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JULIO PEÑA.

O silêncio da sala de espera fazia com que pudesse ouvir a perfeita mistura de nossas respirações. Cada um ali encarava seus monstros pessoais de forma silenciosa, vazia e desesperada. Nem mesmos anos de aulas teatrais poderiam encobrir o pânico expresso nos rostos das pessoas que não sabiam o que os esperava.

Ao olhar pela janela de vidro em minha frente, pude perceber que a noite já havia caído na agitada Buenos Aires. Faziam horas que estava na delegacia brincando de ser outra pessoa juntamente aos demais. Meu personagem, por exemplo, era alguém sem culpa, sem defeitos, sem erros, sem o fardo de ter matado Valentina e afins. Porém, a realidade não era bem assim.

Ainda que soubesse que não era o assassino da minha ex namorada, me culpava por não ter atendido ao seu último pedido de ajuda. Se buscasse entender o porquê do grito, provavelmente, ela ainda estaria aqui e não seria necessário que eu passasse por essa tortura.

Fui tirado de meus pensamentos pelo suspiro forte de Daniela. A morena parecia ser a mais nervosa entre nós. Constantemente, a mesma limpava o suor de sua testa, balançava a cabeça negativamente e movia as pernas freneticamente. Enquanto isso, André parecia fazer grande esforço para não envolver-se na situação. Confesso que fiquei um pouco incomodado, afinal, a aproximação dos dois foi inesperada, contudo, não era da minha conta.

Ali, que mais assustava eram as diferentes reações que cada um mostrava frente ao nervosismo.

Alguns estavam entrando em colapso, com nervos aflorados, respiração profunda e calafrios pelo o corpo. Porém, ao mesmo tempo, outros estavam de fones, relaxados, mexendo em seus celulares como se estivéssemos em uma colônia de férias.

Digamos que eu estava no meio desses extremos, nem tão nervoso ao ponto de suar frio, mas nem tão calmo ao ponto de trocar mensagens.

Assim que Julia saiu da sala, os oficiais avisaram que estávamos liberados por hoje. Também alertaram que a detetive continuaria com os questionamentos no mesmo horário do dia seguinte. Até deram outros avisos, mas nada muito importante. Apenas protocolo.

Após as explicações, ninguém tinha ânimo pra mais nada. Nosso dia foi terrível o suficiente para piorar de alguma forma. Só queria chorar em posição fetal e esmurrar a primeira almofada que pegasse em meu sofá. Eram nessas horas que eu me perguntava: "A que ponto cheguei?". Infelizmente, ainda não tenho respostas.

- Qual vai ser o agito de hoje? - rapidamente, os olhares encararam Jandino que carregava uma expressão leve e tranquila. A única. - Que foi? - questionou confuso como se nós que fôssemos os loucos.

- Que foi? - o imitou com voz estranha. - Você ainda pergunta? - Gabriella perguntou indignada. - Acabamos de ser interrogados e agora você quer um "agito" - fez aspas com as mãos. - sabendo que a pessoa culpada por tudo isso vai sentar em nosso meio? - forçou o riso. - Já sei como é o final. Não quero cear com Judas, obrigada!

- Ó, querida Gabriella sempre sensata. - espalmou uma das mãos no peito de forma exagerada. - Desculpa se não quero ficar plantado em casa lembrando que sou suspeito por um assassinato. - a ruiva rolou os olhos com a tentativa de explicação do homem.

- Eu concordo com o Jandino. - Andrea apoiou.

- Novidade. - Isabela retrucou alto o suficiente para que todos ouvissem.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora