Junho de 2019

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07 de junho de 2019

(Santana)

"Que tal em março?" – sugeri.

Johnny balançou a cabeça em negativo.

"Por que ano que vem? A gente poderia se casar numa data mais próxima."

Olhei para o calendário.

"Eu não quero me casar em dezembro. Odiaria!"

"Por quê?"

"Época de festas, data de aniversário do casamento de Rachel, do nosso aniversário e foi o mês que papai morreu. É muito evento para um mês só."

"Novembro?"

"Hum não. Se a gente quer se casar num local bacana, novembro já está muito próximo para arrumar. Outubro é o mesmo argumento, estou cheia de viagens marcadas em julho pela Weiz. Agosto é quente demais. Setembro é quente demais. Janeiro é mês de fechamento de estratégias nas empresas, fevereiro é muito clichê por causa do dia dos namorados, março ainda está frio. Então eu voto por abril. A gente pode fazer uma cerimônia num lugar aberto, como é o seu sonho, é primavera, minha irmã não vai ficar tão alucinada..."

"O que Rachel tem a ver com isso?"

"Não sabe? Ela, como madrinha, precisa fazer algumas providencias por mim. É a tradição me ajudar a alugar o lugar, ver buffet, flores, banda de música e, principalmente, planejar a minha despedida de solteira."

"Tudo isso?"

"É a tradição."

"Ou a gente pode esquecer toda essa baboseira de festa e nos casar em segredo num cartório."

Olhei para Johnny e ele tinha um ponto. Mas não era tão simples. Precisava criar coragem para contar o grande porém que era se casar comigo, na minha atual condição profissional e financeira. Havia um contrato de casamento que ele deveria assinar antes de oficializar nossa união. Um que lhe garantia uma gorda indenização em caso de divórcio, mas que ele não poderia reivindicar nenhum dos meus bens e, principalmente ações na empresa.

Não foi idéia minha. O senhor White e mais algumas pessoas da empresa que eram próximas e fiéis ao senhor Weiz me abordaram semana passada para discutir o contrato pré-nupcial tão logo eu admiti que estava noiva. Por um lado eu entendia que eles quisessem manter a integridade das minhas ações sem o menor risco de interferência de Johnny porque era interesse direto dessas pessoas que a empresa se mantivesse com a hierarquia estável e distante das intempéries de grupos empresariais. Ainda era interesse de todos que a Weiz permanecesse como empresa familiar. E como trabalhava no sentido de manter a roda girando sem me seduzir pelos arroubos do mercado, tinha a confiança dos demais. Não era a presidente, mas tinha a palavra final, sem falar que estava à frente de uma das áreas estratégicas para o funcionamento da Weiz.

Além disso, eu tinha os imóveis, o registro da Rock'n'Pano, as aplicações, minhas ações em outras empresas e ainda precisava sustentar o plano de aposentadoria de zaide e bubbee que garantia a eles uma vida de alto padrão nesse final de vida dos dois. Eles mereciam. Meu patrimônio era avaliado em quase 600 milhões, e entrava muito dinheiro na minha conta bancária todos os meses. Pensando friamente, não era mesmo simples me casar com a tradicional divisão de bens, como Rachel e Quinn.

Amava Johnny. Nenhuma dúvida aqui. Meu plano era ter uns dois filhos e envelhecer ao lado dele. Era fazer um casamento em que o voto "até que a morte nos separe" fosse efetivamente respeitado. Era isso. Mas se alguma merda acontecesse pelo caminho, tinha de estar precavida.

"Você ficou muda" – Johnny passou a mão nos meus cabelos – "Falei alguma coisa de errado? Não podemos ser impulsivos?"

"Infelizmente não" – disse com tristeza – "John, preciso discutir algo realmente sério contigo."

"Oh, você me chamou de John. Então é sério mesmo." – ele recobrou a postura e sentou-se reto na cadeira no quarto que virou escritório que servia para nós dois. Era onde ele passava boa parte do tempo escrevendo para o novo livro que desenvolvia – "Manda."

"Richard White me recomendou um contrato pré-nupcial" – soltei de uma vez.

Johnny não respondeu de imediato. Ele olhou fixamente para mesa antes de voltar a olhar para mim. Começou a fazer desenhos invisíveis com as pontas dos dedos na madeira.

"Quando foi isso?"

"A reunião foi semana passada" – ele acenou e parecia decepcionado, mas não deu margem para eu interpretar corretamente com o quê.

"Isso é daqueles contratos que garantem que toda a grana fica contigo em caso de divórcio?" – acenei com relutância.

Estava envergonhada. Esse tipo de procedimento podia dar a impressão de que eu não confiava nele, na honestidade dele, ou que não acreditava na durabilidade da nossa união.

"Johnny, isso é só uma recomendação" – comecei a falar nervosa – "Não quer dizer nada. Infelizmente eu não..." – ele me interrompei levando o dedo nos meus lábios.

Então passou a mão pelos meus cabelos até repousá-la atrás da minha nuca e me puxar para um beijo. Fechei os olhos na boa sensação ao mesmo tempo em que queria pedir desculpas por aquilo. Foi uma carícia tênue, mas cheia de carinho. Eu podia sentir o amor no simples roçar de nossos lábios. Quando ele rompeu o beijo, ainda permaneci alguns segundos com os olhos fechados.

"Onde assino?"

"O quê?" – disse ainda meio aérea.

"Esse papel. Onde eu assino?"

"Johnny..." – ele colocou o dedo mais uma vez nos meus lábios.

"Eu quero me casar contigo, San. Não com o seu dinheiro. Acho até bom que isso aconteça porque tira grilos e dúvidas."

"Realmente não tem problemas? Está certo disso?"

"Eu amo Santana Berry-Lopez. Essa garota genial que anda de bicicleta comigo pelo Central Park, que me apóia, que me faz feliz, que é uma moleca travessa que por vezes tem uma língua afiada e não tem medo de dizer o que pensa, que canta Alanis Morissette bem alto durante o banho e faz uma dancinha da vitória adorável quando está realmente feliz. Se essa Santana não tivesse um centavo furado no bolso e morasse num quartinho alugado do Bronx, quer saber? Eu ainda me casaria ela num piscar de olhos. Você é uma pessoa incrível San e eu quero passar o resto da minha vida contigo, com tudo o que faz você ser incrível, e isso, minha princesa, tem nada a ver com a sua grana."

Sorri e o beijei. Desta vez com paixão.

"Obrigada, obrigada, obrigada!"

"Então, onde assino esse papel ridículo?"

"Hoje? Você pode ir à Weiz comigo, embora você tenha todo direito de procurar o próprio advogado..." – mais uma vez ele colocou o dedo nos meus lábios e me deu um leve beijo em seguida.

"Eu assino de olhos vendados, San."

"Ok."

"Depois que eu assinar esse negócio, poderemos ser impulsivos?"

"Hum, ainda não!"

"Por quê?"

"Porque eu ia gostar de fazer uma festa com os meus pais, minha família, com nossos amigos. Essa confraternização é legal, sabe? Eu tenho esse sonho ridículo de toda menininha em ter o meu pai me guiando até o altar, de ver zaide quebrando a taça depois da cerimônia para nos trazer sorte... essa coisa bem mulherzinha que também existe dentro de mim. Não que eu queria algo grande e luxuoso. Longe disso. Mas, sim, eu quero uma festa para compartilhar um momento feliz com essas pessoas que amo."

Johnny abriu um sorriso e acenou. Olhou para o calendário e acenou.

"Abril, então?" – ele perguntou.

"O que você acha do dia 4?"

"Dia 4 está ótimo."

...

12 de junho de 2019

(Rachel)

Entrei no estúdio com o roteiro na ponta da língua. Estava afiada e disposta a fazer as minhas duas cenas e correr até ao aeroporto para aproveitar a minha semana de folga em Nova York. Vi uma notícia maravilhosa na internet e precisava compartilhar com Quinn imediatamente, mas eu iria fazê-lo frente a frente. Meu sonho tornou-se possível.

"Bom dia, Eva" – falei com a assistente de produção.

"Que bom que está animada às seis da manhã, Rachel. Precisa da agenda de hoje?"

"Alguma coisa foi alterada?" – Eva deu uma olhada no papel – "Só uma coisa: teremos um jornalista na casa hoje para uma matéria a respeito da última temporada."

A primeira notícia do dia no estúdio e eu fiquei desanimada. Alguns jornalistas passaram pelo estúdio para fazer matérias sobre a temporada e isso fazia parte do processo. O lado ruim é que isso significava que Luis e eu tínhamos de ficar com o nosso teatro full time dentro do estúdio, afinal, toda a imprensa já tinha divulgado notas sobre o nosso mais que confirmado namoro. Havia planos de ir para o México assim que terminasse as filmagens para ficar uma semana fazendo jogo de cena num hotel confortável e depois voltaríamos de vez a Nova York.

Todas as pessoas que trabalhavam diretamente conosco estavam cientes do nosso arranjo. O que não se aplicava aos figurantes, aos convidados ocasionais, a alguns diretores convidados e aos jornalistas.

"Tem como me fazer escapar?" – quase implorei

"Uma palavra com o jornalista entre uma cena e outra e prometo deixá-lo longe."

"Ok."

Cheguei cedo para sair cedo. Meu voo era às quatro horas e as minhas duas cenas eram com Andrew May em que o diretor discutia com a minha personagem sobre uma crise pessoal que afetava a todos da companhia num episódio em que eu não apareceria muito. Serviram biscoitos e chá enquanto eu me dirigi para fazer cabelo e maquiagem. Aos poucos ganhei a companhia dos meus colegas e essa era uma boa parte da rotina. Scott Harris, o novato do elenco que entrou nesta temporada para substituir Rom, chegou ruim de gripe. Estava muito pálido. Amanda me deu um beijo no rosto assim que nos cruzamos a caminho dos trailers e me foi mostrado o jornalista da vez acompanhado do próprio fotógrafo. Deus que me perdoe, e levo em consideração que a minha esposa também é uma fotógrafa, mesmo que de cinema, mas como eu odiava essa classe. Quando dei por mim, lá estava a lente apontada para mim e Amanda no meu ambiente de trabalho. No tempo em que a figurinista entregou a roupa do dia no meu trailer para me trocar, vi Luis estacionando o carro. O nosso arranjo não envolveu morar na mesma casa. Ele continuava no apartamento que comprou em Los Angeles e eu estava em minha casinha em Santa Mônica.

"Já vai gravar?" – Luis perguntou quando me viu vestida de Kath. Ele parecia estar de ressaca.

"Primeira cena. Noite agitada?"

"Noite com stripper junto com Rom."

"E ele tem namorada!" – broqueei – "Como pôde levá-lo ao mau-caminho?" – dei um tapa no braço do meu falso namorado.

"Foi só uma simples comemoração. Está acertada a sequencia da Liga da Justiça, sabia? Ele vai ganhar o dobro."

"Sério?" – falei com Rom no fim de semana e ele não disse nada. De certa forma me senti excluída – "Isso é ótimo!"

"Daí a comemoração... uma masculina. E eu fui um mero convidado."

"A propósito: jornalista da área."

Luis acenou e me deu um rápido beijo nos lábios. O gesto tornou-se corriqueiro entre nós. No início eu me sentia estranha com esses gestos de afeição fora de cena. Era como se estivesse traindo a confiança de Quinn. Mas depois virou tão corriqueiro que parece mais os selinhos que dou em minha irmã de vez em quando.

Quando cheguei no set, May já estava concentrado para a cena. Eu também me preparei em casa e estava com as minhas vinte linhas de fala na ponta da língua.

"Ei, pequena" – May me deu um abraço rápido e sorriu – "Vamos para o confronto?"

Acenei e sorri. Olhei para o lado e vi o jornalista observando a preparação, tal como alguns extras curiosos. Luis chegou ao set e ficou ao lado do diretor. Os demais do elenco estavam por aí se preparando para as demais cenas.

"May, Berry" – o diretor deu uma olhada no roteiro – "em suas posições" – obedecemos ao diretor – "Silêncio no estúdio. Gravando!"

Tanta concentração e na hora de atuar eu disparei a rir. Acontecia às vezes quando não estava concentrada suficiente. Cinco takes depois e eu continuava a rir.

"Bob, preciso tomar uma água e dar uma volta para conseguir. Três minutos. Pode ser?" – pedi ao diretor.

Enquanto a equipe se ajeitava, fiz exatamente o que disse que faria: tomei um pouco de água e caminhei sozinha pelo estúdio como uma louca sem falar com ninguém. A moça da maquiagem tacou pó no meu rosto para secar o suor e eu fechei os olhos na minha posição para buscar a melhor concentração. No sexto take, a cena funcionou.

"Corta! Foi legal, pessoal, mas quero fazer mais uma vez. Berry, se conseguir marejar os olhos no final, vai ficar perfeito."

Respirei fundo e fui no pique das falas. O bom de contracenar com atores da qualidade de Andrew May e Luis é que eles davam todo o suporte para você fazer bem. Eu me considerava uma boa atriz, mas esses dois estavam um degrau acima. A cena fluía melhor, diferente, por exemplo, de contracenar com Amanda, que tinha veia cômica e uma dificuldade imensa para fazer drama. Ela se envolvia tanto que costumeiramente exagerava, subia o tom e era preciso manter muita concentração para não se atrapalhar. O bom ator não era aquele que chorava de verdade de solução, mas que controlava a emoção.

"Corta. Genial, genial. Bom trabalho aos dois" – o diretor disse em meio a alguns aplausos das pessoas no set – "Cena 32 e arruma o set para a 45 com Berry e May. Meia hora, ok, pessoal."

Como havia um jornalista na casa, eu "casualmente" fui até Luis e ele beijou meu rosto antes de eu sair do set para tomar um pouco de água e me preparar para a segunda e última cena do dia para mim.

"Rachel" – Hugo, um dos assessores de imprensa, me chamou – "Você poderia ceder cinco minutos do seu tempo para falar com o Barney Gordon, que está aqui especialmente para o Hollywood Reporter?"

"Como vai senhorita Berry" – o jornalista estendeu a mão e eu o cumprimentei gentilmente – "Prometo que não tomarei o seu tempo."

"Claro" – eu já tinha confirmado que falaria de qualquer forma.

"Será que o Luis pode se unir a nós?" – claro que o jornalista gostaria de fazer a entrevista com o "casal".

"Não será possível, Segal vai se preparar para entrar em cena agora" – o assistente advertiu.

O repórter me puxou para um canto e conversamos sob o crivo de Hugo. Fez perguntas típicas sobre a nova temporada, sobre como era atuar com o namorado, convivência no elenco e outras coisas em que tinha uma resposta pronta.

A segunda cena com May era mais rápida e corriqueira. Eu só precisava dizer duas frases e liberdade. Terminamos tudo em três takes e fui dispensada pelo dia. Era meio dia. Pulei o almoço para voltar para casa, deixar o carro na garagem, pegar minha bagagem, chamar o táxi e rumo à Nova York.

...

Seria uma surpresa. Quinn não imaginava que viria para casa mais cedo. Tinha avisado minha esposa que chegaria apenas amanhã pela tarde. Eram onde da noite e eu mal podia esperar para abrir a porta do quarto e encontrá-la dormindo para uma noite romântica. Mas quando fiquei diante da porta da minha casa, estranhei a luz acessa, burburinho, as risadas e uma música discreta. Coloquei a chave na porta e abri. Deparei-me com pessoas espalhadas pela sala da minha casa, algumas sentadas no chão, papéis estavam espalhados, assim como pratos descartáveis e copos. Pessoas que reconhecia apenas três, fora Quinn: Santiago, Antonia (uma antiga namorada de Mike) e Roger.

"Rachel!" – Quinn levantou-se do chão e a atenção estava automaticamente em nós. Ela veio em minha direção falando em tom mais baixo, claramente preocupada – "Eu me esqueci de alguma coisa? Eu pensei que você viria só amanhã."

"Eu quis fazer uma surpresa..." – todos os olhares em mim me deixaram constrangida – "O que está acontecendo?" – perguntei praticamente sussurrando.

"Oh!" – Quinn voltou a falar normalmente – "É só uma reunião para as gravações do curta-metragem. É impressionante como dinheiro acelera as coisas."

"É..." – disse desconfiada – "Eu vou... pro meu quarto..."

"A gente não vai demorar muito."

"Não... tudo bem... termine o seu trabalho."

Peguei a minha bagagem e entrei no meu quarto, fechando a porta atrás de mim. Compreendia que Quinn estava trabalhando num projeto dela, o que me deixava feliz, mas não quer dizer que a recepção não tenha sido um banho de água fria. Coloque minha bagagem no closet, tirei minhas botas e peguei meu roupão e toalha. Tomei um banho rápido e por mais que estivesse com um pouco de fome, não senti vontade de ir cumprimentar as pessoas. Minha desculpa era de que estava cansada demais. O que era verdade.

Ajeitei-me na minha cama macia, coloquei o lençol por cima do corpo porque fazia calor em Nova York e liguei a televisão. Olhei no relógio depois de um tempo. Uma hora da manhã. Só então parecia que as pessoas começaram a se despedir. Mais quinze minutos e Quinn apareceu. Justo quando meus olhos estavam pesados demais e meu corpo entregue ao conforto do meu colchão e do meu travesseiro.

"Oi" – ela deitou-se ao meu lado e me deu um beijo nos lábios que estava esperando desde a entrada – "Se eu soubesse não teria marcado reunião alguma hoje."

"Eu só queria fazer uma surpresa" – procurava me manter acordada.

"E eu te amo por isso" – me beijou mais uma vez – "Sinto muito, Rach. Se eu soubesse..."

"Deixa de lamentar e deita aqui comigo."

"Um instante."

Quinn saiu da nossa cama e eu fechei os olhos.

...

Despertei com um raio de sol direto no meu rosto. Pisquei algumas vezes até fixar minha visão no relógio no meu criado mudo. Eram seis e meia da manhã. Olhei para o lado e Quinn estava ainda ressonando deitava com a barriga para cima, um braço por cima da cabeça e a outra mão sob o abdômen. Ela adorava dormir desse jeito e eu costumava achar uma posição convidativa para passar um braço sobre ela e faz da minha esposa o meu melhor travesseiro.

Foi o que fiz e tirei ainda vantagem do pescoço em posição privilegiada para receber alguns beijos.

"Hum" – ouvi um gemido de prazer como resposta às minhas carícias. Em seguida, senti os braços dela me envolvendo – "Estava sentindo falta em acordar assim" – Quinn ainda estava com a voz rouca, meio grogue.

"Eu também" – nossos lábios se encontraram para um gostoso beijo de bom dia.

Mas eu não estava disposta a parar por ai e nem mesmo Quinn. Ela se posicionou melhor para me dar um beijo aberto, sensual. Quando dei por mim, estava de costas na cama com Quinn se arrumando por cima. Era a posição que ela gostava mais enquanto estávamos deitadas na cama nos curtindo.

"Você quer?" – ela perguntou já procurando os meus seios por debaixo da minha blusa do pijama.

"Quero" – respondi com um leve sorriso e era todo o encorajamento que ela precisava para se posicionar em definitivo sobre mim.

Retirou o blusão e me deixou ter por um instante a visão privilegiada daquele lindo corpo. Estiquei meus braços para minhas mãos alcançarem os seios da minha esposa e os massageei e procurei continuar a fazê-lo até mesmo quando ela se inclinou para continuar a me beijar. Ela afastou o tecido do pijama e abocanhou um dos meus seios enquanto eu tentava remover a blusa. Não foi tão difícil. Era uma questão de jeito. Quinn retirou o meu short juntamente com a calcinha. A dela também foi embora do processo. Abri minhas pernas para convidá-la a se reposicionar entre elas. Quinn não perdeu tempo. Voltamos a nos beijar e a nos estimular. Minha mão desceu até o sexo da minha esposa. Ela estava tão molhada. Eu a empurrei para que trocássemos de posição. Quinn não resistiu. Ao contrário, sorria.

"Você quer meus dedos?" – disse sensualmente ao pé do ouvido dela para em seguida lamber o ponto sensível – "Ou a minha língua?"

"Os dois. Oh, Rach, por favor, use os dois."

Tomei o meu caminho até ao sexo da minha esposa e primeiro a lambi começando por debaixo até o clitóris. Quinn gemeu alto e abriu ainda mais as pernas, dizendo assim que a casa era toda minha. E era mesmo. Cada pedacinho daquele corpo, em especial daquela parte, era meu e só meu. Primeiro penetrei minha esposa com minha língua e brinquei um pouco por ali até me concentrar no clitóris enquanto dois dos meus dedos começavam a trabalhar na vagina.

"Isso, Rach..." – ela segurou minha cabeça para ficar mais próxima do sexo – "Você sabe o que fazer..."

Sim, eu sabia. Precisava ir mais rápido e girar os meus dedos lá dentro estimulando o máximo possível as paredes que pulsavam.

"Oh Rachel!" – Quinn disse num grito com o fôlego preso depois de enrijecer brevemente o corpo e relaxá-lo.

Voltamos a nos beijar e continuamos nossas carícias.

"Você quer usar nosso amiguinho?" – sugeri – "Adoraria que você fizesse do jeito que você gosta de fazer."

Quinn sorriu e pulou da cama numa velocidade impressionante e vestiu a cinta numa agilidade invejável. Nem deu para sentir falta e ela já estava de volta na cama sobre mim. Beijou minha boca e desceu até chegar ao meu sexo. Mas não se demorou muito. Ela queria apenas ter a certeza de que estava preparada.

"Eu vou te foder tão gostoso."

"Quinn!" – reclamei – "Modos."

"Só você mesmo para exigir modos nessa hora" – ela riu – "Você não sabe como eu sinto falta até disso."

Então voltou a se concentrar em nossas atividades. Guiou a prótese até minha entrada e puxou para dentro como se o artefato fosse uma extensão natural do corpo dela. Gemi alto e joguei minha cabeça para trás. Quinn começou a se movimentar devagar, num ritmo que me deixava louca, querendo mais. Beijou a minha boca preguiçosamente enquanto se movimentava com rara habilidade.

"Oh Quinn, mais rápido."

Em vez disso, ela se retirou, me deixando perdida por um instante.

"De quatro, Rach."

Obedeci e rapidamente ela se reposicionou. Inseriu novamente a prótese em minha vagina e começou a se movimentar mais rápido. Era um momento em que eu perdia certo controle dos meus vocais e gemia alto. Em parte pelo prazer proporcionado, em parte porque sabia que Quinn gostava quando ficava vocal. Meu orgasmo veio e eu permiti o meu corpo cair na cama enquanto Quinn permaneceu de joelhos, com um sorriso triunfante. Essa era a parte em que ela ficava arrogante por ter tão bom desempenho em nossas atividades sexuais. Ela acariciou minhas nádegas e as beijou.

"Você quer?" – perguntei enquanto ela continuava a acariciar ali – "Você gostaria?" – ela sabia do que estava falando.

"Só se você quiser, Rach."

Dei a minha virgindade anal a ela como um bizarro presente de natal atrasado e a minha primeira vez ali foi estranho apesar de ter sentido um pouco de prazer após a dor da primeira penetração. Depois disso, tentamos em outras ocasiões, que foram melhores e prazerosas.

Pensei por um instante enquanto Quinn continuava a acariciar meu traseiro esperando pela resposta. Apenas de o meu corpo estar sensível, pensei que talvez fosse suficiente por aquela manhã. Então me virei e sentei na cama. Puxei Quinn para um beijo e ela entendeu o recado. Retirou a cinta e a jogou ao lado.

"Banho e café?" – ela sugeriu.

"Tem que ir cedo para a Bad Things hoje?"

"Não. Só tenho uma reunião pela tarde para tratar sobre o longa" – ela deitou-se e me convidou a fazer o mesmo – "Gary está pirando porque esse é o filme de maior orçamento que a Bad Things já produziu. Então, nada pode sair errado."

"O como foi a sua reunião ontem?"

"Avançamos em algumas questões para gravar semana que vem. Roger virou um dos produtores executivos e disponibilizou parte do pessoal que costuma trabalhar com ele e isso adiantou o processo."

"Quem é o outro produtor? Você nunca disse."

"Não?" – ela pareceu engasgar um pouco, como fazia quando eu fazia alguma colocação da qual ela não se antecipou.

"Não."

"Não é exatamente um produtor. Está mais para um patrocinador."

"Esse patrocinador tem nome?"

"Ajudaria se eu respeitasse o direito de anonimato?"

"Por que alguém te patrocinaria pedindo anonimato? Sempre achei essa história mal contada. Por um acaso é alguém... nefasto em intenções?"

"Não é ninguém nefasto, ok?"

"Mas Quinn..." – ela ergueu uma sobrancelha e isso me fez desistir de tentar arrancar a informação. Deixei ela vencer esse round por hora até porque tinha uma notícia mais importante – "Estava louca para chegar em casa" – coloquei um pequeno sorriso no rosto e voltei a beijá-la.

"Eu também estava com saudades. Foi quase um mês sem te ver e te tocar."

"Eu sei" – coloquei um cacho dos cabelos loiros atrás da orelha. Quinn voltou a deixar o cabelo crescer. Preferia mais curto, porque eu gostava de bagunçá-los livremente. De qualquer forma, ela ficava linda. Casualmente, peguei a cinta e a analisei por um momento – "Imagine se você pudesse me engravidar com isso?"

"Se eu tivesse isso, seria um homem e supostamente seria capaz. Porém..."

"Você não é um homem, mas eu vi uma notícia ontem que diz que você poderá me engravidar, se quiser. Claro que num laboratório, ainda assim, poderíamos gerar um filho biológico meu e seu." – Quinn franziu a testa e emudeceu, por isso elaborei melhor – "Lembra daquele processo de fusão óvulo-óvulo que estava em debate? A Alemanha autorizou o procedimento."

"Rach..."

"Eu poderia contatar os laboratórios de lá e agendar uma visita e ver o que é preciso para começar o tratamento. Seria bom, porque você estará na Europa filmando e eu não tenho compromisso de longa duração até o fim do ano. Só as premieres e alguns eventos em Los Angeles e aqui."

"Rach" – o tom era ainda mais desanimado.

"Você não está superando esse problema por causa da Beth? Esse medo? Então? Por que não tentar? Não estou pedindo para você carregar o nosso filho, Quinn. Isso é comigo."

"E a sua carreira?"

"Eu não serei a primeira e nem a última atriz a engravidar e depois continuar a carreira. Reese Whiterspoon ganhou o Oscar depois de ter dois filhos e ela engravidou pela primeira vez aos 23."

"Rach..."

"É só um exemplo, Quinn. Não é que eu esteja me comparando com a Reese, mas só para esclarecer que é possível conciliar carreira com família. Sem mencionar que o que mais desejo hoje em dia é com a maternidade."

"Ainda acho que esse seu desejo é só uma lista que você deseja desesperadamente cumprir do seu livro de metas."

"Vai pro, inferno Quinn."

Rolei para o lado e saí da cama. Fui direto para o banheiro tomar uma chuveirada e fazer minha higiene. Estava ficando frustrada com a negativa de Quinn. Cada vez menos os argumentos me convenciam. Cada vez mais a minha vontade crescia e Quinn se acovardava. O que me importa se Hollywood não me quisesse mais? Eu sempre teria a Broadway, que afinal era onde pertencia. Além disso, as ações da Weiz e as aplicações que minha irmã fazia com a minha autorização me proporcionavam o luxo de eu atuar apenas por prazer. Eu tinha condições de pagar pelo caro tratamento quantas vezes fossem necessárias, de criar, de tudo. Principalmente: tinha o forte desejo. Por que Quinn não conseguia enxergar isso? Ela amava tanto Beth, mas era atormentada pelas decisões do passado. Por isso mesmo sabia que ela se realizaria sendo mãe outra vez. Ela conseguiria preencher tal vácuo. Mas não. Toda vez que conversávamos a respeito, era sempre eu implorando para que Quinn considerasse a questão e ela se esquivando ou negando.

Desliguei o chuveiro e não troquei uma palavra com Quinn quando ela entrou no banheiro. Fui até o closet e coloquei uma roupa de ficar em casa. Recolhi nossos pijamas espalhados pelo quarto e coloquei tudo na cesta de roupas usadas e sujas. Saí do quarto e deparei-me com a sala ainda bagunçada da reunião de Quinn na noite anterior. Nada drástico, mas no estado em que estava, tudo me irritava. A cozinha também estava uma bagunça e tive vontade de gritar. Quinn que arrumasse tudo antes de trabalhar.

"Rachel" – Quinn tocou meu braço com cautela – "Vamos ser razoáveis. As coisas não podem ser decididas nos moldes de tudo ou nada. Não sobre esse assunto. Estamos falando aqui de gerar uma criança. Não é algo qualquer Rachel. É um filho. Um ser em que seremos totalmente responsáveis em educar, alimentar, cuidar, amar."

"Acha que não somos capazes de cuidar, educar, alimentar e amar um filho nosso?"

"Não estou dizendo que não seríamos capazes. Só estou te conscientizando da enorme responsabilidade. Ter filho não é um ato de capricho, Rach. É coisa séria."

"Eu sei. A diferença é que ao passo em que penso nessa coisa séria desde antes de nos casarmos, você ainda encara como um capricho meu. Mas um projeto de vida não é um capricho, Quinn. É um projeto de vida!"

"Só que os nossos projetos de vida estão em desacordo neste momento."

"E qual é o seu projeto de vida além de fazer filmes?" – Quinn ficou confusa por um momento e isso foi suficiente para mim como uma resposta verdadeira – "Foi o que pensei. Se você não quer participar disso comigo, ser a minha esposa e constituir família, talvez eu finalmente deixe você ganhar a discussão, te deixe em paz e vou tentar uma carreira solo."

"Isso não é justo!"

"Não é justo para quem?"

Saí da cozinha. Perdi a fome.








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