•Capítulo Cinquenta•

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Soszac

Me levantei rapidamente e peguei a chave do carro de cima da mesa do meu escritório na boate. Vincenzo se levantou imediatamente, tão atordoado quanto eu. Acenei para ele me seguir.

— Malditos! — amaldiçoei, ouvindo Tiziana gemendo de dor do outro lado da linha. — O que eles fizeram com você? — odiava pensar em tudo o que eles podem ter feito com a minha menina, afinal, eles tiveram tempo de sobra.  Porra, por que eu sempre tinha que estragar tudo? Se eu não tivesse saído, ela não estaria em apuros agora!

— Eu estou bem, só... Um pequeno machucado. — ela respondeu, gaguejante.

Entrei no carro, Vincenzo entrou ao meu lado e eu saí em disparada pela rua, segurando o celular entre o meu ombro e o ouvido.

— Porra! Que porra! — gritei, virando na avenida e acelerando mais. — Fique onde está.

— Não tem como eu sair... — ela parou de falar, e isso só me deixou ainda mais doente de preocupação.

— Onde está Franco? — perguntei, pensando em porquê não fora ele quem me ligou.

— Franco... Ele... Franco morreu. — respirei fundo, sentindo uma sensação estranha ao ouvir aquilo. Franco sempre estivera comigo, ele era o mais novo de nós, Stefano, Vincenzo e eu. Ele era o nosso protegido. — E Kara, Kara...

Olhei para o lado no mesmo momento, o celular deslizando para baixo em meu colo. Vincenzo tinha seu olhar fixo em mim, parecia frio, como eu, mas eu podia ver a sua preocupação. Não falei a ele sobre a sua mulher, virei e entrei no condomínio, indo para a mansão. Assim que cheguei na estrada ladrilhada antes da fonte, pude ver todos os meus soldados.  Mortos. Um verdadeiro banho de sangue. Estacionei o carro perto da fonte e saí do veículo, deixando que Vincenzo me seguisse, e corri para dentro da mansão.

Parei na porta da sala de estar principal, procurando por Tiziana. Ela estava bem ao meu lado, no chão, atrás de uma das mesas de canto, perto do corpo de Franco. Corri para ela e me abaixei ao seu lado, vendo o sangue saindo da sua coxa. Todo o meu corpo gritou com urgência, não pensei, arranquei a camisa do meu corpo e segurei a sua coxa.

— Vincenzo... — ouvi ela murmurar, só então olhei sobre o ombro, no exato momento que Vincenzo entrou na sala de estar com sua arma na mão e viu o corpo de Kara.

Ele ficou parado por um momento, pude ver a máscara fria caindo, seu rosto sendo tomado pelo puro tormento. Ele correu até o corpo da sua mulher e se jogou de joelhos ao seu lado, em cima da poça de sangue que cobria o chão.

— Kara! — chamou, agarrando o corpo dela em seus braços e apertando-o contra ele.

Vincenzo sabia que ela estava morta, mas eu o entendia agora, e sentia muito por ele, eu não sabia o que faria sem Tiziana. Ao pensar nisso, voltei-me para ela e a puxei para mim, dando-lhe um abraço forte. Ela retribuiu, soluçando em meu peito, suas mãos agarrando a minha pele como se eu fosse tudo para ela.

— Me desculpe, gatinha. — murmurei contra os seus cabelos, apenas sentindo enquanto ela se apertava contra mim, sua barriga redonda entre nós.

— Kara... — Vincenzo chamava atrás de nós, desesperado. — Oh meu deus, Kara... Kara... Porra!

Soltei Tiziana e segurei o seu rosto, olhando em seus olhos abatidos e seu rosto manchado de sangue.

— Espere aqui, preciso ajudar Vincenzo. — ela concordou imediatamente. Peguei o meu celular e dei a ela, já discando o número do médico da Famiglia. — Mantenha pressionado, fale para o médico vir imediatamente. — ela concordou, colocando a mão sobre a minha camisa em sua perna.

Me levantei e fui até Vincenzo, que tinha o corpo de Kara em seu colo, balançando e cantarolando em seus cabelos.

Olhei para o peito da mulher, estava destroçado por tiros, os russos fizeram isso com um propósito, e eu sabia qual. Olhei sobre o ombro, para Tiziana que falava em meu celular. Era para ser ela, mas por algum motivo, Kara morrera em seu lugar.

Me abaixei ao lado de Vincenzo e toquei o seu ombro, ele levantou o seu olhar para mim, feroz.

— Ei. — olhei para o rosto de Kara, ela já perdera a cor, mas o corpo ainda estava quente. — Eu sinto muito.

Ele apenas meneou a cabeça e voltou a enfiar o rosto nos cabelos da mulher, inspirando profundamente. Eu o  entendia, pois faria o mesmo se fosse Tiziana.












Vincenzo

Apertei seu corpo mais forte contra o meu, sentindo, apenas sentindo. Todas as nossas noites, juntos, a risada dela, tão suave. Sua arrogância sem limites, o olhar que ela me lançava quando fazíamos amor. Tudo aquilo estava voltando, girando e girando na minha mente. Todos aqueles momentos de felicidade, momentos em que esqueci completamente esse mundo fodido que eu vivo, toda essa merda do caralho que eu tinha que fazer, que me fazia perder tempo com ela.

Porque porra, essa mulher entrou na minha vida, se era para morrer no final? Não, não final, no começo. Tão jovem, tão doce, tão linda.

— Não... — murmurei em seus cabelos, sentindo malditas lágrimas queimando em meus olhos. — ...por que, Kara? Por quê?

Ela não me respondeu. Não ouve resposta, apenas o silêncio. Fechei os olhos, apertando-os com força, querendo que aquilo fosse apenas um pesadelo. Nada aconteceu, tudo continuou em silêncio, podia ouvir ao fundo a voz de Tiziana falando com alguém.

Passaram-se alguns minutos e eu ainda abraçava o corpo de Kara contra mim. O sangue que saía do seu peito destroçado molhava a minha camisa social. Eu não me importava com isso, queria apenas que a minha mulher ficasse perto.

Os malditos russos não apenas a mataram, eles acabaram com a minha mulher, e eu malditamente faria-os pagar da pior maneira possível.

Eles gostavam de sangue, eu os daria um monte dele.











Tiziana

No dia seguinte...

Passei a mão pela colcha tricotada, tentando não me desesperar por Soszac ter ido na cozinha pegar algo para comermos. Vincenzo permanecia em silêncio na cadeira ao lado, não saíra da mansão desde ontem.

— Era para eu ter morrido. — falei finalmente, deixando o constrangimento de lado. Olhei para Vincenzo, mas ele permanecia com o seu olhar no chão, seu rosto duro como pedra. — Eles confundiram Kara comigo, porquê eles não sabiam que eu estava grávida. Eu tentei contornar esse erro, mas ela me impediu.

Ele continuou calado, olhando para o chão, suas mãos juntas no colo.

— Ela disse-me para dizer a você, que ela o ama. — Vincenzo olhou para mim, a dor e o tormento que vi em seus olhos fizeram o meu coração parar por um momento e voltar a bater rapidamente.

— Eu também a amo. — ele disse, rouco.

Estendi os meus braços para ele, e surpreendemente, ele se levantou de onde estava sentado e veio até mim, se abaixou, e me abraçou com força. Suspirei, deixando as lágrimas escaparem dos meus olhos, precisando reconfortá-lo.

— Eu vou vingá-la. — ele disse, antes de se afastar e sair do quarto, me deixando ali sozinha.




























Espero que tenham gostado!

Abismo Mortal | Série" Camorristas" | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora