teoria.”

“Em teoria?”

“Ir a bailes e sair com rapazes só depois dos 14 anos. Era proibido levar namorado para o quarto, mas quando Frannie quebrou essa regra, veio outra nova de que a porta do quarto teria de permanecer aberta. Minha mãe rezava uma missa para nós sobre a importância da castidade, mas isso não evitou que Frannie perdesse a virgindade aos 15 anos. Acho que quando as coisas começaram a acontecer com minha irmã, meu pai, que não é um tolo e sabe que adolescentes têm hormônios fortes, passou a fazer vista grossa. Desde que a gente não engravidasse ou não fôssemos pegas em situação constrangedora, estava tudo certo. Claro que, da boca para fora, a gente ainda fingia ser a família imaculada de sempre.”

“Até você engravidar.”

“É. Eu falhei e fui punida da pior forma possível. Quando Finn contou a eles que estava grávida naquele jantar desastroso, eu era a imagem do completo fracasso, como se não servisse mais para ser uma Fabray. O orgulho do meu pai foi mortalmente ferido e ele não me perdoou. Às vezes penso que se a escola inteira não tivesse sabido antes dos meus pais, eles teriam agendado um aborto secreto e essa sujeira seria jogada para debaixo do tapete. Claro que quando olho para Beth hoje, essa teoria me enoja e penso que talvez as coisas aconteceram exatamente como tinham de acontecer. Eu provei para o meu pai que não era um fracasso, que era uma Fabray, apesar de ter personificado tudo que ele repudiava: gays, latinos, judeus e democratas de esquerda.”

“Achei que você fosse republicana.”

“E sou. Mas é que Rachel é judia, tem descendência latina e é democrata de esquerda. Como somos casadas...” – Iria soltou uma gargalhada, que logo foi contida.

“Você percebeu o que o suposto fracasso te levou?”

“Como?”

“O que considerou um fracasso foi também força motriz para que se superasse e provou de que na verdade você se superou. Não nos termos da sua família, mas nos seus próprios. Isso é algo que pode se orgulhar para a vida e também é a lição e a experiência adquiridas que deveria se apoiar. Infelizmente, as decepções e supostos fracassos fazem parte da vida de todos nós. Não há imunidade para as provas que a vida coloca em nossa frente. Há aqueles que desanimam e ficam pelo caminho. Há aqueles que choram e se desesperam. Há aqueles que culpam quem tem nada com isso para justificar o revés. Mas há aqueles que na dificuldade aprendem a lição a ser tirada e seguem em frente. Olha para a sua vida, Quinn. Olha o longo caminho que percorreu até aqui. Olha para todos os obstáculos pelos quais passou e a forma como você os ultrapassou. Acha realmente que uma mudança no seu trabalho é tão impactante ou importante assim perto de tudo? Você não perdeu o seu emprego, ninguém feriu o seu orgulho. Onde está o fracasso? Onde está a mancha no seu currículo? Numa série que foi cancelada num desacordo? Mas o seu trabalho nela não foi elogiado? Não deveria sentir-se feliz pelo dever cumprido, pelo trabalho bem realizado de sua parte? Entendo que por vezes pessoas que passaram por provas muito duras, como foi o seu caso, podem se sentir no direito de reclamar. Sei que temos direito de ficar chateados mesmo pelas questões mais bobas. Mas cá entre nós, não acha que exagerou?”

Fiquei em silêncio diante desse puxão de orelha.

“É que às vezes...” – recomecei sem jeito – “Quando acho que fracassei em algo, é como se sentisse aqueles golpes da palmatória.”

Iria olhou-me com surpresa e depois voltou-se para o tablet, como se fosse um recurso para não me encarar naquele momento.

“Nós vamos trabalhar nisso, Quinn. Mas quero que você deixe o consultório com isso bem claro em sua mente: não é uma fracassada, mesmo que perca algumas partidas desse jogo da vida. Porque não é o dinheiro, a fama ou o sucesso profissional, a beleza, a esperteza, ou quaisquer outras habilidades especiais que faz de uma pessoa ser uma vencedora. É a sua integridade. Você entendeu isso, Quinn?” – acenei – “Ótimo. Encare esse novo trabalho de forma positiva e esteja aberta para a nova experiência. Talvez você goste de fazer esses vídeos. Talvez eles possam conter outra lição valiosa.”

...

03 de março de 2018

(Santana)

Olhei para o relógio. Ainda faltavam dez minutos para o horário combinado. Eu já estava sentada no Starbucks próximo ao campus da NYU no Brooklin há alguns minutos. Meu cappuccino estava em mãos, assim como meus bagels para acompanhar. Estava ansiosa. Muito, mas era a decisão certa.

“Em toda a minha vida, nunca cheguei depois de uma dama num encontro” – Lionel me surpreendeu ao me dar um selinho nos lábios antes de sentar-se na cadeira à minha frente. Não tinha o visto chegar de tão perdida que estava nos meus pensamentos – “É uma honra ter Santana Berry-Lopez no Brooklin.”

“Eu morei no Brooklin e muitos dos meus bons amigos ainda moram aqui. Eu não sou dessas afetadas de Upper Side” – dei uma de ofendida. Lionel acenou, mas não sorriu. Era um sujeito muito espero e já devia ter sacado que não estava ali para namorar. Não depois de presenciar a cena que Johnny fez no início da semana.

Não que o Johnny tivesse feito uma cena propriamente dita. Meu Johnny Boy não era disso, mas dentro do jeito dele, pode-se dizer que foi um desses momentos definidores. Naquele dia ele tinha chegado cedo na minha casa e pegou Rachel de saída para o teatro. Os dois conversaram rapidamente e minha irmã achou que fosse uma boa idéia deixá-lo lá dentro para esperar para falar comigo. O que Johnny não esperava é que eu chegasse em casa acompanhada de Lionel. Então ele olhou para mim, disse que havia terminado com Laura e que estava ali só para me informar. Pediu licença e foi embora. Lionel perguntou o que havia sido aquilo, mas tudo que fiz foi pegar um box de Dr. Who e assisti sem realmente prestar atenção. Minha cabeça estava um turbilhão. Mal acreditava que a notícia que mais queria ouvir veio num momento em que eu ensaiava tentar seguir adiante. Não falei com Johnny após esse dia.

“Então, vamos falar o que interessa?” – ele forçou um sorriso.

“Não vai pedir nada antes?”

“Santana, por mais que deseje que você esteja aqui por ser uma pessoa excêntrica suficiente para me encontrar num Starbucks próximo a minha casa quando há uma unidade dessa rede há poucos quarteirões da sua casa, sei que esse não é o caso e que possivelmente eu vou sair daqui com o coração partido.”

“Quem disse que eu vou terminar?” – fiquei na defensiva por um reflexo – “Eu posso simplesmente querer passar um tempo contigo tomando café.”

“Eu tenho exatamente 35 dólares no bolso e aposto esses mesmos 35 de que você veio aqui para terminar. Se você quisesse simplesmente passar um tempo comigo, teria ido ao meu apartamento em vez de ter escolhido um lugar impessoal próximo da minha casa.”

“Você é bom” – gesticulei apontando para Lionel e depois o encarei – “Não está chateado?”

“Não se engane, eu estou. Mas vamos ser francos aqui: só o fato de você ter me dado bola já foi bom demais para ser verdade. Confesso que estava mais inflado que um balão até que aquele seu ex-namorado nos surpreendeu na sua casa naquele dia. Ali eu vi que perdi. Que era questão de tempo para você me dar um pé na bunda.”

“Eu sinto muito, de verdade.”

“Johnny... ele é o seu cara, não é?”

“É sim” – respondi com firmeza.

“Vocês estão juntos agora?”

“Ainda não.”

“O que impede?”

“Agora? Ninguém, além de nós mesmos.”

“Boa sorte, Santana Berry-Lopez, e obrigado pela consideração.”

Se todos os rompimentos fossem assim, o mundo seria maravilhoso. Convenhamos, isso só foi possível porque não houve tempo ou abertura suficiente para que Lionel e eu criássemos laços emocionais duradouros ou profundos. Ele foi só um cara legal que teve a sorte comigo por algum tempo. Ainda na cafeteria, demos um breve beijo de despedida e eu fui embora em meu carro. Tinha um endereço em mãos anotado num pedaço de papel amassado: Burough Park, 1446 41th street, segundo andar.

Liguei o carro e também o rádio. Estava determinada. Aumentei o volume. Nos auto-falantes saiam a voz de Joe Strummer e com ele eu cantava.

“Darling you’ve got to let me know/ should i stay or should i go?/ if you say that you are mine/ i’ll be here til the end of time/ so you got to let me know/ should i stay or should i go?”

Cheguei à rua em questão. Nada além de um típico bairro do Brooklin: calçadas mais largas, prédios pequenos e antigos, algumas grades nas janelas, limpeza urbana falha, grande mistura econômica. O prédio em questão era o um dos mais feios e estreitos daquela rua. Logo se notava que não passava de um lugar que fornecia um quarto, banheiro, cozinha e sala pequenos e estreitos. Subi as escadas, e bati à porta. Meu coração palpitava como um maluco no meu peito. Mas não encontrei resposta. Bati novamente e nada. Suspirei. Esse era o risco de ir à casa de alguém sem ao menos avisar: corre-se o risco de encontrar a porta fechada.

Anti-clima.

Sentei-me na escada e peguei o meu celular. Olhei para a agenda, para os nomes que ali estavam registrados. Seguindo o mote da música, não sabia se ligava ou não.

“Bom dia” – olhei para cima, em direção às escadas, e vi uma garotinha negra que devia ter cinco ou seis anos. Era meio rechonchuda e os cabelos estavam amarrados em vários coquezinhos presos em elásticos coloridos.

“Oi” – respondi.

“Tá perdida?” – a menininha desceu mais um degrau.

“Não... é que eu estou esperando um amigo que mora nesse apartamento.”

“O que se mudou para cá a pouco tempo?” – acenei – “Eu acho ele bonito, mas a minha mãe disse que ele tem jeito de ser traficante porque tem tatuagem e teve um dia que chegou bêbado.”

“Mesmo? Mas isso é muito triste.”

“Minha mãe não deixa eu falar com ele.”

“Bom, ele não é traficante ou bandido. Na verdade é um cara muito legal. Acho que ele bebeu um dia porque devia estar se sentido triste por causa dessas coisas de adulto.”

“Você é a namorada dele?” – desceu mais dois degraus.

“Talvez.”

“Você é bonita.”

“Obrigada” – sorri. Acho que devia ter sangue doce para crianças – “Também te acho bonita.”

“Kelly!” – uma voz enfática veio do andar de cima.

A menininha se assustou e subiu as escadas. Sequer disse tchau. Voltei a minha solidão nas escadarias e ao meu impasse: ligar ou não ligar.

“Santana?” – meu perdeu a importância.

“Oi Johnny” – levantei-me da escada. Johnny segurava uma sacola de mercado com algumas compras. Era possível ver a caixa de cereal e as maçãs que ele tanto gostava.

“Por que não disse que viria? Eu poderia ter arrumado as coisas e com certeza você não teria de esperar sentada nessa escada” – passou por mim sem jeito e destrancou a porta – “O lugar está uma zona. Não tive tempo de arrumar as coisas.”

Entrei no apartamento logo atrás de Johnny que só tinha caixas de papelão espalhadas, uma cadeira e uma mesa velhos com o computador em cima. Mesmo que tivesse avisado, não acho que ali tinha alguma coisa para ser arrumado.

“Não repare” – ele estava sem graça.

“Não se pode negar que o lugar é um avanço perto daquele muquifo que você morava em Nova Jersey. Pelo menos agora o seu quarto está separado da sala por uma parede.”

“Agora você está sendo cruel” – ele deixou as compras no balcão que dividia a sala da cozinha.

“Nem tanto.”

“O que veio fazer aqui, San?”

“Fazer a mesma coisa que você fez no início dessa semana. Vim te avisar que eu terminei com Lionel” – Johnny acenou e encostou-se ao balcão – “Vai dizer nada?” – aproximei-me devagar.

“Faltam palavras” – ele falou com sinceridade tão absurda que eu disparei a rir.

Foi só então que Johnny relaxou. Ele aproximou-se de mim, colocou as mãos na minha cintura.

“Não vai ser tão fácil, San. A gente tem muito que colocar em ordem.”

“A gente discute a respeito mais tarde” – disse já sentindo a respiração quente dele no meu rosto.

Nossos lábios se tocaram pela primeira vez depois de quase um ano e foi incrível. Pura eletricidade. O beijo que começou tenro, progrediu para uma carícia passional em pouco tempo. Logo nossas mãos passeavam pelos corpos um do outro. Senti as mãos firmes de Johnny nos meus seios, enquanto eu não me fazia de rogada em sentir os músculos das costas e também o traseiro firme. Minhas mãos encontraram o limite da camiseta de Johnny e eu puxei o tecido para cima. Ele entendeu e tirou a camiseta. Parei por um instante para apreciar o corpo que tanto adorava. Johnny estava mais magro, mas ainda conservava o bom físico, os músculos abdominais discretos, o tórax bem definido, os ombros largos, os braços fortes. Era lindo. Simplesmente lindo.

“Tem camisinha?” – sussurrei no ouvido dele. Fazia quase um ano que não tomava a pílula.

Johnny acenou e continuou com as carícias que me deixavam tonta de prazer. Por mais que tenha estado com Izabella e com Lionel nesse período, não se comparava com a intimidade, com a troca, com o amor que existia entre eu e meu Johnny Boy. Ele me ergueu e eu lacei a cintura dele com minhas pernas. Assim fui conduzida até o quarto que só tinha a cama para contar a história.

“Um minuto” – ele saiu do quarto correndo e eu o observei ali, sentada na cama. Ele foi até a uma mochila que estava na sala e a abriu. Pegou alguma coisa lá dentro: camisinha. Voltou para mim com a mesma pressa.

Tivemos uma breve batalha para nos despirmos. Eu queria abrir o cinto dele e a calça com urgência. Ele queria tirar a minha camiseta e meu sutiã. Rimos por causa das mãos ansiosas, desencontradas, atrapalhadas, trêmulas. Por fim ele desistiu de tirar minha blusa e se concentrou na parte de baixo da minha roupa. Abriu o meu cinto, tirou a minha calça junto com a calcinha e beijou o meu sexo. Quase explodi nesse momento. Johnny me deixou no limite, até que eu puxei os cabelos dele e o forcei a olhar para mim.

“Quero você . Agora” – disse urgente, ofegante.

“É para já, princesa.”

Ele desceu o zíper da calça e expôs o membro ereto, firme, duro. Eu levei minha mão esquerda ao pênis e o provei, chupando e lambendo a cabeça enquanto minha mão fazia movimentos de vai e vem.

“San...” – senti que Johnny também estava muito próximo.

Parei minha estimulação e peguei a camisinha. Fiz questão de colocar a proteção.

Johnny parou por um instante, acariciou o meu rosto e me deu um leve beijo.

“Eu te amo, San. Você não imagina quanto” – disse olhando nos meus olhos.

Então senti a delícia da penetração. Prendi minhas pernas ao redor da cintura dele enquanto Johnny fazia movimentos rápidos e firmes dentro de mim. O orgasmo veio forte, rápido. Vi estrelas. Senti Johnny pesar sobre mim, ele também estava relaxado, com a cabeça entre meu ombro e pescoço. Então ele disse algo que não entendi.

“O quê?” – dei um tapinha nas costas dele reforçando meu pedido para que ele repetisse.

“Deu cãibra. Na minha panturrilha. Cãibra” – ele rolou para o lado e começou a resmungar, como se chorasse baixinho.

Achei a situação tão absurda que comecei a rir. A gargalhar.

“Não ria” – disse como um menino chorão – “Não tem graça.”

“Você tem cãibra no momento em que a gente fica junto de novo e quer que eu não ria?”

“Não seja má!”

“Você deveria comer uma banana.”

“Do jeito que você fala, soa muito sujo, San.”

“Talvez seja...ai!” – ele começou a tentar fazer cosquinha em mim, mas não durou muito pois logo resmungou com a dor, que deu a vantagem de eu ficar por cima – “Aprendeu a não dar golpes baixos?”

“Talvez se eu comer uma bananinha, a cãibra passe” – ele disse malicioso.

“Isso é só papo, John Edward Hall Jr? Ou você vai cumprir?”

“Se você sentar um pouco mais para cima...”

Beijei-o na boca com paixão. Era impressionante como a gente reencontrava momentos felizes quase que instantaneamente quando estávamos com a pessoa certa ao nosso lado.

...

26 de março de 2018

(Rachel)

Santana resmungava demais. Eu só pedi para que ela passasse o dia fazendo mais alguns dos vocais para o meu EP. Não tenho culpa que a voz dela harmonizava perfeitamente com a minha. Claro que a minha esposa tem um timbre de voz lindo, apesar da pouca extensão e do pouco treino. Minha mãe também é uma grande cantora, mas francamente, quando fazemos duetos, a gente mais rivaliza do que estabelece uma parceria. Acho o timbre de voz da minha irmã simplesmente lindo. E quando pega para fazer a segunda voz, não há quem faça melhor do que ela. Ou era Santana ou duplicar a minha voz. Também pensei numa voz masculina, e Josh Solano, que era uma das minhas opções favoritas, aceitou fazer numa canção.

Kurt? Ele ficou enciumado quando não o convidei. Em minha defesa, Tony o escutou e disse que não ficaria bem dentro do trabalho que estávamos desenvolvendo. Kurt era uma diva e duas divas não cabiam no projeto. Além disso, ele sabia tocar instrumento algum. Eu o convidei para assistir a uma das gravações, num momento em que Tony e eu trabalhávamos na lapidação de uma das letras. Kurt também se mostrou pouco hábil.

“Ainda acho que essa música é adolescente demais” – Santana estava do estúdio com o fone no ouvido e a letra de Get It Right em mãos.

“Loser Like Me é adolescente demais” – respondi pelo microfone. Estava ao lado de Tony na bancada da mesa de canais. Johnny e Danna riam e conversavam no sofá – “Anda logo, Santy.”

Tony soltou o áudio da gravação da música mais ou menos no ponto em que Santana deveria gravar a parte dela. Observei a minha irmã através do vidro. Santana tinha o fone enorme no ouvido, balançava a cabeça e inclinou-se um pouco à frente na parte em que teria de fazer a segunda voz. Posso ser a pessoa mais besta e sentimental do mundo, mas senti um orgulho danado em vê-la trabalhando novamente em algo relacionado à música e à arte.

“Cause i can’t go back and undo this” – mais um verso e ela cantou mais uma vez – “But if i get stronger and wiser/ I’ll get through this” – e cantou o refrão no tom correto. Estava orgulhosa do resultado.

“Opa peraí” – Santana parou de cantar no meio do refrão.

“O que foi?” – Tony falou ao microfone.

“Eu dei uma engasgada. Dá para fazer o refrão de novo?”

“Ok” – Tony manejou o software que usava para gravar o meu EP – “Vai lá.”

Estava tão concentrada no trabalho que minha irmã fazia que levei um susto quando Johnny me cutucou com o celular de Santana. Olhei para ele e franzi a testa. Às vezes não acreditava que ele e minha irmã tinham voltado. Eu via os dois tão bem, brincando lá em casa, cozinhando juntos, contando piadas. Era como um casal novo de namorados, como se eles tivessem dado a chance para si mesmos de um novo começo.

“É o advogado. Ele disse que você poderia atendê-lo.”

“Ok” – peguei o celular e levantei-me da cadeira enquanto minha irmã continuava a trabalhar – “Senhor White? Aqui é Rachel. Você precisa falar com a minha irmã?”

“Preciso sim, mas posso adiantar o assunto contigo, já que é parte interessada.”

“Pois não? O que houve?”

“O senhor Weiz está em Nova York e gostaria de ter um encontro com vocês duas ainda hoje.”

“Qual a urgência?”

“Ele quer sacramentar a divisão de bens ainda em vida e precisa estar com vocês para a assinatura dos papéis. Ele solicita um encontro com você e sua irmã na residência dele em Kings Point. Às duas tarde está bom para as duas?”

“Tudo bem, mas ainda pergunto qual a urgência?”

“Eu não estou autorizado a adiantar as razões para as duas. Ele mesmo quer conversar com as duas.”

“Tudo bem, estaremos lá.”

Desliguei o celular e olhei para o relógio. Eram quase dez da manhã. Tony conversava com Santana no trabalho de produtor que lhe cabia. Danna dedilhava baixinho o baixo no sofá, mas Johnny olhava para mim ansioso.

“Então?”

“O senhor Weiz está na cidade que quer falar comigo e com Santy.”

Esperei Santana terminar Get It Right e sair do estúdio para dar a notícia. Minha irmã perguntou se ainda dava tempo de fazer a segunda voz em Innocent, uma canção que fiz sobre a chegada de alguém cru ao mundo adulto. Era uma metáfora da minha própria história com Nova York. Do jeito que ela encarou a notícia com naturalidade, acho que ela estava muito mais preparada para tal momento do que eu.

Após as gravações, demos uma passada em casa e tomamos um banho. Foi nesse meio tempo que Quinn me ligou para dizer que estava tudo bem em Detroit e que voltaria a Nova York no fim da semana. Foi a viagem mais a contragosto que eu a vi fazer. Contudo, as coisas pareciam caminhar bem. Ela não estava tão desesperada para vir embora, pelo menos. Próximo da uma da tarde, Santana e eu estávamos arrumadas. Ela com um vestido elegante que ia até o comprimento dos joelhos. Parecia uma autêntica executiva. Só faltou óculos e prender o cabelo num coque. Também me arrumei bem e não fiquei atrás. Escolhi uma blusa de tecido suave e uma saia. O salto era alto, o meu maior do que o de Santana. Entramos no meu carro (mesmo assim era sempre Santana que ia ao volante) e pegamos a rodovia via Queens Midtown Tunnel e seguimos a rodovia que cortava a região até a entrada em Long Island. Kings Point era vizinho ao Queens, e abrigava mansões dos ricos de Nova York. Fazia muito tempo que não pisava os pés ali e não senti falta.

Assim que estacionamos o carro em frente à mansão do senhor Weiz, fomos recepcionadas pelo próprio Richard White.

“Bem vindas, meninas. O senhor Weiz as aguarda no escritório.”

Acenamos. A casa estava mais vazia do que me lembrava. Já não havia a amante do senhor Weiz para nos dar um sorriso, ou os empregados passando aqui e ali. A casa estava ocupada por um caseiro e alguém que parecia ser um enfermeiro. Estranhei. Presumi que a saúde do senhor Weiz tivesse decaído consideravelmente para ele querer tratar da divisão de bens naquele instante. Fiquei ansiosa para vê-lo. Fazia mais de um ano. Sabia que o senhor Weiz esteve em Nova York em agosto para participar do festival de música. Chegou e foi embora de helicóptero, mas eu não o vi. Santana disse que ele só trocou duas frases com ela na ocasião e que tinha ar cansado. Fora isso, ela só conversava com ele através de uma tela.

Por tudo isso, me espantou quando vimos a imagem de um senhor bastante envelhecido com um tanque de oxigênio ao lado e a mangueirinha no nariz. Pela reação de Santana, ela também não esperava vê-lo daquela forma.

“Boa tarde, meninas. Sentem-se” – vocês já estão familiarizadas com Richard e esse turco aqui ao lado é Jeremias Ahab, o escrivão do meu cartório de confiança. Cumprimentamos Weiz e o escrivão antes de nos sentar.

“O que houve?” – Santana soou legitimamente preocupada.

“Sou um idoso, Santana. Tenho problemas de gente idosa” – respondeu com péssimo humor.

“Desculpe senhor Weiz, mas...”

“Poupe-me de lamentos, Santana” – ele foi tão rude que eu quase me levantei para sacudir esse velho para ele ter mais respeito – “A questão é que faz alguns anos que luto contra um câncer. Ele surgiu no meu intestino há cerca de dez. Recebi o melhor tratamento que o meu dinheiro poderia pagar. Mas há cerca de dois anos soube que a doença voltou, e ela agora está no meu fígado. É uma questão de tempo. Em um mês vou estar tão debilitado que provavelmente não estarei habilitado para fazer isso. Talvez não esteja sequer lúcido. Por isso, conforme Richard adiantou, decidi fazer tudo que tinha de fazer em relação às duas agora. E Ainda me divertir um pouco olhando para vocês.”

“O quê?” – disparei irritada.

“Estou velho em estado terminal, Rachel. Tenho permissão para ser grosso e mal-criado como bem entender” – ele disse enquanto Richard White nos passou duas pastas. Santana a abriu imediatamente e começou a folhear o conteúdo. Eu tive receio.

“É uma lista interessante” – Santana começou a folhear. Sempre invejava o modo como ela se portava nas mesas de negociação. Parecia que nada no mundo a intimidaria.

Ainda com receio, abri a minha pasta. A primeira página era uma folha normal com alguns itens escritos. O primeiro falava em ações, seguida de três imóveis, incluindo o endereço em que estávamos. As outras páginas tratavam de documentos que não entendia. Pareciam escrituras, documentos de escritório. Nada que fizesse muito sentido para mim. Mas pela concentração que Santana analisava tudo, presumi que ela estava ciente de todas aquelas letras miúdas.

“Ajuda?” – disse baixinho. Santana me olhou com os olhos apertados. Estava forçando a visão sem os óculos de leitura. Devia ser um incômodo.

Ela pegou a minha pasta, leu a página inicial e folheou o restante. Então encarou o senhor Weiz.

“É isso?” – ela perguntou e recebeu um aceno como resposta – “Por que a diferença?”

“Em primeiro lugar” – senhor Weiz começou – “Trabalho com a questão do mérito. Foi assim que o meu avô fez com meu pai e, e foi assim que meu pai fez comigo e meus irmãos. Segundo, como existem complicações em nossa família, a partilha de bens foi direcionada dessa forma para garantir que minhas coisas não caíssem em mãos indesejadas. Como sabem, eu tive uma irmã que se mudou para a Georgia quando se casou com um fazendeiro. Ela morreu e deixou meus três sobrinhos-netos vagabundos e oportunistas. Richard e eu trabalhamos formas para que tenha valido o meu suor fosse parar nas mãos daqueles charlatões. Rachel é a minha única herdeira biológica direta. É fácil de se provar na justiça, e acredite que eu tenho provas para fazer tal afirmação, contudo isso causaria um terrível estrago na vida de vocês e de Sarah. Pode me chamar de sentimental, mas não quero morrer sabendo que iria causar tantos danos mais à Joel.”

“Meios de provar?” – questionei.

“Significa que eu tenho exames de DNA para provar que você, Rachel Bery-Lopez Fabray, é a minha única herdeira biológica. Santana também teria direitos por ser legalmente adotada por Hiram.”

“Exames de DNA?” – ainda estava confusa – “Como o senhor obteve esses exames se eu mesma nunca solicitei nenhum?”

“Você se surpreenderia com o que acontece quando vai ao médico fazer o seu check-up anual.”

Santana acompanhava a conversa com o cenho fechado. Sabia que ela tentava se conter o máximo que podia. Se o assunto me assustava, imagine para ela, que sempre fez da nossa família um lugar sagrado. Não é que Weiz tivesse contado alguma novidade. Eu sempre soube que Santana era filha biológica do meu pai, Juan, embora ainda tivesse algumas dúvidas quanto a mim. Mas eu, minha irmã e nossos pais concordamos em não fazer exames de DNA porque não importava para nós de quem foi o esperma que ganhou a corrida. O senhor Weiz com uma simples informação quebrou tudo isso. Era de causar ira.

“Ok” – Santana disse com o tom de voz baixo, controlado – “Ainda assim, pelo que consta nesse papel, eu passaria a ser titular de 30% das ações da Weiz Co., mas o senhor está dando a Rachel apenas 10%, sendo que a sua porcentagem dentro da empresa é de 45%, o que faz do senhor o sócio majoritário. Quem vai receber os outros 5%?”

“Richard merece a parte dele” – Weiz disse seco – “Além do mais, 40% ainda dá a você o controle da Weiz.”

“Como assim 40%?” – questionei.

“Pressupondo que você me dê uma procuração para cuidar dos seus interesses lá dentro. Nós, como uma unidade, teríamos o controle, apesar das decisões caberem a mim” – Santana explicou e aquilo me pareceu lógico. O senhor Weiz sabia que poderia me dar um mundo de ações que eu não saberia o que fazer com elas. Era um passo lógico eu entregar a administração desses bens para a minha irmã. Eu o faria de olhos fechados – “Ainda assim, porque não dar 20 e 20?”

“Rachel por um acaso conhece qualquer coisa sobre como funciona a Weiz Co.?” – balancei negativamente a cabeça – “Eis a minha resposta. Estamos falando de méritos, Santana. Eu procurei preparar você para assumir o meu legado e chegou o momento. Tudo que eu tenho de mais precioso em termos materiais construídos pela minha família está em suas mãos. Sei que fui duro contigo em inúmeras ocasiões. Sei que testei a sua capacidade de atuar em pressão até o limite aceitável. No entanto, quanto mais achava que você não resistiria, mais me provava o quanto era astuta e inteligente. E ainda tem uma qualidade que jamais tive para os negócios: é humana. Você vê a empresa como um ser orgânico, não como um amontoado de papeis, códigos e interesses. Eu te admiro muito. Você é verdadeiramente uma pessoa notável, Santana...” – ele fez uma pausa para capturar o fôlego, o que nos causou preocupação. Nunca o vi se emocionar daquela forma. Nunca o vi chorar. Mas o senhor Weiz fez sinal de que estava bem e nos manteve a distância – “Santana... sei que não é meu sangue, mas foi um privilégio ter tido você como minha neta. Sei que te criei problemas, ameacei. Mas, por favor, perdoe esse homem velho, amargurado e egoísta. A minha maneira, procurei cuidar de você e da sua irmã.”

Minha irmã contornou a mesa e abraçou o velho homem. Sabia que era um momento e reconciliação. Tentei me comover com a cena, mas o que sentia de verdade era choque. Tinha me esquecido que o senhor Weiz tinha uma face humana. Pós a conciliação, por assim dizer, todos voltaram aos lugares e Richard White fez a leitura dos bens.

“É da vontade de Caleb Grahan Weiz transferir ações que correspondem a 30% da Weiz Co, à Santana Liza Berry-Lopez. Além disso, será passado ao nome da beneficiada o apartamento de 250m² em Upper East Side na 83th com a terceira avenida, em Nova York, além do apartamento de 70m² em 1520T, Street Nothwest, terceiro andar, Washington DC e um apartamento de 150m² no condomínio em 2495 La Branch Street, Huston, Texas. As aplicações individuais do meu cliente em outras empresas também serão transferidas a Santana Liza Berry-Lopez. A Rachel Berry-Lopez Fabray serão transferidos o equivalente a 10% da Weiz Co. Também será passado ao seu nome uma casa de 300m² em 1070 Grant Street, Santa Mônica, Califórnia, além desta mansão de 700m² localizada em 21 Rogers Road, Kings Point, Nova York. Confere, senhor Weiz?” – ele confirmou com um aceno – “Os demais bens pertencentes a Caleb Grahan Weiz serão doados à Fundação Stuyvesant-Weiz, formalizada no dia 27 de fevereiro de 2018 com sede no próprio campus da Stuyvesant High, 345 Chambers St, New York, 10282.”

“Fundação?” – perguntei.

“Essa fundação vai aumentar o potencial da escola em rastrear valores e talentos pelo país e dar a essas pessoas uma formação. A fundação não tem como objetivo leva pessoas para a Weiz. Mas dar a elas condições para fazerem a diferença. É um antigo sonho meu que só agora pôde ser realizado.”

Não me importava com os imóveis extras. Gostei de testemunhar um coração ser redimido.

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