79☆ Sem acordo

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Os tempos sombrios chegaram. O número de mortes cresce a cada dia, os comensais não se escondem mais. Sou convocada muitas vezes para mudar o destino de algumas pessoas, mas ainda são muitas vidas que chegam ao seu fim. Algumas por minhas mãos.

Por pior que seja a pessoa ainda vejo o medo em seus olhos. As vezes me sinto como um fantoche. Outras apenas me conformo, eu escolhi este caminho afinal. Perder a pessoa que foi afastada por tanto tempo estava fora de cogitação. É isso que a guerra causa nas pessoas: desespero medo, dor e mudança.

A volta parcial de Régulus à mansão gerou conflito, obviamente. Muitas horas de discussão com meu pai que resultou em uma concordância relutante. A poção estará pronta em dois dias e com sucesso, Régulus lembrará quem é.

O problema dessas brigas internas é que vão quebrando a confiança. Meu pai não soube lidar com o fato do irmão estar vivo. Tem mais de semana que não direciona a palavra a mim. E isso dói. Cada vez que ele me ignora é como se uma parte de mim se rompesse.

Como chorar as dores não é algo que eu faço, estou no Caldeirão Furado agora. Talvez a esperança de que se eu beber o suficiente, minha vida se torne mais leve. (Me pergunto quanto álcool é preciso para limpar a alma?)

_ Outro. – peço erguendo o copo.

_ Já chega, Black, vá pra casa. – John, o garçom, fala detrás do balcão.

_ Não quero ir pra casa, só quero outro uísque. – falo pausadamente, balançando o copo vazio novamente.

_ Você já bebeu duas garrafas, não sei como está de pé ainda. – (Como assim, eu nem ao menos sinto?) – Se seu plano é ficar bêbada e esquecer, claramente não dará certo.

Derrotada, me levanto e pago a conta. Saio do bar e resolvo caminhar pela Londres trouxa. Pelo visto minha regeneração também se aplica ao álcool. Era divertido quando alguém me torturava e eu não sentia, mas não vejo vantagem nisso. (Poxa, nem pra encher a cara.)

"Devia me agradecer."
(Pelo que exatamente? Ferrar minha vida por completo não é algo que eu pedia ao Papai Noel.)
"Está mais forte, não se machuca, pode viver eternamente..."
(Faça me rir, é isso que você chama de presente? Vida eterna? Força? Eu preferia continuar sendo fraca, dada as consequências.)
"São apenas detalhes, coisas sem importância."
(Sua definição de importante deveria ser revista.)
"Com o tempo vai aprender a superar, acredite o que eu te ofereço é bem mais vantajoso..."
(Você não tem mesmo ideia do quanto eu te odeio, não é?)

Não dou mais ouvidos a voz irritante de Medy. Começo a pensar tudo o que tenho feito. Todas as missões tanto para a Ordem quanto para Morte. As aulas escondidas que tenho dado a Draco. O garoto aprende rápido e tem um estilo preciso e impiedoso de ataque.

Tive um ataque de riso quando ele conseguiu o primeiro patrono corpóreo. Com todo o seu orgulho e ar de superioridade, não é de se admirar que sua representação fosse um Hipogrifo. Mas não me impediu de lembrar o incidente com o Bicuço.

Quando percebo estou em um beco isolado da cidade, muito longe do Caldeirão Furado. No fim dele a um homem escorado na parede, sendo iluminado pela luz trêmula de um poste. Caminho até ele. Está com um ferimento facilmente curável no abdômen.

Observando melhor, noto que já o conheço. É um auror, o mesmo que interrogou minha mãe quando Pad fugiu. Seu estado não é grave, mas não impede que a ordem seja dada. Puxo o capuz do moletom que visto por baixo da jaqueta e me aproximo.

_ Q...quem é você? – ele resmunga ao sentir minha presença.

_ Isso não importa. Seu tempo acabou. – falo sem expressão.

_ Do que... está falando? – ele se assusta.

_ Seu ferimento não é letal, mas servirá de desculpa. Queria não ter que ser eu a fazer isso, sinto muito, mas é meu trabalho.

_ Espere. Deve haver um jeito de mudar... E se... se entrarmos num acordo

_ A Morte não faz acordos. – estendi a mão, retirando até seu último suspiro de vida.

Me virei não sentindo remorso, e segui meu caminho de volta ao Largo. Parece cruel pensar assim, porém a horas que não sinto nada. Minha função é encaminhar almas ao seu devido lugar. Seja para permanecerem vivas ou não. Talvez seja por causa de Medy que não sinto pena deles, ou por bondade de meu mestre. Seja o que for, tem vezes que agradeço.

Ao por os pés dentro da mansão, vejo uma luz prateada vinda da sala. Quando entro no local, vejo um lobo translúcido que logo some. Remus está parado com o semblante confuso e apavorado.

_ Pra quem o mandou? – perguntei o assustando sem querer.

_ Não era meu. – ele fala baixo e eu o olho questionando. – Era Tonks... Hogwarts está sendo atacada.

Mas já? Como se minha noite já não estivesse péssima.

_ Vamos ajudá-los. – digo o puxando para que possamos aparatar.

_ Não vai avisar os outros?

Quem? Papai não pode sair de casa, assim como James e Lily. Gideon e Fabian estão em repouso por terem sido atingidos ao se disfarçar e ir até Godric's Hollow ajudar em uma missão. Mamãe está ocupado com Nash e de jeito nenhum deixarei que Anne saia hoje, não depois de ter se ferido tanto nessa semana.

_ O resto da Ordem já deve estar a caminho. – disse firme e nos transportei até o último ponto de aparatação possível perto do castelo.

Deixei Remus para trás, me transformando afim de correr mais rápido. Sobre a imponente edificação se podia ver o crânio verde flamejante com uma língua de cobra.

Ao passar pelo grande portão me deparei com vários comensais, já em duelo com professores e membros da Armada. Me coloquei em posição de combate.

Atacando dois brutamontes que cercavam Luna contra uma parede. Um deles desviou e veio para cima de mim. Eu desviava ao máximo suas investidas, mas num momento de distração fui atingida pelas costas.

Ao cair minha varinha rolou para longe, me obrigando a repelir os ataques apenas com as mãos. Meu corpo fervia e eu já tinha noção do que aconteceria a seguir.

Me deixando levar pelo calor da luta, ascendendo minhas mãos, tranformei-as em lança-chamas. Com isso mantive o maior número de comensais afastados, queimando os que atravessavam meu caminho até recuperar a varinha. O poder destrutivo é limitado, embora eu tenho melhorado muito com o tempo.

O fogo foi diminuindo e se tornou limitado apenas para fazer um círculo ao redor de Nigel que era atacado por Greyback. Gui ao ver o pequeno garoto cercado foi pra cima do Lobo. Em fração de segundos Greyback se virou, atingindo uma mão em cheio no rosto de Gui.

Em desespero corri ao encontro do Weasley, enquanto o Lobo avançava para os andares superiores junto de mais alguns comensais. Gui estava inconsciente e com ferida grandes. Tentei ao máximo usar minhas habilidades curativas, mas apenas fez com que diminuísse o tamanho dos cortes.

Foram feitas por um lobisomem afinal, nada poderia cura-las. O afasto para se encostar na parede até que madame Pomfrey chegue e lhe ajude. No que levanto, avisto Snape e Draco saindo as pressas do castelo.

Um breve momento meu olhar se fixa em Malfoy. Seu rosto entrega o que aconteceu, então ele abaixa a cabeça e sai. Logo após Harry desce afoito com o intuito de ir atrás deles. Me esquivo de alguns duelos e vou em direção ao pátio.

Fawkes sobrevoava a área abaixo da torre de astronomia. Abaixo de si era possível ver o corpo só diretor. Me ajoelhei ao seu lado, não sendo capaz de impedir as lágrimas de caírem.

Dumbledore foi uma das pessoas que mais me ajudou e sempre esteve aqui para me ouvir. Agora não mais. Me despedindo, lhe desejando uma boa aventura do outro lado, lembrando as palavras que ele próprio utilizava.

"Para uma mente bem estruturada a morte é apenas uma aventura seguinte"

VIOLET  ҂Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora