Julho de 2019

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03 de julho de 2019

(Rachel)

“Pegou a escova de cabelo?” – perguntei e ganhei apenas um aceno como resposta – “E algum casaco? Na Inglaterra nunca faz calor, ao que parece.”

“Está tudo em ordem” – Quinn respondeu aborrecida.

“Não faça assim” – suspirei.

“Não faça assim o quê, Rachel?”

Quinn estava enfurecida comigo. Tinha razão de estar. Passei uma semana no México com Luis para incrementar nosso romance promocional, o que deu muito certo a julgar o número de fotos tiradas por paparazzis divulgadas na rede. A maioria das fotos não passava de imagens normais de um jovem casal em férias. Fomos “flagrados” na praia, eu tentei entrar algumas vezes na água, mas o meu medo não permitiu que avançasse, além do fato de eu nunca ter aprendido a nadar. Havia fotos nossas num bar, num restaurante e assistindo a uma competição de surf, que é bem menos interessante ao vivo do que nas belas montagens feitas pela televisão. Era um passeio entre dois amigos que fingiam ser namorados e mais nada. Andávamos de mãos dadas na praia, nos beijávamos nos lábios aqui e ali, dormimos no mesmo quarto, mas em camas separadas. Luis se comportou como um cavalheiro. A gente conversou bastante e ele contou sobre a produção do filme do Santiago prevista para março que vem e do desejo sincero dele em ter Quinn na equipe. Mas depois da discussão que os dois tiveram por causa deste mesmíssimo projeto e de Santiago, achava improvável.

Então houve um passeio de barco em que fomos convidados a fazer em companhia de um empresário bonitão famoso no México e a namorada dele que era modelo. Eu estava tomando sol no deck do iate. Tinha tirado o sutiã do biquíni e deitado de bruços. Luis se aproximou e me alertou que havia lentes por perto e propôs ao pé do ouvido uma manobra mais maliciosa. Basicamente eu beijei Luis naquele deck do iate de topless e a foto ganhou manchetes nas agências de fofoca do tipo: “Férias quentes do casal de Slings.” Quando o empresário e a namorada modelo nos viram fazer o teatro no iate, ficou confiante o bastante para propor uma noite se swing. Recebeu um não e ficou decepcionado.

Essa foi a história e logicamente Quinn não gostou. Tão logo eu pisei os pés em casa ontem chegando do México, tive uma recepção gelada, glacial. Não demorou quinze minutos para entender que a razão, além do passeio com Luis, foi a foto de topless. Agora era ela quem estava de partida para iniciar as filmagens de Solar, na Inglaterra, com uma equipe americana e um elenco predominantemente europeu. A pior parte é que ela embarcaria em breve magoada comigo. Era tudo que não queria.

“Eu não te traí, Quinn” – disse ainda mais frustrada – “Eu nunca te traí.”

“Claro...” – ela disse irônica, gesticulando as mãos com certo exagero – “É tudo teatro.”

“É só teatro” – estava frustrada – “Por favor, não vamos entrar nessa discussão cíclica. Você sabe cada detalhe do que aconteceu naquela foto e é verdade. Escondi nada, absolutamente nada. Você não tem o direito de me condenar, quanto mais de me acusar.”

“Como se deixar ele pegar nos seus peitos fosse necessário.”

“Ele não pegou nos meus peitos! De onde foi que você tirou isso? Só pode ser da sua imaginação deturpada.”

“Não se faça de santa, Rachel. Aliás, você é uma hipócrita. Fica me pressionando para ter filhos, diz que a carreira não é mais importante do que constituir uma família e tudo mais. No entanto você seria capaz de chupar o pau dele na frente dos paparazzis só para mostrar ao mundo o quanto é hetero e preservar a sua merda de carreira” – ela gritou.

“Retire o que disse, Quinn!”

“Como eu vou retirar se eu já disse?” – a expressão corporal dela era violenta, intimidadora, não muito diferente do dia em que ela saiu correndo para me trair. Foi o dia em que pensei que ela me bateria se Santana não tivesse invadido o quarto. Naquele instante eu dei um passo para trás em direção à porta e tomei uma postura defensiva.

“Abaixe o tom, Quinn, você está perdendo o controle.”

Ela arregalou os olhos e também deu um passo para trás. Virou as costas para mim e fechou a mala.

“Preciso ir” – Quinn disse entre os dentes – “Tenho um avião a pegar.”

“Aproveite as horas de voo para pensar bem, Quinn Fabray” – falei com aspereza apesar do meu medo e nervosismo – “Eu te amo muito, mas eu tenho os meus limites também.”

“Quer saber? Não é só você que tem limites, Rachel Berry-Lopez. Não é sempre que eu agüento essa sua postura egocêntrica. Não é sempre que eu engulo suas atitudes supostamente bem-intencionadas. A senhora passou dos limites desta vez e tudo que desejo neste exato momento é que você vá para o inferno e me deixe em paz.”

Quinn passou por mim sem beijos de despedidas, sem abraços, sem um mísero tchau. Apenas passou com a mala e saiu para esperar o táxi na calçada.

Tinha passagens compradas para a Inglaterra. O plano era me hospedar no mesmo hotel que a equipe ficaria em Reading, uma pequena cidade vizinha da grande Londres que abrigava um dos festivais mais famosos de rock. Embarcaria na próxima semana depois de atender um compromisso que fiz com uma equipe que fazia um documentário sobre a nova geração da Broadway. Eles viriam me entrevistar no Public junto com alguns amigos meus, como Josh Solano. Se antes eu via esse espaço de tempo como um problema, agora os dias à parte soavam como solução.

Eu tentei ser racional, razoável. Sabia que conversaríamos frente a frente com a cabeça fria em oito dias. Isso não me impediu de chorar compulsivamente assim que ouvi a porta da frente bater.

...

(Santana)

“Em resumo, você quer que eu dance?” – Brittany franziu a testa enquanto analisava a tela do meu tablet.

“Basicamente. Mas Britt... e Jill... o que e gostaria é que vocês criassem algo simples que fosse ao encontro com o tema da nova coleção da Rock’n’Pano. De repente, eu posso contratar Rachel para cantar e fazer um número rápido junto com a dança, como nas competições do nosso coral de McKinley, lembra? A questão é que seria interessante fazer um número para apresentar a coleção nova aos clientes durante o coquetel. Não precisa ser nada muito elaborado. O lance é causar uma boa surpresa e entreter.”

“E você vai nos pagar três mil dólares para a gente dançar por uns dez minutos?” – Jill parecia ter mais dificuldade de entender do que Brittany. Odiava isso. Não estava falando inglês?

“Não só para dançar, mas para criar um número e executá-lo no dia do coquetel. E esse número não pode ter mais de 10 minutos. É isso.”

Olhei para Tomiko, que encolheu os ombros. Ela não participava ativamente dessas reuniões de negócios, mas como era a minha gerente, gostava que participasse. A Rock’n’Pano estava com quatro artistas novos e aquela era a primeira vez em que Quinn não entregou uma coleção, embora eu a considerasse ainda do quadro de artistas. Mais do que isso, era a primeira vez em que trabalhávamos com coleções unidas por uma temática em comum e faríamos uma coleção exclusiva para Chet Power, uma cliente fabulosa que tive a sorte de fechar um acordo no final do mês passado. O coquetel marcaria também a inauguração da nova sede. Comprei uma sala comercial de 75m², também no Bronx, que estava sendo reformada. Um lugar em que teria um pequeno escritório para receber meus clientes e uma grande sala em comum onde Tomiko, a auxiliar dela e a secretária trabalhariam. Também contratei uma pessoa para ficar diretamente nas tecelagens da Weiz Co só para resolver questões da Rock’n’Pano e ficar em contato direto com Tomiko e comigo. Sei que era dona das duas empresas, mas essa relação entre elas era meramente contratual. A Rock’n’Pano operava de maneira completamente independente da Weiz. A decoração do lugar era com trabalhos dos nossos próprios artistas. O projeto ficou lindo.

Agora eu precisava apresentar tudo isso com uma festa para divulgar. Tomiko estava à frente da organização da festa. Ela teria de mandar os convites para pessoas da imprensa, para artistas, pessoas da sociedade e para clientes: os estabelecidos e os potenciais. Confirmar as presenças, e discutir comigo quando ao local do coquetel, o buffet, o DJ, e uma equipe especializada em cerimoniais para conduzir o evento. Trabalhava com orçamento de 70 mil dólares para fazer uma festinha, mas com potencial para me dar um retorno bem maior. Era assim que funcionava o mundo dos negócios. Por vezes era necessário fornecer uma boca livre para poder fisgar alguns peixes graúdos do cardume.

“Por mim tudo bem, San. Eu faria isso de graça” – Brittany sempre me fazia sorrir com as pequenas gentilezas.

“Mas é claro que o dinheiro é muito bem vindo!” – Jill se apressou a dizer o que provocou algumas risadas à mesa.

“Perfeito. Vocês...” – fui interrompida com a chamada do celular que programei para Rachel. Aquilo me irritou e pensei algumas vezes em ignorar. Mas já que três pares de olhos aguardavam alguma atitude a respeito do celular, pedi desculpas com um gesto e atendi o celular – “Rachel, estou no meio de um almoço de negócios aqui.”

“Santy” – a voz dela veio miúda e rouca ao telefone isso me preocupou – “Você pode vir aqui?”

“Gente, com licença” – levantei-me da mesa e voltei a falar no celular – “Ray, o que foi?”

“Quinn e eu brigamos feio” – ela disse chorosa – “Santy, eu acho que dessa vez foi sério de verdade. Vem aqui, por favor!”

Rachel ainda me levaria a ruína. Claro que eu não atendia todos os telefonemas e tão pouco me preocupava com os caprichos da minha irmã, mas ela parecia mesmo estar na pior e isso cortava o meu coração.

“Você está em casa?”

“Estou.”

“Tá, eu vou demorar uns quinze minutos para chegar aí, ok?” – desliguei o celular e voltei para minha mesa junto com as três mulheres que ainda me olhavam em expectativa – “Rachel está com um pequeno problema e eu vou lá vê-la.”

“Aconteceu alguma coisa séria com ela? Com Quinn?” – Brittany ficou em alerta – “Posso ajudar?”

“Não Britt, não é nada de grave. Ela só precisa conversar sobre um assunto importante.”

“Tem certeza?”

“Tenho sim, Britt. Obrigada” – peguei minha bolsa – “Tomiko, você poderia?”

“Claro Santana, eu tomo conto aqui.”

Acenei. O que Tomiko precisava fazer era conduzir o final desse encontro, falar das questões contratuais e pagar a conta. O valor que eu a reembolsaria na primeira oportunidade. Peguei o meu carro e dirigi até Lenox Hill, a região de Upper East Side que abrigava a casa da minha irmã. No rádio ouvia a seleção de canções que gostava. Primeiro a versão de Helder Skelter ao vivo que o Oasis fez. Em seguida, Nice Dream, do Radiohead.

“They love me like i was a brother/ they protect me, listen to me/ they dug me my very own garden/ gave me sunshine, made me happy/ nice dream/ nice dream/ nice dream.”

Cheguei à rua da minha irmã em dez minutos. Estacionei ao longo da rua. Entrei sem me anunciar, subi o elevador e peguei a cópia da chave do apartamento. Besteira ser educada e bater à campainha naquelas circunstâncias. Fui direto para o quarto da minha irmã e a encontrei encolhida em cima da cama enquanto o canal VH1 passava clipes de artistas que mal sabia o nome.

“Ray?” – sentei na cama e a toquei no braço.

Ela simplesmente virou para o meu lado e procurou aninhar-se contra o meu corpo, mesmo que eu ainda usasse roupas do trabalho.

“Espere” – tirei os meus sapatos de salto, o cinto, e me acomodei em cima da cama para que ela voltasse a me abraçar e fungar contra o meu ombro.

Passei alguns bons minutos passando a mão nas costas de Rachel enquanto ela permanecia em silêncio contra o meu corpo.

“Quinn me deixou” – ela disse baixinho.

“Por um acaso isso tem a ver com as fotos que certa pessoa tirou de topless num iate de luxo enquanto beijava o suposto namorado?” – ela se apertou ainda mais contra meu corpo e passou a chorar baixinho.

Olhei para o relógio e suspirei. Pelo visto teria de trabalhar para Weiz pelo computador de casa porque minha irmã não iria me soltar tão cedo. Sinceramente, eu não a deixaria sozinha daquele jeito.

“Quer falar a respeito?” – Rachel balançou a cabeça – “Quer que eu te faça um chá de camomila ou algo assim?”

“Que tal uma garrafa de vodca?”

“Ok!”

Levantei-me da cama e fui até o closet. Peguei uma camiseta e um short da minha irmã. Troquei de roupa e fui até a cozinha. Era lá que ficava o suporte de garrafas de vinho e outros destilados. Haviam cinco garrafas ali: quatro de vinho e um licor de amarula. Ficar bêbado com licor era pedir para ter diabetes depois. Peguei uma de vinho que já estava aberta dentro da geladeira. Voltei ao quarto da minha irmã e estendi a garrafa para ela. Rachel não hesitou e tomou uma baita golada. Ela bebeu um terço do conteúdo de uma vez.

“Agora” – tomei a garrafa da mão dela e tomei também um gole – “Fale o que aconteceu.”

“Nós estamos brigando desde ontem, quando cheguei. Tudo por causa da foto... quer dizer, ela já não ficou feliz porque eu viajei com Luis para o México. Então a primeira coisa que ela me disse tão logo eu coloquei os pés em casa foi me mostrar a foto” – ela tomou a garrafa de vinho da minha mão e voltou a dar mais uma golada gigante. Se ela queria ficar bêbada em menos tempo possível, parabéns.

“E o que aconteceu naquele barco?”

“Nada de mais. Eu só estava me bronzeando e tirei o sutiã do biquíni para não ficara a marca e deitei de bruços. Luis disse que havia paparazzis num barco ao lado, até porque o empresário e a modelo que nos convidou para o passeio são muito famosos no México, então ele propôs a provocação.”

“A provocação era te dar um amasso enquanto você estava com os seus dois faróis” – apontei para os seios dela – “apontados para ele? Parabéns Rachel. Confirmou sua heterossexualidade de fachada, fez um showzinho e ainda realizou um pequeno desejo do seu amigo.”

“Por favor” – Rachel resmungou – “Luis já viu meus peitos um monte de vezes no set. Não só ele, aliás. Todo mundo que vê a série já viu os meus peitos. O pessoal que foi ao WWBD no teatro viu os meus peitos ao vivo.”

“Claro! Sendo assim, porque você se incomoda em vestir uma blusa já que todo mundo viu os seus peitos? As coisas não são assim, Ray. Não devem ser assim. Há limites.”

“Não acredito que está do lado dela.”

“Neste caso, estou. Você foi inconseqüente, Ray, e não levou em consideração os sentimentos da sua própria esposa. Você não levou em consideração os sentimentos do resto da família, ou você acha que alguém te aplaudiria e pediria bis ao ver uma foto daquelas? Não! Depois você ainda quer ter o direito de arrastar Quinn até um laboratório na Alemanha para conceber um filho sem ser questionada.”

“Por que você não vai embora?” – ela me empurrou – “Se vai ficar aqui para me criticar, então eu não te quero.”

“Claro. Você pode chamar o Luis que ele pode te apoiar. Quem sabe ele não te mostra como é ter um pênis de verdade dentro da sua vagina?”

“Para com isso, Santana!” – ela gritou e chorou.

“Para com isso você, Rachel!” – gritei de volta e arranquei a garrafa de vinho da mão dela. E eu achando que seria uma boa idéia deixá-la um pouco alta para desabafar melhor. Mas o vinho só potencializou a parte mais odiosa dela: o egocentrismo exacerbado – “Não acha que está na hora de você calçar as sandálias da humildade só uma vez na vida e reconhecer que errou feio? Que Quinn tem toda razão e direito de ter te deixado?”

Rachel me olhou assustada por um momento e desandou a chorar. Dessa vez alto. Tudo que fiz foi revirar os olhos. Saí do quarto levando comigo a garrafa quase vazia. Tomei o restinho e joguei o casco no lixo seco para a coleta seletiva. Peguei o celular e o meu computador na minha bolsa. Liguei para a minha secretária na Weiz e vi o que poderia ser feito sem precisar ir até a empresa. Por sorte, não havia nada demais no decorrer do dia. Outra boa coisa era que desde que assumi a diretoria que não preciso trabalhar com carga horária fixa. O que interessa é o rendimento.

Abri o meu computador em cima da mesa de jantar, me servi de água e alguns biscoitos que encontrei no pode. Fiz uma careta quando percebi que eram biscoitos vegan. Nada conseguia ser mais sem-gosto do que biscoitos vegan. Se Quinn estava aqui o tempo todo, como é que ela teve coragem de comprar aquela porcaria? Ou talvez ela comprou para Rachel ter o que beliscar quando chegasse. Sei lá. Era preciso muito amor para uma carnívora comedora de porco ficar ao lado de uma vegetariana judia.

Rachel saiu o quarto uma hora depois. Estava com o rosto inchado, os olhos estufados. Não tive pena. Arrastou uma cadeira e sentou-se ao meu lado.

“O que está fazendo?”

“Trabalhando para que a Weiz continue a nos dar um bom dinheirinho.”

“Você trabalha demais.”

“Talvez. Ao menos o meu trabalho não envolve mostrar os peitos para ninguém. Aliás, até que rola putaria e drogas em favor do jogo de interesses, mas isso não passa por mim. Eu não estou nessa.”

“Você é a chefe certo?”

“Isso não quer dizer que eu não observe essas movimentações. Aos poucos eu vou construindo uma rede de informantes lá dentro para ninguém me passar a perna.”

“Que paranóia.”

“Infelizmente as coisas funcionam assim.”

Rachel silenciou-se e eu me desconcentrei. Fechei o computador e me voltei para a minha irmã. Tinha uma dúvida a sanar.

“Quando você disse que Quinn te deixou, você quis dizer, deixou de verdade, como sair de casa com uma mala na mão e se hospedar num hotel qualquer com baratas?”

“Mais ou menos. Está mais para me deixou carregando uma mala para viajar para a Inglaterra.”

“Ah, o filme.”

“É, o filme.”

“E o que você vai fazer?”

“Vou para lá semana que vem e a gente vai poder conversar.”

“Isso é bom. Espero que esteja preparada para pedir perdão de joelhos.”

“Ainda não estou convencida de que estou completamente errada. Quinn precisa entender que isso faz parte do jogo de interesses. Não é nada pessoal.”

“Como a Kristen Orkin, a secretária executiva da Korby, que é uma mulher casada e com um filho. Semana passada ela foi flagrada fazendo sexo oral em Daniel Ortiz, o vice-presidente da Coetzee Light, antes de uma reunião em que seria discutido um acordo de coalizão entre as empresas. Você sabe, foi nada pessoal. Eles estavam apenas selando um acordo.”

“Não é a mesma coisa” – ela fez cara de enojada – “Está longe de ser a mesma coisa.”

“É a mesma coisa. Em essência é a mesma coisa. Você cruzou uma linha e usou de uma situação sexual para favorecer a sua imagem, além de garantir a de garanhão dele e consolidar um acordo. Você pode não ter beijado de língua ou sei lá, mas em essência, isso foi além do que as fotos de mãos dadas e beijos ocasionais. E outra: você abriu uma brecha para que Luis seja cada vez mais ousado e vai chegar um ponto que isso pode deixar de ser fingimento para se transformar em algo sério. Quando menos perceber, vai estar na cama com ele e sem nenhuma lente de paparazzi por perto para ter como desculpa.”

“Isso nunca vai acontecer” – ela esbravejou.

“Você poderia jurar pela alma de abuela e de papai?”

Minha irmã silenciou e abaixou a cabeça. Sinal de que ela começou a enxergar que passou dos limites.

“Se você sente que o seu casamento com Quinn não tem condições de durar por isso ou por aquilo. Se você não sente que está mais feliz ao lado dela e daí se permite envolver mais com o Luis, tudo bem. Essas coisas acontecem e você tem todo direito em procurar a sua felicidade. Mas jogue limpo, Ray.”

“Como você jogou limpo quando tentou esconder que transou com Brittany nas costas do Johnny?”

“Primeiro, eu não planejei ou procurei nada daquilo. Brittany me seduziu enquanto Quinn estava no quarto ao lado. E eu passei um ano me sentindo miserável por conta disso. Você foi testemunha. Não estou dizendo que eu sou perfeita, ok. Você sabe que estou muito longe disso. Mas estou aqui em condições de te dar esse alerta.”

“Eu não quero me separar de Quinn. Eu a amo demais para desistir tão fácil. É que a gente anda fora de sintonia nesses últimos meses e parece que nada o que eu faço ou que ela faz é para nos aproximar. Muito pelo contrário” – Rachel segurou o meu braço e encostou-se contra o meu corpo – “Acho que estou meio perdida, Santy.”

“Ótimo! Agora que sabe que está perdida, pode tentar se achar outra vez.”

...

11 de julho de 2019

(Quinn)

Cinema definitivamente era a minha terapia. Ali no set nós trabalhávamos até 12 horas por dia, mas eu trabalhava feliz. Sobretudo por não ter que lidar com Rachel e os dramas do meu casamento. Eu não conseguia pensar nela naquele instante e era algo que me fazia bem. Estava aprendendo muita coisa sobre comandar uma equipe de fotografia mais numerosa do que de uma série de TV de meia hora e sobre técnicas novas pelas mãos de um grande astro da minha área. Posso ter as minhas frustrações na Bad Things, mas a produtora é o atalho para eu me envolver com as boas produções, com os profissionais, sobretudo num meio tão masculino como é o da fotografia no cinema. Não entendo a razão de poucas mulheres se destacarem no ofício. Não sei se é o trabalho braçal ou o ritual diário exigido. Há meninas como auxiliares sim, mas é um universo muito masculino do qual eu me insiro muito bem.

“Atenção, intervalo” – o auxiliar de direção gritou. Era hora do almoço às duas e meia da tarde – “Uma hora e voltamos para gravar a 56.”

“Hoje está sendo intenso” – o primeiro auxiliar de câmera reclamou.

“O lado bom é que eu não terei de dirigir cenas de second unit por hoje.”

“Está bala mesmo.”

Acenei e depois fui para a tenda que a equipe de produção montou para servir nossas marmitas. A empresa contratada para fazer o serviço era até decente, o problema era que a culinária inglesa conseguia ser pior do que a americana. Poucos atores comiam a quentinha conosco. Alguns deles eram levados para um restaurante perto da locação que estávamos usando naquela semana. Era a segunda de cinco importantes. Depois haveria algumas cenas rápidas urbanas e o trabalho dentro do set de filmagens que fazia parte da segunda etapa de produção que seria feito em Londres.

“Sanduíche de cordeiro com salada e para sobremesa uma bola de sorvete” – Laura, a moça local contratada para auxiliar na produção.

Laura era um tipo muito singular. Tinha cabelos enrolados vermelhos e uma pele talvez mais branca que a minha. Tinha uma tatuagem grande nas costas, um corpo volumoso, de seios fartos, mas não era gorda, e um jeito que fumava erva com freqüência. Ela tentava ser simpática com todos, embora por vezes era simpática até demais. Sem falar que era esquisito guardar o que comi nos últimos três dias. Por vezes achava que ela tentava dormir com os atores a qualquer preço, como se alguém fosse ajudá-la com sei lá que ambição tivesse. E quando ela desistia de tentar se aproximar dos atores, tentava fazer da equipe de produção o alvo. Como não havia distinção em quem ela pegava, achava seguro dizer que ela era bissexual.

“Acho que vou de salada de frango por hoje” – bem que eu queria o sanduíche de cordeiro por ser a coisa com melhor gosto do restrito cardápio, mas disse só para contrariar – “E como estou com a garganta arranhando, vou preferir o bolinho de chocolate em vez do sorvete.”

Servi-me do meu almoço e sentei junto com a equipe de fotografia. Meu celular vibrou no meu bolso. Ele ficava sempre no silencioso quando eu trabalhava no set. Vi o rosto de Rachel na tela. Hesitei atender por um instante. Ainda estava brava com ela e não tinha parado para pensar direito em nossa situação. Tudo que sabia era que a última coisa que desejava era me aproximar do drama do meu casamento quando o trabalho estava indo tão bem e me servia como terapia.

“Rachel?”

“Oi Quinn. Só para avisar que cheguei em Londres e estou a caminho do hotel.”

“Tudo bem” – disse em tom frio, mas não podia evitar.

“Tudo bem para você se eu me hospedar no mesmo hotel?”

“Acho que não ficaria bem.”

“Está tudo bem, Quinn.”

“Está sim, eu só estou na hora do almoço e o dia está cheio.”

Rachel fez uma pausa ao telefone.

“Tudo bem. Eu vou arrumar um hotel e te informo depois.”

“Perfeito” – desliguei o telefone e encarei o olhar curioso de Terry que estava no set na condição de gerente e braço direito de Gary, que era produtor executivo do projeto.

Claro que Terry era uma das poucas pessoas ali que sabia que eu era casada com Rachel Berry, a atriz. Ele me perguntou com o olhar se estava tudo bem e eu apenas acenei positivo.

“Cara, você conhece Rachel Berry!” – ouvi Laura dizer excitada.

“Ela é minha amiga, por quê?” – houve uma época que doía mais dizer que Rachel era apenas minha amiga para um estranho, em de minha namorada ou minha esposa.

“Ninguém acredita quando conto, mas eu conheci Rachel Berry antes da fama.”

“Mesmo?” – fiquei interessada. Não imaginava como Rachel e ela poderiam se conhecer.

“Eu tinha 16 anos e ela devia ter a mesma idade. Bom, os pais do meu melhor amigo conhecem os pais dela e a gente se conheceu por causa disso. A gente foi para a edição do Reading daquele ano e ficamos juntas por alguns dias” – ela disse se vangloriando.

“Rachel Berry gay?” – ironizei.

“Oras, não quer dizer que as meninas que gostam de rapazes não possam experimentar alguma vez na vida. E o que eu digo é verdade: eu fiquei com Rachel Berry, da série da HBO. Ela beijou nessa boquinha aqui e pegou nesses peitões aqui. É sério, tenho até uma foto para comprovar.”

Laura disparou a rir e foi acompanhada de outros caras. Aquilo me deu uma raiva. Toda simpatia que senti por aquela putinha de set desapareceu num estalo. A vontade que tinha era de avançar nessa guria e apertar o pescoço dela.

“Não fale assim dela” – disse em tom de advertência – “Como se Rachel fosse vulgar.”

“Ué. Noutro dia ela não se deixou ser fotografada com os peitos de fora enquanto estava com o namorado dela? Toda mocinha de família esconde uma puta dentro de si. É o que eu sempre digo.”

“Você deveria ter mais cuidado de falar de alguém diante da melhor amiga dela.”

“Desculpe, Fabray, mas eu não estou mentindo.”

Não agüentei. Peguei meu almoço e me levantei da mesa antes que eu sentasse a mão na cara dessa Laura. Não seria mesmo eu a ser demitida. Seria ela. Terry me acompanhou e passou a mão nos meus ombros.

“Respira, Fabray. Respira!”

“Pelo amor de deus, Terry. Faça com que essa menina esteja fora do projeto. Eu nunca te pedi nada parecido antes, mas, por favor, eu te imploro para falar com Syd mandar demitir essa garota.”

“Olha aqui, Fabray. Eu vou fazer o possível, ok? Isso não é legal de se fazer com uma pessoa, mas porque essa garota está mesmo causando problemas e pelo seu bem, vou tomar providências. Só que eu te peço agora para esfriar a cabeça e se manter profissional pelo resto do dia, ok?”

“Eu irei, pode ficar tranqüilo.”

“Ótimo.”

A maior dificuldade foi voltar a me concentrar sabendo que Laura ainda estava no set, que Rachel estava na cidade e que havia milhões de questões a resolver. Eram dez horas da noite quando terminamos o dia e a equipe se dirigiu em vans para o hotel três estrelas que abrigava todo mundo da produção. Os atores e assessores deles e os diretores estavam num cinco estrelas, exatamente o mesmo em que Rachel se hospedou para o meu desespero.

Não fui para o meu quarto. Mesmo suja e suada, fui direto ao quarto em que Rachel estava. Assim que ela abriu a porta, entrei como um tornado, querendo arrombar tudo, destruir tudo. Em vez disso, parei no meio do quarto cruzei os braços e praticamente cuspi.

“Quem é Laura?”

“Lauren? A nossa colega do coral?”

“Não se faça de sonsa, Rachel. Quem é Laura?”

“Bom, Quinn, você terá se ser mais específica porque eu conheci algumas Lauras ao longo do tempo” – me surpreendia o fato de Rachel manter o tom baixo e controlado.

“Então deixa eu refrescar a sua memória. Festival de Reading, menina de cabelo encaracolado, pele branca, seios fartos... isso ajuda?”

“Oh!” – ela sentou-se na cama e enfiou as mãos entre os joelhos – “Juro que você desenterrou essa e eu não tenho idéia de como, mas... a Laura que você deve estar se referindo deve ser a primeira menina que eu fiquei em toda a minha vida. Foi quando meus pais, eu e Santana passamos as férias em Londres. Foi a última viagem de verão que papai fez conosco antes de morrer. Foi na mesma época em que estava acontecendo o festival de Reading. Os filhos da família amiga de papai nos levou para o festival. Foi o meu primeiro, sabe. E tinha a Laura, que era amiga deles. Para encurtar a história, eu me envolvi com a Laura e nos ficamos pelo resto dos dias em que passei em Londres até voltar para Lima. Ela foi a primeira menina que eu beijei na vida.”

“Você transou com ela ou deixou que ela te tocasse?”

“Não aconteceu nada além de um namorico casual de verão. Eu tinha 16 anos, estava envolvida pelo clima de Londres. Foi só isso. Eu ainda passei alguns meses em contato com ela por e-mail basicamente, mas nem mesmo isso durou. Há anos que não pensava ou sequer tinha notícias dela. Por que disso agora?”

“Por ironia do destino, essa Laura está trabalhando no como assistente local de produção no filme, e hoje ela contou algumas coisas ao seu respeito. De como você adorou apalpar os seios dela.”

Rachel balançou a cabeça em descrença.

“Não sei exatamente o que ela disse, Quinn, mas eu te garanto que o primeiro seio de mulher que eu toquei na minha vida de forma sexual foram os seus” – Rachel balançou a cabeça mais uma vez, o que me deixava desconcertada. Ela suspirou e então me encarou – “E mesmo que tivesse acontecido, o que isso diz respeito a nós? Naquela época eu estava com Finn e não pensava em você ainda dessa forma, embora já te achasse a mulher mais linda do mundo.”

“Então você colocou um par de chifres em Finn?” – esse pensamento era reconfortante.

“Quinn, por favor, eu não vim aqui para brigar ou remoer algo do passado sobre alguém que tem a menor importância na minha vida. E nem esse passado diz respeito a nós. Eu vim aqui porque quero recomeçar a acertar. É inegável que o nosso casamento passa por uma crise, por isso mesmo está mais que na hora de a gente conversar a respeito.”

Rachel tinha um ponto crucial. Era mesmo o momento de eu parar de discutir o meu casamento com a minha psicóloga e começar a encarar a minha mulher de frente. Por mais frustrada que estivesse, sentar e conversar como duas adultas era fundamental. Foi o que fiz. Arrastei a poltrona que ficava num canto do quarto de hotel e sentei-me de frente para Rachel. Então me levantei de novo. Precisava fazer xixi e tomar um pouco de água. Necessidades paradoxais, certo? Levou mais cinco minutos para que eu voltasse a me sentar na poltrona. Rachel continuava a me esperar pacientemente.

“Eu gostaria de saber o que você espera do nosso casamento neste exato instante” – ela começou, o que me surpreendeu. Rachel querendo ouvir a minha opinião primeiro era uma novidade. Nem me lembro mais qual foi a última vez em que isso aconteceu. Daí o meu desconcerto.

“Eu gostaria que a sua carreira não entrasse mais na nossa relação. Não falo das suas escolhas de trabalho ou do tempo que você precisa se dedicar as produções que participa. Falo do extra que acontece, em especial em relação ao romance promocional. Se você quisesse realizar um desejo meu, seria este: tire o Luis da nossa vida. Pare com esse negócio de ter de provar que é uma hétero na frente do público. Não peço para que saia do armário ou algo nesse sentido, mas que pare com esse tipo de show. Por mais que tente, eu não consigo Rachel. Eu posso ficar à sua sombra, mas eu não posso ficar à sobra de outro cara também. Isso está me destruindo por dentro.”

“Certo...” – ela acenou – “Eu vou conversar com o Luis e terminar com essa encenação. Pensei bem a respeito e confesso que estava indo longe demais com essa história. Não que tenha te traído, Quinn. Não o fiz, mas é que isso me deu uma atenção que foi envaidecedora. As pessoas me parabenizavam por eu estar com o Luis e tudo mais. É complicado abrir mão desse tipo de atenção. Confesso que não prestei atenção nos seus sentimentos. Mas a questão é que o Luis é só um amigo ao passo que você é o meu amor. Então pensei muito nesses dias sobre o assunto e cheguei a conclusão que realmente esse tipo de jogo não vale à pena se prejudica toda a vida que demos um duro danado para construirmos juntas. Eu te amo, Quinn, peço desculpas por te causar esse mal e prometo não deixar mais que a minha carreira fique entre nós.”

“Eu também te amo Rach. Por isso era tão duro te ver fingindo estar amando outra pessoa, beijando outra pessoa. Por mais que evitasse, volta e meia isso parecia na minha cara. Isso é duro.”

“Mas se você eu vou fazer todo o esforço para não deixar a minha carreira entre nós, também peço para que se esforce mais ao pensar na maternidade. Eu não estou apenas casada há dois anos e meio contigo, Quinn. O nosso relacionamento já tem sete anos e eu sinto essa necessidade, esse sonho. É como um chamado que não consigo explicar. Eu vejo Brittany brincando com Robb, vejo o quanto Beth preenche a vida dos meus pais, vejo as famílias dos meus colegas de profissão e do quanto que elas dão sentido a eles. Eu tenho inveja dessas pessoas, Quinn, porque eu cresci dentro de uma família latina que tem forte orientação familiar. Uma diferente do que é a tradição americana. O que Santana, os meus pais, meus tios, meu avós representam para mim é algo muito maior do que simples parentesco. Semana passada mesmo chegou a notícia de que a minha prima Daniela está grávida do noivo. Ela tem 27 anos, nem é casada ainda, mas vai gerar o primeiro neto do tio Pedro e da tia Maria. Pensei no quanto isso é maravilhoso. No quanto eles estão felizes apesar das pressões de tia Maria para acelerar o casório. É o primeiro da segunda geração dos Lopez em terras americanas.”

“Bom, eu confesso que nunca pensei por esse lado... Até porque, Rachel, você precisa entender o meu lado também. A maternidade pode ser algo que você anseia, mas a minha experiência como mãe foi desastrosa. Por mais que Beth seja uma menina feliz e bem cuidada, isso não muda o fato de eu ter abandonado a minha filha e que ela me odiou por isso. Eu sofro por Beth me odiar porque não há ninguém que ame mais neste mundo. Por outro lado, acho que mereço isso porque é o preço da minha decisão. Pode parecer um absurdo para você, mas é como eu me sinto, ok? Então quando você fala toda entusiasmada sobre em ser mãe, eu penso na merda de mãe que fui para Beth, que não consegui ficar com ela mesmo a amando tanto porque tive medo, porque fui egoísta, porque eu pensei mais no meu futuro do que numa vida ao lado dela. Você pode ansiar a maternidade, mas eu não creio que esteja preparada para ter um bebê. Pelo menos não por enquanto. Eu tenho medo de ser para o nosso bebê a mesma porcaria de mãe que fui para Beth.”

“Quem disse que você foi uma porcaria de mãe, Quinn? Não posso falar nada sobre o peso das suas decisões, até porque se fosse comigo, pela criação que tive, eu teria ficado com o bebê. Mas quando procuro entender o seu caso com Beth, por mais que a sua decisão fosse talvez a mais difícil, por mais que ela te agrida hoje, tudo o que vejo nos seus olhos é amor, paciência, esperança. Concordo que a sua experiência maternal foi traumática até certo ponto, por outro lado, esse amor que você é capaz de emanar para a sua filha só mostra o quanto você seria uma mãe maravilhosa. Sobretudo agora em que as circunstâncias são outras: nós estamos casadas, temos carreiras, casa própria e até uma mansão em Long Island se a gente quiser se mudar para lá, nossa situação financeira é muito boa. Sem falar que a grávida da história será eu, portanto, você estará livre de enjôos matinais e desejos estranhos.”

“Aí que você se engana” – abri um pequeno sorriso – “Porque será eu quem terá de correr atrás para satisfazer os seus desejos estranhos e vou ter que te ajudar com os seus enjôos matinais. Isso sem falar dos primeiros meses da gravidez em que seus hormônios vão estar descontrolados e você vai querer fazer sexo toda hora.”

“Mesmo? Como você conseguiu passar por isso?”

“Comprei um vibrador e muitas pilhas. Você não imagina o sufoco que foi fazer o que tinha de fazer e não soltar um gemido que fosse para os meus pais não desconfiarem.”

Rachel soltou uma gargalhada aberta, gostosa. Fazia algum tempo em que não via a minha mulher assim. Era bom e também um alívio. A alegria de Rachel também me fez rir.

“Pior ainda foi quando me mudei temporariamente para a casa de Finn e de Puck. Carole me jogou no porão e até aí tudo bem, mas na casa de Puck foi o caos porque tinha a mãe fanática dele, a irmã pequena e ele próprio. Se eu soltasse um gemido ou eu seria expulsa ou atiçaria Puck. Estava literalmente entre a cruz e a espada.”

“Isso explica como você consegue ser bem mais silenciosa do que eu.”

Rachel me encarou. Ela se levantou da cama e caminhou os dois passos que nos separavam. Ajoelhou-se diante da poltrona, segurou as minhas mãos e procurou olhar nos meus olhos.

“Então, o que me diz? Vamos tentar compreender mais o lado da outra e concertar o nosso casamento?” – ela apertou um pouco mais as minhas mãos.

“É um esforço que teremos de fazer. Eu prometo que vou pensar mais positivamente sobre a maternidade.”

“E eu prometo que tomarei mais cuidado para que a minha carreira não fique entre nós” – acenamos e ficamos sérias – “Dizem que esses compromissos são selados com um beijo...”

Inclinei-me para alcançar os lábios da minha esposa e trocamos um beijo tênue.

“A propósito” – ela disse quando os meus olhos ainda estavam fechados – “Feliz aniversário atrasado, Quinn.”

Trocamos mais alguns beijos. Interessante é que estava tão frustrada com a minha vida pessoal que eu mesma quase me esqueci do meu 25° aniversário. Um quatro de século. Puxa! Estava ficando velha, mas sentia que a minha vida estava prestes a mudar para algo melhor.










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