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MANOELA SANTIAGO.

Giulia adentrou em minha sala com um olhar cabisbaixo e aterrorizado. Lembrei do que Alan contou sobre as experiências que viveram e senti meus 3% de instinto materno com remorso por tudo o que a menina mostrava passar internamente.

— Sente-se. — apontei e assim fez. — Traga um copo d'água. — ordenei para um dos oficiais que prontamente o fez.

— Obrigada. — a loira agradeceu quando recebeu.

— Giulia Guerrini? — conferi o nome em um papel.

— Sou eu. — confirmou tomando um gole da água.

— Farei perguntas sobre sua relação com a vítima, a noite de 24 de Junho e algumas questões pessoais, tudo bem? — expliquei com funcionaria e a mesma assentiu. — Como era sua relação com a vítima? — iniciei.

— Melhores amigas. — abaixou o rosto dando um sorriso mostrando-se relembrar memórias felizes. — Eu, Isa, Agus e Valen éramos inseparáveis. Nunca tive uma amizade assim. — anotei.

— Você e a vítima discutiram na noite do assassinato?

— Sim, Valentina disse coisas que não gostei sobre meu irmão e nossa família.

— Pode detalhar?

— Ela falou sobre Isabela e Julia estavam certas em relação ao Alan ser pedófilo por relacionar-se com Agus. — respondeu um pouco envergonhada pela situação.

— Isabela Souza e Julia Arguelles? — confirmei os nomes na lista que recebi e assentiu. — Sua discussão com Valentina Gonzalez foi séria?

— Até o assunto pedofilia não, mas ela falou sobre meu pai, o assassinato da minha mãe e sobre a tentativa do meu irmão de matar nosso pai.

— Seu irmão tentou matá-lo? — falei em um tom de normalidade mesmo estando espantada.

Queria manter um lugar seguro para que a interrogada se abrisse de forma livre e saudável. Reconhecia que Giulia já havia passado por problemas o suficiente.

— Claro que não. - arregalou os olhos. — Alan não faz mal nem a uma formiga, ele apenas bateu com um bastão na cabeça do homem, mas era com intenção de deixá-lo inconsciente enquanto a polícia chegava.

— Entendo. — fiz algumas anotações. — Sobre a noite de 17 de Junho, o que pode nos falar?

— Tínhamos costume de fazer festas às sextas após as aulas de teatro.

— Festas que envolvem abusos sexuais? — limpou a garganta como se não esperasse que eu soubesse desse assunto.

— Não sabia que isto aconteceu, na verdade, soube junto com a própria Isabela.

— Você estava lá e não sabia?

— Não estava. — fiz uma cara confusa. Como ela não estava na festa em sua própria casa? — Rhener, Guido e eu estávamos comprando os curativos para Agustina quando tudo aconteceu. — explicou. — Quando chegamos, Valentina contou que Isabela passou mal por ter bebido demais e que Julio a levou para casa.

— Como é a relação da Isabela com Julio?

— Acho que deve perguntar para eles. — esclareceu e concordei.

— Farei. — anotei como um lembrete. — Me diga Giulia, como foi a noite de 24 de Junho em sua percepção?

 Não me lembro muito bem, estávamos bêbados o suficiente para fazermos qualquer coisa.

— Inclusive um assassinato? — a loira arqueou as sobrancelhas.

— Falando por mim, não sou culpada pela morte da Valen. — disse com convicção.

— O que aconteceu depois da briga de vocês? — ficou um pouco pensativa com a pergunta.

— Guido me tirou de perto dela levando-me para tomar um ar na sacada da casa. Ficamos ali até o momento em que vimos o movimento dos policiais, depois, eles pediram para adentrar no local e todos saímos sem entender.

— Quanto tempo levou para isso acontecer?

— Como disse, estava bêbada, não tinha noção de tempo, mas acho que uns 30 minutos. — rapidamente, peguei meu celular e desbloqueei para entrar no GPS. De acordo com o endereço de Agustina, a viatura mais próxima levaria, em média, 10 minutos para chegar ao local, ou seja, restaram vinte minutos para a alguém matar Valentina e esconder o corpo no jardim.

— Brigou com mais alguém além da atual morta? — questionei.

— Sim. — pensou um pouco antes de concluir o raciocínio. - Briguei com muita gente, acho que pelos efeitos da bebida, porém, pelo pouco que me lembro, minha pior briga foi com Agustina Palma. - contou de forma sincera e firme. - Ela não defendeu meu irmão das acusações.

— Seu irmão contou sobre o relacionamento com Agustina Palma naquela noite? — com essa pergunta, confirmaria uma parte da versão de Alan.

— Não senhora. O que aconteceu foi que Isabela, muito alcoolizada, entregou os dois. — contou. — Todos sabíamos do caso. Eles não sabem mentir, entretanto, nenhum de nós falávamos sobre. Ou melhor, nenhum de nós falávamos sobre até vinte e quatro de junho. — corrigiu. — Isabela, com um único comentário, gerou uma confusão imensa. — sentia que Giulia culpava Isabela por algo. Ela pareceu estar com mais rancor da senhorita Souza que o próprio irmão.

— Quem apoiou Isabela?

— Todos, menos Esteban, Rodrigo e Eu. Entendo que foi errado, mas Agustina já havia feito 18 anos. — tentou justificar. — O problema tinha se resolvido.

— Onde Micaela estava durante a festa? — queria saber se as versões batiam.

— Não sei, acho que com Julia e Rhener. — lembrava de ter mais um com ela. Busquei nos papéis que nome faltava.

— Lembra de ter visto o Rodrigo Rumi no meio deles?

— Quando fui para sacada, Rodri estava tentando controlar meu irmão juntamente com Esteban.

— Alan estava alterado? — perguntei confusa. Não parece do feitio dele se estressar.

— Ele se irritou muito. — notou minha expressão de dúvida e tentou retirar a má impressão da frase. — Mas não com Valentina, com Isabela. — explicou.

— Você já pode ir. — indiquei a porta e continuei a anotar.

— Serei chamada novamente, detetive Santiago? — perguntou antes de se retirar.

— Não sei, querida. Depende dos próximos depoimentos. Se algo não bater com o que disse, você voltará. — expliquei e a mesma deu de costas. — Giulia? — virou-se novamente para mim. — Espero que esteja falando a verdade. — falei sincera.

— E estou. — continuou caminhando e jogou o copo de plástico que, anteriormente bebia água, na lixeira adequada ao lado da porta. Em seguida, retirou-se acompanhada por um dos oficiais.

— Giulia não me parece suspeita, porém acho que esse depoimento será nosso mapa para descobrir mais sobre a noite. E você, o que achou dela? — liguei o microfone e perguntei. (texto interativo, comente aqui sua resposta).

— É, estou pronta para o próximo.  — alertei. — Quero saber a versão de Rodrigo Rumi.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora