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JULIO PEÑA;

Enquanto observava o mundo desabar em nossas cabeças, me questionava de como havia me envolvido nessa situação.

Um dia era Julio Peña, ator em ascensão da companhia Aquarelas, mas no outro sou o Julio Peña, suspeito de assassinar a namorada.

— Talvez o ideal seja procurarmos uma delegacia. — Sugeri e Isabela pareceu pensar na proposta. — Podemos chamar minha mãe para nos acompanhar.

— As coisas não seriam boas se fizéssemos. — Alertou preocupada. — Estaria disposto a contar sobre tudo? Porque acho que não estou. — Confessou.

Era perceptível que brasileira guardava segredos daquela noite. Na verdade, todos nós guardávamos. 24 de junho deveria receber o título de "Dia mundial do crime".

Uns de nós carregavam leves fardos, e outros um assassinato. Eu me colocaria em um meio termo. Não a matei, mas poderia ser preso mesmo assim.

— Vamos fazer isso. — Levantou-se, limpando a calça com as mãos.

— Você quer denunciar? — Perguntei fazendo com que ela arregalasse os olhos.

— Não. — Respondeu de supetão. — Vamos descobrir o que aconteceu. — Deu uma pausa significativa. — Juntos.

Isabela não parecia muito animada.

— E por onde você pensa em começar? — Estava receoso de qual seria sua resposta.

— Pelo começo. — Estendeu a mão para que também me levantasse. — Veio de carro? — Assenti. — Maravilha. Te explico no caminho. — Concordei, mesmo com certo receio.

Não achava que ela era culpada pela morte de Valentina. Independente do passado trágico das duas, Isabela não aparentava ter coragem de matar uma barata.

Fomos até o carro e ela me indicou o caminho.
A deixei em uma casa conhecida e nem questionei. Esperei que ela entrasse para voltar para minha casa.

Ela disse que não queria companhia e que depois me avisaria o que descobrisse.
Assim eu fiz.

O caminho, ainda que curto, foi cheio de pensamentos sobre os últimos ocorridos. Principalmente no pedido de Isabela antes de nos despedirmos.

"Fique atento nas minhas mensagens, qualquer coisa estranha não hesite em chamar a polícia!"

Isso significava que ela não sentia segurança em estar ali?

Enquanto imaginava os porquês de tanto suspense, notei uma nova notificação em minha tela de bloqueio. Liguei o pisca-alerta e direcionei o carro para um acostamento, assim, evitaria maiores riscos.

Desbloqueei o telefone e, ao ler o conteúdo da mensagem, agi pelo impulso e, instantaneamente, retornei ao local onde havia a deixado.

"Ficou maluco? Acabou de entregar Isabela de bandeja! Esperava que mais alguém lembrasse do que aconteceu da última vez que estivemos naquela casa."

Acelerei o carro.
Com certeza receberia algumas multas, mas aquilo não era importante.
Optei por estacionar na esquina para confirmar que estava tudo bem antes de alarmar a polícia. Iniciei uma chamada de voz com expectativas de ser atendido.

Alguns erros não podem ser repetidos.

— Oi

Agradeci mentalmente a voz calma do outro lado da linha.

— Pensei que teria que ligar para polícia.

— Julio, eles não podem saber que estamos nos falando. — Respondeu em um fio de voz. — Estou no banheiro da Giulia, aconteceu alguma coisa?

— Queria confirmar que está bem. — Evitei entrar em maiores detalhes.

— Estou. — Um sorriso aliviado surgiu em meu rosto. —Mas resumindo, Agustina mentiu. — Ouvi sua respiração forte do outro lado. Parecia desapontada. — Disse que viria para casa de Alan e não veio, acabei de confirmar.

— Agustina 'tá na sua lista de suspeitos? — Franzi o cenho.

— No topo dela. — Rebateu. — Mas não é um bom momento. Estou colhendo informações, depois nos falamos. — Isabela encerrou a ligação.

Ela não tinha problemas, tudo parecia andar bem. Contudo, nada é o que parece.

"O ciclo se repete! Talvez um dia você aprenda que não adianta tentar solucionar alguma coisa depois que ela já tiver acontecido. Aprenda a prevenir!"

━━━ possível gatinho: crise de pânico. (pessoas sensíveis, favor pular para o resumo)

Instantaneamente senti as mãos dormentes. Um formigamento que, infelizmente, já sabia onde chegaria.
Meus batimentos aceleraram tornando-se cada vez mais fortes, senti meu peito prestes a explodir. E isso doía muito. Meu coração, percebendo o desespero, começou a pulsar na frequência de meus pensamentos.

Sentia medo. Muito medo. Me sentia em perigo. Solitário e incapaz. A sensação era de morte.

Eu iria morrer!

Não consegui conter as lágrimas.
Isso deveria acontecer de novo?

— Para com isso, merda! — Gritei e me arrependi ao sentir a garganta fechar ainda mais. — Não posso mais viver com isso. Por favor! — Implorei olhando para o celular.

Distribui socos em minhas pernas numa tentativa de fazer com que a dor física fosse maior que a minha dor psicológica.

Não tinha forças pra passar por tudo de novo. Eu tinha melhorado. Tinha parado de ter crises. Mas falhei novamente.

Falhei comigo mesmo me permitindo voltar ao começo de tudo. A culpa era minha por não conseguir ser forte. Como de costume, regredi.

Deveria estar ambientado com isso, estava no meu DNA. Pensei que seria diferente e me enganei. Não existia mais conserto. Não sem ela. Baseei minha estabilidade emocional em uma péssima pessoa.

Eu odiava Valentina Gonzalez.

Sem poder movimentar um único musculo, me vi incapaz de sair daquele cubículo. Odiava a sensação de ver tudo se fechando ao meu redor.

Eu a odiava, porque, no fundo, sabia o quanto ainda precisava tê-la.
Mas Valentina se foi.

RESUMO DO GATILHO:

Julio relatou uma crise de pânico e sua incapacidade de combatê-la sem a Valentina. O espanhol a usava como instrumento de fuga, uma base para manter seu emocional "estável", o que, claramente, o prejudicou.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora