32

570 112 414
                                    

MANOELA SANTIAGO.

Rodrigo entrou de uma forma diferente dos outros. Trazia consigo uma expressão fechada, não parecia sentir-se confortável. Podia notar seu medo em quilômetros de distância, mas percebi que ele tentava esconder. Entendi que, naquele momento, falaria com um personagem.

A respiração pesada e as pernas bambas entregaram que ele fez algo em 24 de Junho, mas, de uma forma um pouco duvidosa, buscava encobrir seus rastros.

— Rodrigo Rumi? — confirmou balançando a cabeça freneticamente. — Pode fazer uma breve apresentação sobre você? —assentiu.

— Me chamo Rodrigo Rumi, como bem sabe. — soltou um riso. — Tenho 26 anos e... bom. — retraiu-se rapidamente. — É, eu.... eu não sei falar sobre mim. — que ótimo. Essa informação facilitou muito meu trabalho.

— Então quer ir direto ao ponto, senhor Rumi? — perguntei com uma expressão séria.

— S-senhora, entenda meu nervosismo. — gaguejou e o encarei. — É a primeira vez que sou interrogado sem minha advogada estar presente. — justificou. — Isso não significa que eu seja culpado, é apenas uma situação difícil.

— Entendo.

— Mas sim, podemos ir diretamente ao ponto. — falou.

— O que fazia na hora do assassinato de Valentina Gonzalez? — pela cara que fez, ele não esperava uma pergunta tão direta.

— B-Buscava bebida. — sua voz saiu um pouco trêmula. — É, na verdade, não me lembro, estava bêbado demais para saber o que eu fazia. — corrigiu. — Só tenho certeza que não a matei. — pareceu certo com essa afirmação.

— Como tem certeza? Você mesmo disse que estava bêbado e não sabia o que fazia. — contestei.

— Não esqueceria um assassinato se o fizesse, nem mesmo caindo de bêbado. — nunca duvide do poder do álcool, querido.

— Era amigo da vítima? — pensou um pouco e negou. — Qual era a relação de vocês?

— Não conversávamos, ela apenas ficava no canto dela e eu no meu.

— Como foi sua briga com Valentina no dia 24 de Junho?

— Não brigamos. — as duas ultimas testemunha haviam relatado diversas brigas e, em uma delas, Rodrigo estava no meio. Por qual razão ele mentia?

— Tudo bem. O que fez naquela noite? Algo diferente do normal?

— Não, apenas fiquei no meu canto conversando com meus amigos.

— E quem são?

— Isabela Souza, Rhener Freitas e Esteban Velásquez. — anotei com um certo incomodo. Os depoimentos já não batiam mais.

— Se considera alguém forte? — franziu a testa em dúvida.

— Fisicamente não, prefiro deixar a academia e o levantamento de peso para Esteban. — anotei. — Mas de acordo com ele, sou psicologicamente forte. — deu um sorriso e entendi o que acontecia.

— O Senhor Velásquez sabia que você gostava dele? — encolheu-se na cadeira.

— A senhora é boa em tirar informações. — gostei do elogio, mas fugiu da minha pergunta.

— É o meu trabalho, já o seu, é omiti-las. — dei um sorriso ladino. — Acha mesmo que não sei com quem estou lidando? — soltei uma risada forçada. — Querido, reconheço que são atores, seus colegas atuaram comigo durante todo o tempo que estiveram aqui, e bom, você é bem mais forçado. Se me permite a análise. — nem esperei respostas. — Rodrigo Rumi ama falar de si, é bem confiante e um dos melhores atores da companhia. Ele esperava que eu acreditasse que estava nervoso com o interrogatório, quando na verdade, não passava de atuação para que não revelasse seu ponto fraco. — arregalou os olhos. — Confiança elevada também corrói, não? — sorri sínica. — Inteligente da parte de Emma ensina-los uma estratégia de defesa, mas deixa eu te contar algo que não sabe sobre minha profissão. — o homem com cabelos coloridos em minha frente, parecia ouvir atentamente.  — Leio as pessoas, sei quais são as ações de alguém que, verdadeiramente, está nervoso, e posso afirmar você não está.

— Eu só...

— Permita-me continuar. — se pôs em silêncio. — Funcionará assim, farei algumas perguntas e você responderá sinceramente, tudo bem? — assentiu. — Qual era sua relação com Valentina Gonzalez?

— Ela era uma puta que eu não gostava. — disse com ódio.

— Por que não?

— Ela tinha Julio, o garoto mais gostoso da companhia, e mesmo assim, o traía com Esteban e com o resto da companhia. — houve traição, isso é um ponto importante.

— E você gostava de Esteban?

— Sim. — assumiu cabisbaixo.

— Ele sabia?

— Ele tinha uma noção, mas a bruxa má enfeitiçou ele com um chá de... — ele era engraçado, mas não o suficiente para que eu pudesse rir.

— Basta! Sem detalhes sexuais. — interrompi com medo do rumo que a conversa tomara. — Sentiu inveja de Valentina por ela ter tudo o que você queria, certo? — confirmou, mesmo que contra sua vontade. — Como foi sua briga com Valentina? — repeti as perguntas atrás de novas respostas.

—Tapa na cara, puxão de cabelo, me agarrei no aplique daquela sequelada maluca e nem guindaste me tirou. — franzi a testa observando o ódio repentino que instalou-se nele. Esse menino era cômico! — Ah, detetive! — bufou. — Desculpa a sinceridade, mas a desgraçada me deixou com dor de cabeça durante uma semana do tanto que gritou. — olhei confusa.

— Valentina gritou? — nos outros interrogatórios, todos falavam que não ouviram gritos.

— Gritou muito, escandalosa do cacete. — percebi que, no momento da raiva, Rodri soltava tudo. Ruim para ele, porque eu estou amando. — Não ouvimos o pedido de socorro, porque a maluca da Valentina, gritou a merda da noite toda com todo mundo. — as coisas parecem fazer mais sentindo agora, ao menos, para mim. — Como diferenciar o grito "AAAAA" pedido de ajuda. — berrou. — Ou o "AAAAA" de escândalo? — novamente berrou.

— Por que você matou Valentina Gonzalez, senhor Rumi? — a expressão de raiva foi substituída por uma neutra.

— Sinceramente? Antes eu tivesse matado essa cachorra, minha consciência estaria mais tranquila agora. — dessa vez quis rir, mas me controlei devido ao ambiente. Seria amiga dele se não fosse as circunstâncias.

— Então você não a matou?

— Não, senhora. Deixei esse trabalho pra Agustina. — impôs as duas mãos na boca como quem fala demais.

— Por que acha isso? — pensou bem se deveria ou não responder.

— Então, sendo bem sincero. — se ajeitou na cadeira e pigarreou. — Acho que todos temos essa sensação. — assumiu. — Agus já havia sofrido na semana anterior pois se culpava pelo ocorrido com Isabela; E, depois que Giulia reclamou, brigou feio com Valentina pelas acusações de pedofilia contra Alan e, sem contar que após a morte de Valen, ela ficou muito nervosa e irritada, algo que ninguém explicava. Perdi as contas de quantos foras tomei só em cinco minutos de diálogo. — rolou os olhos. — Achamos que ela se suicidou pela culpa que carregava. — anotei tudo.

— Obrigada pela sinceridade. — retribuiu dando um sorriso aberto. — Me diga Rodri, alguém mais mudou depois da morte?

—Todos mudamos, Manoela, quer dizer, senhora detetive Santiago. — corrigiu. — Não sabemos quem fez isso, só nos restaram teorias. Isso nos assombra. Saber que um de nós é um assassino.

— Está liberado. — apenas levantou-se e saiu. Parecia querer se ver logo livre de mim. — O que achou dele? Pareceu culpado pra você? (texto interativo, comente aqui sua resposta).

— Bom, vejamos o próximo. — peguei o papel com todos os nomes e escolhi aleatoriamente um. — Tragam-me Julia Argüelles.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora