Dezembro de 2017

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10 de dezembro de 2017

(Rachel)

Não podia negar que Quinn estava determinada a proporcionar o máximo de prazer para nós duas. Assim que acordamos no dia do nosso aniversário de casamento (nem acredito que havia se passado um ano), ela me deu um presente. Parecia um livro. Abri o papel de presente na expectativa que fosse a nova biografia de Barbra Streisand em fotos que havia sido lançada há algumas semanas. Meu sorriso caiu quando vi a capa: “Lesbian Kama Sutra”.

“Não é demais?” – os olhos de Quinn brilharam.

“Kama Sutra?” – estava incrédula.

“Não gostou? A gente pode usar ele para se inspirar agora” – folheou o livro que tinha fotos eróticas de uma página inteira entre duas mulheres nuas à meia-luz para ilustrar a posição com um texto ao lado com o nome da posição e mais ilustrações, só que de desenhos.

Às vezes tinha dificuldades em entender o empenho da minha esposa em incrementar algo que em não havia tanta necessidade. Nossa vida sexual era muito boa mesmo com a distância que tínhamos de enfrentar de tempos em tempos por causa de nossos compromissos profissionais. Ficava imensamente feliz só em fazer a posição “papai, mamãe” usando nossos dedos ou quando ela tinha a cabeça entre minhas pernas. Lembro que no início da fase sexual do nosso namoro, tudo que fazíamos era basicamente isso. Foi assim por algum tempo, em especial no início do nosso namoro, numa época em que, por causa das interferências de Santana, não conseguíamos ficar entre quatro paredes tantas vezes assim.

As coisas mudaram de figura no início do período da faculdade, quando eu tive a minha breve passagem pela NYU. Uma colega de teatro indicou uma sex shop que atendia a todos os gostos possíveis e imagináveis. Resolvemos visitar. Como muitos lugares do Brooklin, descemos uma portinhola e nos deparamos um lugar enorme no subsolo. Havia sessão para estimulação feminina, estimulação masculina, roupas de fetiche, brinquedinhos como bonecas infláveis, dados, baralhos, chicotes e algemas. Eles vendiam até um jogo de tabuleiro pelo para casais que praticavam o swing. Lá tinha todo tipo de assessório e cosmético.

Depois de uma discussão discreta, Quinn e eu saímos de lá com um estimulador de clitóris e um higienizador. Estreamos no mesmo dia e foi ótimo. Era só um recurso a mais. No mês seguinte, depois que saiu o pagamento dela, Quinn apareceu com um vibrador relativamente pequeno e cor de rosa. Fiquei apreensiva porque era um objeto que requeria penetração e as únicas coisas que haviam entrado em mim até então foram os dedos e a língua da minha então namorada. Naquela noite, tivemos uma conversa. Disse que não precisávamos daquilo para ter uma boa relação. Eu tinha medo de que a nossa vida íntima ficasse condicionada a tais recursos, mas Quinn insistiu que era apenas um complemento, uma descontração e que não usaríamos todas às vezes.

Naquela primeira noite, Quinn se preocupou e me dar todo prazer pelo modo tradicional antes de testar o segundo brinquedo. Eu já estava tão rendida que quando ela o usou em mim, não me importei com o fato do objeto ser maior do que os dedos dela ou que ocupava uma circunferência maior do que dois dedos juntos. Foi ótimo também.

Algum tempo depois, semanas antes de nos mudar para o apartamento no Queens, Quinn veio com a conversa de que gostaria de tentar uma cinta peniana. Aí tivemos uma discussão mais acalorada. Cintas penianas tinham próteses com formato de um pênis. Ou as aberrações que tinha visto naquele sex shop. E se eu estava com uma mulher, qual era o ponto de ter uma estrutura com o formato de um pênis para me dar prazer? Mesmo nosso vibrador fálico lembrava um foguete, não propriamente de um pênis. O problema é que eu tinha o péssimo hábito de perder as discussões referentes à nossa vida sexual.

Não é que Quinn fosse aberta a qualquer loucura. Minha esposa é monogâmica, tal como eu. Esse é o nosso ponto de equilíbrio. Porém, por mais feminina que seja no dia a dia, na cama, o comportamento dela era como de um homem. Gostava de dominar, direcionar, ficar por cima, experimentar coisas novas e requeria habilidade da minha parte contornar tal atitude para que eu também pudesse me impor nos momentos em que ela estava com a confiança de um pavão. Não fiquei espantada pelo fato de ela querer experimentar um pinto de borracha, por tal característica. Mas isso me deixou preocupada, receosa. Além disso, um pinto de borracha era maior do que nossos brinquedos.

Depois de muito falar, acabei por ceder. Quinn me levou ao sex shop e ela mesma disse para que eu escolhesse. Peguei um que correspondia a um pênis de tamanho médio. Fizemos nossas compras, mas não experimentamos o assessório por um bom tempo. Pouco depois de nos mudamos para o Queens, quando nossas coisas estavam mais ou menos organizadas, Santana disse que ia a uma festa da Columbia com Andrew e que não dormiria em casa. Os dois estavam em início de namoro e Santana, no caso de Andrew, sempre preferiu dormir com ele no dormitório dele do que trazê-lo para dentro de casa. Em parte porque ela nunca sentiu que tivesse parte naquele apartamento, já que ela não pagava aluguel e era basicamente sustentada por mim. Foi uma fase interessante de nossas vidas, eu diria.

De qualquer forma, foi naquela noite que conheci o “amiguinho”. Quinn preparou um jantar romântico, a gente foi para o quarto e depois do meu segundo orgasmo induzido pela maneira tradicional, ela pediu para experimentar. Teria de acontecer pelo menos uma vez em algum momento, por isso concordei. Fiquei nervosa. A sensação era de que nós duas estávamos perdendo a virgindade pela segunda vez. Quinn porque seria a primeira vez que ela usava um pênis, e eu por ser a primeira vez em que seria penetrada por um, mesmo que falso. Foi um show de constrangimentos iniciais. Quinn ainda não estava segura em como movimentar-se e eu de receber aquilo. Só a cabeça tinha sido a coisa mais grossa a entrar pela minha vagina e foi um incômodo. Ao menos ela teve a sensibilidade de introduzir devagar e esperou até que eu pudesse me acostumar com aquela nova forma e tamanho. Incomodou no início, Quinn se atrapalhou nas estocadas, deixou o pênis falso sair mais de uma vez. Até que ela encontrou um jeito melhor de se mexer e as coisas entraram nos eixos. No fim, deu certo. Quinn ficou constrangida, prometendo que melhoraria na próxima vez.

Do jeito que a minha esposa é determinada e perfeccionista, cumpriu o prometido. Tal como nossos brinquedinhos, o nosso amiguinho passou a fazer parte de nossa vida sexual. Ele era reservado para as noites especiais.

Apesar de termos de nos submeter a alguns hiatos, nossa vida sexual era muito boa e equilibrada. Sei que ela sofria mais do que eu em nossos hiatos, quando precisava me mudar para Los Angeles, mas a gente contornava e superava esses problemas. Gostávamos do sexo à maneira tradicional, mas também usávamos os brinquedos e amiguinhos com alguma freqüência. Achei que Quinn não fosse mais inventar nada até comprar o kama sutra e, pior, me presentear com ele no nosso aniversário de casamento. Que mensagem que deveria receber com aquele presente? Que ela não estava satisfeita? Que o que fazíamos não era bom suficiente? Que eu fazia errado? Ou será que a nossa vida de casada dependia exclusivamente de um bom sexo?

Folheei o livro.

“É interessante” – disse sem muito entusiasmo – “Nós já fazemos isso” – apontei para uma posição de conchinha – “Qual a novidade?”

“Não é só a posição em si” – Quinn argumentou – “É a forma de como ela é executada.”

“Acho que nós executamos muito bem, obrigada pela consideração” – fui propositadamente irônica e insolente.

“Rachel, seja razoável. É só um kama sutra. É um livro clássico desses que todos os casais deveriam ter.”

“Quinn, eu estou sendo razoável, só que não estou disposta a fazer sexo agora seguindo um manual de instruções.”

“Mas é o aniversário do nosso casamento.”

“Feliz aniversário!” – dei um beijo rápido nos lábios da minha esposa e levantei-me da cama – “Quem sabe você não usa o manual de instruções para fazer sexo com você mesma! Tenho certeza que será incrível.”

Não olhei para trás e nem precisava para saber que ela estava emburrada. Tudo bem, porque eu estava ofendida em receber um presente daqueles de aniversário de casamento. Quando fui a cozinha, reparei na televisão ligada. Andei até a sala e vi que Santana estava deitada no sofá com uma manta nas pernas e uma caneca em mãos. Assistia a reprise de “O Lado Bom da Vida”, filme que eu adorava, desses que só não desejaria ter feito porque eu mesma era fã de Jennifer Lawrence, apesar de ela ser selvagem demais para querer ter qualquer amizade comigo. Mas a gente já se esbarrou em alguns tapetes vermelhos e eventos.

“Levantou cedo.”

Santana olhou para mim com estranhamento.

“Ray, são quase dez horas.”

Era impossível. Como poderia ter acordado tão tarde? Nem mesmo a ampla noite sexual que tive com a minha amada esposa depois de sairmos para dançar com alguns amigos após o teatro, eu, Rachel Berry-Lopez Fabray, teria levantado mais cedo. Sentei-me no sofá ainda um pouco atordoada.

“Acho que eu perdi um pouco a noção do tempo.”

“Normal quando é domingo e está nevando lá fora” – estiquei o pescoço para ver a janela. O dia parecia branco e frio. Fiquei arrepiada só em pensar.

“Odeio inverno.”

“Bobagem” – Santana sorriu – “Você sempre gostou de neve, de músicas de natal e do Hanukkah...” – Santana enfatizou nosso feriado judeu, que eu havia me esquecido completamente neste ano – “Começa em dois dias e vai terminar no nosso aniversário. Não é legal?”

“Pensa em ir a casa de bubbee e zaide neste fim de semana?”

“Vou sim. Apesar de no outro fim de semana ter de ir para Columbus.”

Santana ia passar as festas de fim de ano com nossos pais. O plano era passar o natal por lá e viajar para o Caribe para o ano novo junto com eles. Isso me deixava incomodada. Minha irmã continuava a ir a Ohio com boa freqüência, ao passo que eu estava em falta com nossos pais. No casamento de Frannie, por exemplo, passamos o feriado de ação de graças em San Antonio com Russell Fabray, esposa e com uma Judie Fabray totalmente deslocada. Para ser justa, todas nós estávamos. Mas Santana estava lá com meus pais, comendo do peru preparado pelo meu pai, tomando vinho com minha mãe e brincando com Beth. Estava em falta com eles, com todos eles. Se não fosse pelo meu trabalho na Broadway, provavelmente estaria com eles ou viajaria com Quinn para qualquer lugar tropical só para aproveitar a pausa que ela tinha nas gravações da série.

Ficamos em silêncio para assistir algumas cenas do filme. Os personagens começaram a comemorar e isso me deu a oportunidade de falar casualmente com minha irmã.

“Não vai me dar parabéns hoje?”

“Por quê?” – ela me olhou confusa.

“Não vai me dizer que esqueceu que há um ano você estava ao meu lado no altar no seu papel de madrinha do meu casamento?”

“Oh!” – Santana colocou a xícara sobre a mesa de centro – “É verdade... por isso que você e Quinn chegaram animadas ontem a noite a ponto de me acordar. Tive de escutar o disco da Alicia Keys por inteiro.”

“Desculpe” – infelizmente, para a minha irmã, eu estava um pouco mais vocal do que de costume ontem a noite.

“De qualquer forma, parabéns. Ao menos sei que hoje terei de dormir com as minhas almofadinhas de ouvido. Talvez tome um donaren para chapar no sono.”

“Você deveria sair com seus amigos hoje.”

“Em pleno domingo branco? Não, muito obrigada, mas não quero congelar. Prefiro ficar em casa e ver televisão o dia inteiro. A não ser que você e Quinn tenham planos que me forcem a sair de casa em favor da minha própria sanidade mental.”

“Seria uma ótima idéia” – Quinn respondeu ao entrar na sala. Santana cruzou os braços e eu revirei os olhos. Não estava com boa vontade para a minha esposa naquele momento.

“Como se você fosse ter alguma sorte hoje.”

“Problemas no paraíso?” – Santana provocou – “Não fez direito ontem, Quinn?”

“Santana!” – dei um soco fraco no braço da minha irmã.

“Não é da sua conta” – minha esposa sentou-se na poltrona – “Que filme é esse?”

“O Lado Bom da Vida” – Santana e eu respondemos ao mesmo tempo.

“Nunca vi esse filme por inteiro, mas gosto do livro.”

“É...” – provoquei – “Livros assim são realmente cativantes. Elevam o espírito, não apenas a pélvis.”

Quinn ficou ainda mais emburrada e Santana franziu a testa. Tinha a menor idéia do que estávamos dizendo e eu desejava que permanecesse assim por um bom tempo.

“O quê?” – Santana colocou um sorriso sacana no rosto – “Não vai me dizer que Quinn começou a ler Cinquenta Tons de Cinza ou desses livros derivados? Achei que ela fosse a crítica honorária de alta classe daqui de casa.”

“Vai se lascar” – ela levantou-se da poltrona apontando para minha irmã – “Fique quieta” – o segundo aviso foi para mim. Quinn entrou na cozinha pisando duro, como se tivesse sido atacada e ofendida gravemente. E pensar que eu que era a dramática da casa.

Foi bom saber que a minha adorável esposa estava com peso na consciência. Quinn e eu comemos um verdadeiro brunch em casa por causa da hora avançada. O mais silencioso que já tinha tido em toda minha vida. Só não remoí mais porque não poderia me demorar. Depois da hora do almoço tive de correr para o teatro para a sessão das três horas de Saltimbancos. Era a única do dia, mas havia momentos em que preferia atuar à noite, como em WWBD, e Across The Universe, do que fazer essas matinês. Eu, Rachel Berry-Lopez Fabray, odiava atuar domingo à tarde. A neve que caía naquele instante em Nova York também não ajudava.

No teatro, os resmungos eram gerais. Solano reclamou que a garganta estava dolorida. Talvez melhorasse se ele fumasse menos. Andrea Mills reclamava de um dançarino que a prejudicou em um dos atos na sessão de ontem. Devia ser uma briga doméstica, porque todo mundo sabe que ela e o tal dançarino estão de caso sendo que ela é uma mulher casada e tem um filho de três anos. Não raro o garotinho corria pelos bastidores com a babá imediatamente atrás. Ele era adorável e seria ainda mais admirado se não fosse um pentelho. Gostava de Andrea. Ela era uma boa profissional, mas elenco de teatro era como uma família provisória. A gente passava uma boa parte do tempo juntos e tínhamos nossos altos e baixos. Hoje, por exemplo, eu estava mal-humorada e não enxergava o melhor em ninguém.

Minha maquiagem não estava tão boa, o figurino pinicava e cheguei a questionar a produção de eles tinham recomendado a lavanderia especializada a lavar corretamente as minhas roupas. Usava um único figurino a peça inteira, mas possuía três deles para trocar ao longo da semana. Solano usava uma roupa por semana e quando chegava no domingo, o figurino dele fedia, inclusive a cigarro.

“Como você consegue fumar e cantar?” – perguntei aborrecida antes da peça começar.

“O conhaque faz a parte dele” – Solano sorriu e me deu um beijo provocador no rosto. Revirei os olhos de raiva.

Dez minutos depois ele entrou em cena enquanto eu teria de esperar mais ou menos sete minutos para fazer a minha entrada. Começava em cima de um “telhado” e descia o cenário com ajuda do cabo de segurança. Estava irritada até o momento em que me posicionei para entrar. Depois não. O palco era sagrado e você tinha por obrigação esquecer seus problemas para se dedicar por inteiro àquela história. Era a minha filosofia e era o que procurava fazer. A gata logo me envolveu e ao longo do tempo sequer sentia o fedor do figurino de Solano: mistura de cigarro com suor. Nem mesmo liguei quando Bem Draff, um dos atores secundários, atropelou a minha fala. Acontecia quando se estava desconcentrado. Mas eu não me irritei.

A casa estava razoavelmente cheia naquela sessão. Dificilmente tínhamos um domingo lotado. A platéia era sempre mais infantil, mais barulhenta e acho que mais dispersa. Os dias de semana tinham muito turistas, sobretudo estrangeiros. Semana passada recebi flores no meu camarim de um fã belga que disse que uma das razões para ele ter vindo à Nova York foi para me ver em ação no palco. Eu o recebi, conversei com ele por alguns minutos no camarim e o dispensei assim que ele mencionou as cenas inspiradoras de sexo que fazia em Slings and Arrows. Era o problema da HBO. Fiz uma temporada irretocável, mas na mente de alguns tarados o que ficou foram as duas cenas de sexo com nudez que fiz junto com Rom. Foram duas únicas ocasiões que nós dois ficamos nus em pelo no estúdio, mas tudo bem porque já estávamos acostumados e éramos profissionais. Havia pessoas, porém que levavam isso muito à sério, infelizmente. O fã belga deixou claro com um elogio que veio à Nova York tentar a sorte comigo porque me confundiu com Kath. Apesar da minha personagem e eu sermos atrizes de teatro, éramos completamente diferentes. Outra, Kath era apenas uma ficção, mas vai explicar isso para algumas pessoas. É difícil e impressionante como muitos se onfundiam. Por isso, sorri com educação ao fã belga, tirei uma foto e o dispensei. Mas a minha vontade era de chamar os seguranças para tirar aquele tarado dali.

Na Broadway, e isso aconteceu com todas as peças que fiz, as grandes noites sempre eram sexta e sábado. Eram os dias de casa cheia. No sábado, costumávamos receber visitas ilustres. Podiam ser diretores, produtores e colegas de Hollywood. Foi em sábados que a maioria dos meus companheiros de Slings and Arrows vieram me prestigiar. Não só eles. Recebemos algumas visitas inesperadas, como a de Zach Efron e de Olivia Wilde. Quando ela soube que eu era vegetariana, tratou logo de trocar informações sobre bons restaurantes em Nova York.

Mas isso costumava acontecer no sábado. Estávamos em pleno domingo com a platéia de crianças, barulhenta, dispersiva e com o teatro 60% ocupado.

“Odeio domingo” – Wilson Romanov resmungou quando saiu do palco

Era confortador saber que o mais profissional e sensato ator do elenco também odiava atuar numa matinê de domingo. Uma pena que os produtores não quiseram abrir mão da nossa presença nesse horário da mesma forma em que fazem nas outras duas sessões matinês da semana em que nossos substitutos atuam.

Por volta das cinco da tarde, estava no meu camarim retirando a maquiagem numa rotina por vezes cansativa.

“Senhorita Berry, tem uma visita que gostaria de te ver” – ouvi a voz abafada pela porta de Carol.

“Eu disse que hoje não receberia, Carol” – gritei impaciente enquanto continuava o trabalho de me despir da minha personagem.

“Mas a visita disse que é importante.”

Perdi a paciência. Vesti o meu roupão e abri a porta enfurecida. Deparei-me com uma Carol assustada e atrás dela a minha esposa com um buque de rosas vermelhas em mãos. Amoleci. Mas só um pouco.

“Entra.”

Fechei a porta assim que Quinn passou e estava decidida a dar uma de durona. Fiquei distante e cruzei os braços.

“Oi” – Quinn disse com um sorriso tímido.

“Oi” – respondi seca.

“Trouxe essas doze rosas vermelhas para a minha bela esposa. Não vai aceitar?”

“Vai sair daí de dentro algum filme pornô lésbico para a gente assistir antes de se atracar na cama?”

“Olha, Rach, desculpe pelo livro” – ela parecia derrotada e por um momento – “Foi basicamente uma piada que não deu certo que planejei no decorrer da semana. Sinto muito se isso passou a mensagem errada.”

Não respondi. Não queria falar para não dar uma resposta mal-criada suficiente para nos fazer brigar feio no dia do primeiro aniversário do nosso casamento.

“Juro que o livro foi apenas isso, Rach” – se aproximou devagar – “Uma piada. Eu jamais marcaria uma data importante como essa te presenteando com aquilo. Você é uma mulher incrível, não precisa de artifício nenhum para me completar em todos os sentidos. Basta ser você mesma e eu serei a mulher mais feliz e realizada do mundo. Aliás, eu já sou, Rach, porque está comigo.”

Ela estendeu o buquê e eu o aceitei. Cheirei o perfume das rosas rapidamente antes de segurar a mão da minha esposa e puxá-la para um beijo.

“Está perdoada. Sei que não fez por mal. Embora” – levantei o dedo em advertência – “Você passe uma péssima mensagem com esse tipo de atitude, como se eu não fizesse o bastante para te satisfazer. Eu tento, Quinn.”

“Rachel, eu sou feliz até quando tudo que fazemos na cama é deitar a cabeça no travesseiro e dormir. Eu sou feliz assim, nesses momentos mais simples e inocentes, porque eu tenho a sorte de estar ao seu lado” – colocou a mão dela e acariciou o meu rosto – “Eu sou feliz quando tomamos café da manhã juntas, quando conversamos sobre coisas banais, quando você canta pela casa, quando te vejo realizada em cima de um palco de teatro. Eu sou feliz por estar casada com a mulher mais incrível e bonita por dentro do fora que existe” – ela me beijou com suavidade ímpar e minhas pernas ficaram trêmulas. Quinn tinha a capacidade de me tirar do sério e de me fazer a mulher mais feliz e derretida do mundo num período de 24 horas.

“Eu também sou muito feliz ao seu lado. Você me realiza, Quinn, embora há momentos em que gostaria de te esganar por você ser uma cabeça dura, machista e individualista.”

“Acho que isso faz parte de estar num casamento, certo?”

“É” – nos beijamos mais uma vez.

“Bom, que tal você terminar de se arrumar? Nós temos uma reserva no seu restaurante vegetariano preferido.”

“Você vai me levar para comer no Pure Food & Wine?”

“Reserva para dois com champagne Gonet-Médeville pré-ordenado.”

“Parece bom. E fico feliz por você comer comida vegan para variar. Quem sabe não toma gosto?”

Quinn riu e eu aceitei. Tomei uma chuveirada expressa no vestiário do teatro e me vesti. Se soubesse que a minha esposa me buscaria para uma ocasião especial, teria vindo com uma roupa melhor do que minhas calças grossas, minhas botas, meias grossas, camiseta lisa, casaco grosso e cachecol. Quinn estava melhor arrumada, o que considerei uma desvantagem cruel porque até quando parecia uma mendiga, ela era linda.

Saímos do teatro direto para o restaurante. Quinn reservou uma mesa reservada suficiente para o arranjo à luz de velas tivesse efeito. Imediatamente o garçom nos serviu com o champagne pré-ordenado, que Quinn apenas teve o trabalho de acenar antes do líquido ser despejado em nossas taças. Numa uma bebida alcoólica desceu tão doce.

A mim coube pedir os três pratos que constituíam o menu. Primeiro prato nada melhor do que uma salada verde com uvas vermelhas, pistache crocrante, e tofu temperado com especiarias indianas. Segundo prato seria a lasagna de tomate com massa de arroz e abóbora que era a especialidade da casa. O terceiro prato escolhido foi maçã flambada com vinho e canela.

“Bonito sempre é” – Quinn ergueu uma sobrancelha. Sabia melhor que ninguém que ela odiava comida vegan e orgânica e que sempre fazia um belo esforço para estar ali só para me agradar. Quanto a isso era grata.

“Você vai gostar do tempero.”

Comemos e fizemos pequenas observações sobre os pratos. Sabia perfeitamente que Quinn achava tudo sem-graça, mas era adorável ver o modo em que ela comentava a disposição de cada um, de como apreciava a decoração, como a folhinha de hortelã fixada em cima das maçãs flambadas.

“Então?” – perguntei antes de limpar a minha boca no guardanapo.

“O champagne é espetacular” – demos uma risada e eu virei os olhos. Quinn era impossível – “Mas eu apreciei. A lasanha com massa de arroz estava boa e você sabe que gosto de maçã com canela.”

“Fico feliz que tenha apreciado minhas sugestões.”

O garçom foi até a nossa mesa só para colocar mais champagne em nossa taça. Quinn aproveitou a ocasião para pegar um pacote pequeno dentro da bolsa e passou para mim.

“O livro não era o seu presente verdadeiro” – ela disse antes de eu abrir o presente.

Ela me encarou nos olhos e gesticulou para que eu abrisse a caixinha. Tirei o laço e a tampa, lá dentro havia um estojo de uma jóia. Abri e sorri com o par de brincos em formato de gota, todo trabalhado. No centro dele havia o formato discreto de uma estrela. Era elegante e singelo.

“Para você sempre se lembrar da estrela singular que é.”

Sorri e senti vontade de beijá-la em público. Mas não poderia. Limitei-me a segurar a mão da minha esposa e a limpar uma lágrima sincera que escapuliu.

“Eu também te comprei um presente” – disse ainda admirando o meu – “mas na confusão pela manhã eu não te entreguei. Se soubesse...”

“Você terá a oportunidade de me entregar esse presente amanhã.”

“Amanhã?” – estranhei.

“Porque hoje nós vamos ocupar uma bela suíte do The Alex Hotel.”

The Alex Hotel era um dos hotéis cinco estrelas mais interessantes de Manhattan. Estava surpresa e até um pouco preocupada por Quinn gastar tanto dinheiro para um dia só sabendo que ela não ganhava tão bem assim na Bad Things, apesar de tudo. Verdade que cinco mil dólares é um salário desejado por muitos, mas não sustenta aqueles luxos sem uma boa economia. Ela não disse se já estava tudo planejado com antecedência ou se arrumou tudo em uma tarde. Confiava mais na primeira opção, embora isso não fosse importante naquele momento.

Saímos do restaurante em direção a Murray Hill. Deixamos o carro em frente e o manobrista nos olhou com certa malícia ao ver que não tínhamos bagagens. Falta de bagagens significava noite sexual. Não era incomum e eu pouco me importava com o que o funcionário pensava. Quinn tratou das burocracias na recepção e logo estávamos subindo no elevador em direção à suíte. Era um quarto de decoração muito elegante. Quinn me observava de perto enquanto eu inspecionava o lugar. Dei uma olhada na paisagem da janela. Era urbana, tal como lá em casa, e ao mesmo tempo única.

Quinn se aproximou devagar e ligou o sistema de música ambiente que havia na suíte. “True Love Ways”, de Buddy Holly. Nossa música. Ela pegou na minha mão com uma suavidade que por vezes esquecia que ela era detentora. Colocou o meu corpo junto ao dela e dançamos.

“Sometimes we’ll sigh/ sometimes we’ll cry/ and we’ll know why/ Just you and i/ know true love ways.”

Ela cantou baixinho acompanhando a voz melodiosa de Buddy Holly. Meu coração disparou ao lembrar da primeira vez que Quinn fez isso, cantar tão próximo ao meu ouvido e essa mesma canção. Por isso que ela era a nossa canção. Eu estava em McKinley High, ainda em Lima, Santana e eu discutimos porque ela havia dito que se mudaria para Nova York depois de passar no teste de admissão de Stuyvesant. Senti como se ela estivesse me abandonando. Então saí correndo, chorando, e me escondi numa sala vazia. Quinn me seguiu, me consolou e cantou essa música. Então nos beijamos e ela me envolveu nos braços. É uma das memórias mais preciosas que tenho.

“Eu te amo, Rachel. Com todo meu coração e alma” – ela disse quando outra canção lenta começou.

“Eu também te amo, Quinn. Você não imagina o quanto.”

Ela acenou e se inclinou para me beijar ainda sob o balanço da música romântica. Primeiro fez nada além de roçar os lábios dela nos meus. Era incrível o efeito que um toque tênue poderia produzir. Senti o meu coração bater forte, minhas pernas bambearem. Estava enfeitiçada, por Quinn Fabray e completamente entregue. Quinn aprofundava o beijo aos poucos e eu fazia o meu máximo para não atravessar o ritmo, ir a compasso lento para apreciar o momento o máximo que podia.

“Estou tão feliz” – o sorriso dela era sincero, genuíno, comovente.

“Somos duas.”

“Sabe que não precisamos fazer nada aqui” – procurou me assegurar.

“Eu quero” – escorreguei a minha mão que enlaçava os ombros para um dos seios dela.

“Como?”

“Suave” – dei um leve beijo nos lábios como se estivesse pontuando – “Sem pressa” – outro beijo – “Sem artifícios.”

Quinn acenou.

“Leu meu pensamento” – e me beijou.

Não tivemos pressa de ir para cama. Dançamos mais uma música lenta trocando beijos tênues.

“Por que eu nunca conduzo na dança?” – reclamei só para provocá-la.

“Porque eu sou maior que você e ficaria estranho” – riu um pouco.

“Eu gostaria de dançar assim contigo mais vezes.”

“Eu também...”

Nossa dança foi interrompida momentaneamente pelo serviço de quarto. Quinn atendeu a porta, pegou um carrinho com uma champagne e petiscos. Foi rapidamente até a bolsa, entregou a gorjeta e fechou a porta.

“Uau, você realmente planejou o nosso aniversário.”

“Apesar de eu apreciar a maçã flambada com canela” – ela abriu a garrafa – “Champagne com morangos é bem melhor.”

Serviu nossas taças, pegou um morango e, sedutoramente, o levou até a minha boca para que eu mordesse a metade. Então me beijou e entregou a taça. Comeu a outra metade do morango, provou da bebida e nos beijamos. Foi o momento em que ela me conduziu até à cama. Tirou a taça da minha mão e colocou junto com a dela no carrinho de petiscos.

“Não se esqueça de colocar a rolha de volta para não perder o gás.”

“Bela observação para quebrar o clima, Rach!” – gargalhamos.

Quinn retirou as minhas botas, minhas meias e beijou meus pés. Ela própria sentou-se ao meu lado e começou a despir-se. Primeiro as botas e meias. Depois levantou-se e começou a tirar o restante das peças num striptease preguiçoso. Quis ajudá-la, mas ela se recusou. Fiquei boquiaberta quando ela revelou a lingerie nova, preta, sexy.

“Uau!” – admirei o corpo da minha esposa e fiquei com vergonha da minha calcinha e sutiã comum. Não era justo.

Quinn inclinou-se até mim, me beijou e retirou a minha blusa e depois a minha calça. Conduziu-me até o centro da cama e ficamos sentadas. Ela retirou o resto do que ainda cobria o meu corpo, nos encaixamos ainda na posição sentada, com as minhas pernas por cima das dela e começamos a nos acariciar. Minhas mãos corriam pelo copo dela, pelo abdômen, passando pelas costa até que abri o sutiã. Livrei-a da peça e acariciei os seios da minha esposa em quanto nossos lábios viajavam por nossos maxilares, ombros, pescoço, orelhas, lábios. Tudo ao nosso tempo. Quinn massageava gentilmente minhas coxas, parte das nádegas, minhas costas, seios. Até que tive o bastante.

“Preciso de você” – sussurrei no ouvido dela.

Quinn sorriu e acenou. Deitou-se por cima de mim, encaixando o corpo entre as minhas pernas. Beijou-me e começou a descer pelo meu corpo.

“Não” – puxei-a para cima – “Quero olhar para você e quero que a gente goze juntas, se possível.”

“Melhor ainda.”

Quinn retirou a calcinha e mudamos de posição, ficamos de lado uma encarando ao outra e encaixamos nossos corpos para adequar a nova posição. Minha mão trafegou pelo corpo dela, sempre me direção ao sul, enquanto ela fez o mesmo. Meus dedos entraram em contato com o sexo da minha esposa e sorri com a umidade que encontrei por lá. Eu a desejava e era desejada. A sensação era indescritível. Estimulamos nossos clitóris em movimentos lentos e circulares. Era difícil manter a sincronia quando o prazer já tomava o corpo em ondas. Senti os dedos de Quinn na minha entrada e era o sinal para fazer o mesmo. Nos penetramos num movimento rápido. Estava tão envolvida no momento que quase tive um orgasmo ao menor sinal dos dedos da minha esposa dentro de mim.

“Vá devagar” – instruí – “Mas firme, por favor” – procurei dar o meu máximo para fazer nela exatamente o que queria em mim.

“Rach” – o sussurro de Quinn era um indicativo de que estava com problemas para se segurar. Quinn estava muito próxima, desesperada para que eu acelerasse o ritmo. Quis cuidar dela. Embora Quinn continuasse a cuidar de mim e eu estivesse próxima, quis cuidar do prazer da minha esposa. Por isso acelerei meus movimentos e fui firme o máximo que podia.

“Oh Rach!” – senti os movimentos dela cessarem dentro de mim, mas não me importei. Queria dar isso a ela – “Estou quase...” – as frases lhe escapavam, as palavras se engasgavam. Quinn, sempre tão mais controlada na cama, se permitiu gemer alto. Ela me abraçou mais forte, mordeu os próprios lábios.

“Olha para mim” – ordenei e ela abriu os lindos olhos cor de amêndoa, mas que estavam escurecidos àquele momento, as pupilas estavam dilatadas, a pela muito alva estava rosa, vermelha em alguns lugares. Havia suor em nossos rostos, escorrendo em nossos seios, pelo corpo inteiro.

“Rachel!” – ela gozou. Era sempre uma visão linda, em especial quando fazíamos amor, como naquele instante. Era indescritível a sensação de ter Quinn nos meus braços quando ela ainda tremia e se sentia fragilizada após a onda de prazer.

“Você é linda” – tirei um cacho dos cabelos loiros que caíram sobre o rosto.

“Obrigada” – sorriu frouxo, realizada – “Mas você é muito mais.”

“Quer tirar uma soneca?”

“Não” – senti os dedos dela voltarem a se mover dentro de mim – “preciso terminar uma coisa antes.”

Não estava distante do orgasmo. Quinn logo acelerou o ritmo e eu já estava reagindo vocalmente à estimulação. A onda de prazer tomou conta do meu corpo e veio forte, tão forte que minha visão embaçou. Ela veio acompanhado do grito nos meus lábios.

“Quinn!”

Meu coração palpitava feito um louco no meu peito. Estava feliz. Era feliz. Olhei para o rosto lindo da minha esposa, que sorria genuinamente para mim.

“Isso foi... lindo” – ela retirou-se e me abraçou.

“Foi lindo. Obrigada pelo lindo presente e casamento.”

“Obrigada você.”

Sem querer desfazer do abraço completamente, Quinn esticou um dos braços agarrou o edredom que cobria a cama e o puxou para cima de nós. Adormecemos juntinhas, tanto que parecia que não havia espaço entre nossos corpos, envolvidas num casulo quentinho. Mal podia esperar pelo nosso próximo aniversário de casamento.


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