Capítulo 18

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Aquela sensação de estar sendo observado vinha à tona novamente; era como se houvesse alguém, não muito longe de si, observando cada passo seu. No dia anterior, passou todo o tempo trancado em seu quarto, ele não queria sair, pois estava com medo de trombar com Minho por aí; tinha medo de encontrar os moradores daquela pensão pelos corredores, ele tinha medo de tudo ao seu redor.

Mesmo estando trancafiado no próprio quarto, Jisung ainda sentia que tinha alguém o olhando. Ele não conseguia entender o porquê. Aquele quarto era minúsculo e não dava nem para respirar direito. No cômodo haviam apenas uma cama e uma escrivaninha, que ficavam coladas à parede, não tinha como ter alguém o espiando de algum lugar; até mesmo a janela era pequena e no alto da parede. Ao seu ver, era impossível ter alguém o olhando, mas ele sentia isso.

Era domingo e Jisung havia ido se encontrar com sua namorada. A garota havia chegado à cidade ontem à noite, e hoje, cá estavam os dois em um encontro. Apesar de tudo, eles amavam a companhia um do outro.

Naquele dia, ambos resolveram se encontrar no grande Samcheong Park, situado no centro de Seoul e próximo ao hotel em que Dahyun havia se hospedado. Lá estavam eles, sentados em um banquinho e tomando sorvete enquanto conversam. Estavam felizes por terem se encontrado. De início, eram muito grudentos um com o outro, mas, ultimamente, não estavam mais assim. Jisung estava feliz em ver a garota, por mais que já não a amasse tanto, porém, ainda gostava bastante dela.

Enquanto conversavam, Jisung pôde sentir aquela sensação novamente, aquela maldita sensação que o deixava desconfortável. Ele ficava frustado. Aquela sensação raramente ia embora e, quando ia, logo voltava mais forte. Jisung já estava começando a ficar preocupado.

- Dahyun-ah? - Jisung chamou a garota que encarava algumas flores de cerejeira.

- Sim, amor? - Dahyun olhava esperando que ele dissesse algo.

- Está sentindo algo estranho? - perguntou enquanto olhava para todos os lados da praça.

- Especifique pra mim. - dizia sorrindo sutilmente da cara preocupada do maior.

- Eu não sei... Eu tenho a impressão de que estamos sendo observados. - ele estava com medo.

- Eu não estou sentindo nada, para mim está tudo normal. Jisung-ah, você está bem? Quer ir embora? Acho que você precisa descansar. Parece cansado. - dizia Dahyun, olhando para Jisung preocupada.

- Não, não! Tudo menos isso! Eu não quero ir embora! - Jisung falava quase desesperado. Ele não queria voltar para a pensão, mas, infelizmente, teria que voltar.

- Se acalme. - Dahyun dizia rindo de seu desespero.

- Certo. Me desculpe. - Jisung abaixou a cabeça. Estava um pouco envergonhado.

- Que tal darmos uma volta pela cidade? - Dahyun sugeriu animada.

- Claro! - assim que se levantaram, Jisung mirou todos os cantos de onde estavam para conferir sua segurança. Passando o olho rapidamente no horizonte, pôde ver alguém parado e encarando-o. Achou que pudesse ser coisa de sua cabeça e resolveu esconder de Dahyun, que andava saltitante à sua frente, chutando algumas pétalas caídas de cerejeira.

Pouco tempo depois, lá estava o casal andando de mãos dadas pelas ruas da capital. Eles conversavam entre si o tempo todo, era algo que gostavam de fazer. Quando ficaram em silêncio por uma fração de tempo, Jisung fixou seu olhar para o chão e quando levantou sua cabeça, ele pôde ver... Eram aqueles olhos pretos e profundos, como os de um gato. Jisung podia sentir seu corpo queimar e seu coração bambear. Quando piscou novamente, o homem havia desaparecido dali como mágica.
De novo Jisung achou que estava vendo coisas surreais. Como era possível alguém desaparecer tão rápido em frente aos seus olhos?
Ele resolveu tirar uma dúvida com sua companheira:

- Você viu aquilo ou foi impressão minha?

- Vi o quê? - a garota estava perdida. Não sabia do que o garoto estava falando.

- Não, nada...

- Vamos apenas aproveitar o dia. - ela não entendeu muito bem o ocorrido, mas assentiu. E logo eles voltaram ao "date perfeito", como denominava a garota.

[...]

Depois do longo dia, Jisung estava parado em frente ao prédio da pensão. Eram exatas 19h. Não queria entrar, mas o que poderia fazer? Dormir na rua? Afinal, não havia outro lugar para ficar, muito menos dinheiro suficiente. Pensou em pedir à sua namorada para passar a noite consigo, mas não queria se aproveitar da boa vontade da garota daquela forma. Enquanto Jisung pensava e se detia distraído, alguém apareceu à sua retaguarda sem que percebesse.

- Onde esteve? - Jisung se assustou.

- Por acaso você é maluco? - Jisung perguntou, ainda sem saber quem era, pois não tinha se virado para ver a cara do sujeito. Ele estava se recuperando do susto, mas aquela voz não lhe era estranha.

- Preciso mesmo responder? - quando Jisung olhou no rosto da pessoa, agora à sua frente, sentiu calafrios. Seu coração parecia ter saído pela boca.

- O que houve? Por que está mudo? - o homem à sua frente dizia com um sorriso no rosto.

- Eu... - Jisung estava sem palavras.

- Você...?! - o mais velho retrucava.

Jisung não conseguia olhar para o homem, apenas encarava o chão sem dizer uma palavra.

- Ao menos olhe para mim. - ordenou o homem depois de se aproximar e levantar a cabeça do garoto, pegando em seu queixo.

- Me diga, amor... Onde esteve? Ficou o dia todo fora. - perguntou o homem sorrindo, enquanto analisava cada mínimo detalhe do rosto de Jisung.

- Estava com a minha namorada. - Jisung percebeu a feição do maior mudar drasticamente, que logo se afastou de si.

- Então você tem uma namorada? Não estou surpreso, aliás, você é lindo. - Jisung não sabia onde enfiar a cara depois disso - Você fica ainda mais lindo corado. - Dizia olhando nos olhos de Jisung, que se martirizava por dentro por ter corado na frente do maior.

- Senhor Lee? Você está aí? Preciso falar com você. - alguém gritava chamando-o. O som aparentava vir de dentro da pensão.

- Acho que preciso ir. Tenha uma boa noite, querido. - Minho diz deixando Jisung para trás. Jisung estava um tanto atordoado.

- Vamos logo, Chanyeol, quero acabar logo com isso... - Minho diz em um murmúrio para o homem a sua frente e logo Jisung escuta o barulho da porta batendo atrás de si.

Jisung ainda não sabia se entrava ou não. Porém, ele não tinha outra opção.

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