•Capítulo Dezesseis•

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Entrei no carro, ignorando o cavalheirismo fingido de Soszac ao abrir a porta para mim, ele só estava fazendo aquilo porque tinham várias pessoas nos assistindo.

Me sentei e puxei a pequena presilha que prendia o véu na minha cabeça, e deixei o tecido fino cair no chão acarpetado do carro.

Soszac entrou ao meu lado e bateu a porta com força, o que me fez pular com o susto. Olhei para ele nervosa, querendo arrancar a linda cabeça morena dele.

— Qual é o seu problema? — exclamei irritada, ignorando as pessoas aplaudindo na frente da igreja enquanto Soszac arrancava com o carro.

Ele me ignorou, malditamente, me ignorou. Estreitei os olhos, tentando não olhar muito em como o seu maxilar estava tenso, o músculo mexendo insistente.

Assim que saímos da vista dos convidados, entramos em uma rua movimentada, cercada por barracas de feira dos dois lados.

Me recostei contra o banco, cruzando os braços na frente do peito, carrancuda. Fodido Soszac, falava só quando queria e na maior parte do tempo me ignorava, não, claro, menos quando queria fazer sexo.

— Você não está usando o vestido que eu escolhi. — ele disse de repente, fazendo-me tirar a minha atenção da rua e voltá-la para ele.

— Só podia ser você, pelo mal gosto.

Soszac puxou a respiração com força, os nós dos seus dedos ficando brancos quando ele apertou o volante e virou a rua bruscamente, quase passando por cima de um homem.

— Você está maluco? — berrei, agarrando o couro do banco com firmeza.

Soszac não se importou, ele pisou firme no acelerador, fazendo várias pessoas saírem do caminho do carro, o motor rugia alto, alertando a todos do perigo se aproximando.

— Pare esse carro! Soszac! — meu coração quase saltou pela minha boca quando ele virou mais uma curva, em uma rua estreita, e sem saída. — Aaaaaahhhh!! — gritei assustada enquanto a parede se aproximava rapidamente, coloquei os braços na frente do rosto, nem um segundo depois, o carro deu uma guinada brusca.

Puxei o ar com força, tentando desacelerar a minha respiração acelerada, sentindo o meu coração bater com força dentro do meu peito.

Levantei o olhar para cima, o carro estava a poucos centímetros da parede, atrás de nós, no início da rua estreita, várias pessoas olhavam para o carro assustadas.

Olhei para Soszac, sentindo que poderia matá-lo ali mesmo.

Ele ainda segurava o volante, estava ofegante, os olhos escuros fitando a parede na frente dele.

— Você é um fodido, seu maluco! — gritei, empurrando ele com força, e comecei dar vários tapas nos seus ombros e peito. — Fodido, fodido, fodido filho da puta! — gritava a cada tapa.

Soszac agarrou os meus pulsos com força, apertando e me balançando como se eu fosse uma boneca de pano.

— Me solta! — exclamei, tentando puxar os pulsos do seu aperto.

Mas Soszac me fez parar, olhando dentro dos meus olhos com aqueles olhos quase negros.

— Fique quieta, e cale a boca. — vocíferou, e eu parei. Não por que ele mandou, mas pelo seu tom, sombrio, frio. Nunca o tinha ouvido usar esse tom antes.

Engoli em seco e o olhei de volta, tentando  manter uma expressão firme e não a amedrontada de agora.

— Por que você não usou o vestido que eu escolhi? — perguntou, com uma calma calculada.

Abismo Mortal | Série" Camorristas" | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora