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ISABELA SOUZA;

Assim que acordei, peguei meu celular buscando descobrir que horas eram. Saltei da cama ao identificar que passavam das duas da tarde. Realmente estava esgotada. 

Comparando aos últimos dias, a noite passada foi a mais leve que tive. Nem lembrava mais o que era rir, e muito menos acordar depois das dez. Era bom saber que, por algumas horas, minha cabeça esteve tranquila, contudo, infelizmente, acordei.

Fiquei por poucos minutos encarando o moreno com cabelos desgrenhados ao meu lado antes que decidisse — cuidadosamente, para não acordá-lo — me levantar. Quando consegui, calcei minhas pantufas e me arrastei até o banheiro do quarto para que, assim, pudesse realizar minhas higienes matinais. 

Resolvi que o ideal seria tomar um banho, foi o que fiz. Atentamente, abri o registro do chuveiro ajustando-o em água quente, soltei meus cabelos — que estavam enrolados em um coque mal feito — e apenas deixei a água se chocar com meu corpo. Ser aquecida pelo vapor do jato quente, fazia com que meus músculos relaxassem. Exatamente como precisava.

━━━ possível gatinho: crise de pânico, ansiedade e abuso psicológico. (pessoas sensíveis, favor pular para o resumo)

Contudo, nem tudo eram flores. Ao encarar o chão do boxe, enxerguei sangue. Muito sangue. Depois de iniciar o tratamento, obtive certeza que aquilo não estava ali de fato, e sim que — como sempre — era minha cabeça pregando-me uma peça. 

Fechei e abri os olhos diversas vezes, fiz todos os exercícios de respiração que me foram ensinados, normalmente, funcionavam, mas, dessa vez, não surtiu efeito. O sangue continuava escorrendo por minhas pernas e doía. Meu abdômen contraído só aumentava a forte ardência. Ao tentar estancar o sangue, pude tatear e perceber, perfeitamente, a textura gosmenta em minhas mãos. 

— Não Isabela, não é real. — gritava, usando de toda minha força, para tentar convencer a mim mesma que parasse com esse tipo de pensamento. Falhei.

Minha cabeça começou a girar e, por mais uma vez, vivenciava aquele maldito dia. O pior dia da minha vida. Ouvia vozes. Muitas vozes. Elas ecoavam coisas como: "Isso foi sua imaginação" "Você bebeu!" "Não está em si" "Isabela, você ficou louca?".

Eu fiquei louca? Poderia! 

Ao sentir tontura, tentei me concentrar em um ponto fixo, como me ensinaram, mas não conseguia; pelo visto, os aprendizados nas sessões de terapia haviam sido em vão. Sendo consumida pelo desespero, me sentei no chão enquanto a água caía, sem cessar, em minhas pernas levando todo sangue pelo ralo. Tentei gritar e não consegui. A voz não saía, como se eu esquecesse completamente como falar. Precisava de ajuda, só que não tinha ninguém. Mais uma vez. 

A taquicardia iniciou-se, por isso, optei por não tentar mais controlar o choro ou as mãos trêmulas, porque, querendo ou não, isso fazia com que doesse mais para puxar o ar. Meu coração parecia que explodiria a qualquer momento. Abracei minhas pernas e cerrei os olhos com toda força que existia em mima fim de não ver mais nada. 

Me joguei para trás batendo intensamente com a cabeça na cerâmica da parede. O impacto fez com que a mesma latejasse, dando-me uma nova sensação. Nenhuma dor era tão grande quando a que sentia dentro de mim, porém, me machucar fazia com que eu pudesse diminuí-la. Bati, incessantemente, até sentir a visão escurecer, alertando-me que poderia parar. Ultrapassei o limite.

— Tiraram algo importante de mim. Eles me tiraram! — sussurrava repetidamente.

Dentro daquele lugar, me machuquei de todas as formas que achei merecer. 

A coisa que mais doía nisso tudo, era não ter nenhum tipo de apoio. Não tinha dúvidas do que, realmente, aconteceu. Milhares de vezes, meus pensamentos faziam com que eu relembrasse de tudo. Só que ninguém nunca acreditou. Ninguém!

E esse é o principal motivo de ter me tornado assim. Fui abusada por alguém que não faço a mínima ideia, e as pessoas que prometeram ficar ao meu lado, mentiram. Realizei o processo da queixa sozinha e, no fim, fui taxada de desiquilibrada. Meus pais, assim como meus amigos e os profissionais que trabalhavam em meu caso, julgaram ser efeito da bebida, mesmo que soubessem que nunca gostei de bebidas alcoólicas. 

Entretanto, como diriam os sábios, algumas vezes durante nossa vida, precisamos sofrer para isso converta-se em aprendizado. Acredito que era minha realidade. Nos primeiros dias procurei entender o porquê de fazerem algo tão cruel. Mas no final de cada reflexão, entendia que, na verdade, merecia mais. Quem sabe assim aprendesse a ser mais responsável. 

Não se pode confiar em qualquer um.

RESUMO DO GATILHO: 

Isabela teve um ataque de pânico e reviveu uma noite traumática. Ela teve a sensação de ver sangue escorrendo por suas pernas, ardência e dores abdominais intensas. Também relatou que todas as pessoas com quem se abriu sobre, disseram ser apenas efeitos da bebida, mesmo que soubessem que ela não ingeria nada de teor alcoólico. Isa se culpou por ter passado por isso.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora