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MANOELA SANTIAGO

Observei com atenção a figura feminina adentrar com seu olhar pesado e expressão fechada, caminhando até sua cadeira em passos lentos e bambos. Parecia estar exausta! 

Pelas olheiras fundas e seu estado deplorável, notei que não teve uma boa noite de sono e isso me intrigava. Qual razão ela teria para não dormir antes do interrogatório? Deveria ser plausível o suficiente para comprometer-se desta forma.

— Julia Argüelles. — indaguei após a morena sentar-se em minha frente. — Como se sente? — abaixou a cabeça, colocou lentamente seus fios por trás da orelha e deu um sorriso ladino mostrando a obviedade da resposta.

— Podemos ir direto ao ponto? — perguntou levantando o rosto e fuzilando-me com os olhos. — Sei que não se importa com nada além de resolver o caso. Apenas pergunte. — falou em tom confiante.

— Primeiro. — dei um sorriso forçado. — Já fiz uma pergunta, então, gostaria que me desse a sua resposta. — aumentei o tom pois percebi que teria um certo "trabalho" com a forte personalidade que Julia carregava. — E, em segundo lugar, também gostaria de esclarecer, acho que ainda não conseguiu entender, mas sou eu que conduzo a conversa, você apenas responde. — expliquei.

— Alguns dizem que sentimos quando vamos morrer. — iniciou em um tom calmo me deixando confusa. — A senhora acredita nisso, detetive? — questionou e continuei com expressão neutra apenas ouvindo aonde chegaria esse diálogo. — Sabe, — ignorou meu silêncio e continuou. — Poderia afirmar que sou uma ótima observadora. — completou. — Por exemplo, notei que você trabalha em excesso, anota tudo nesse caderno e tem seu próprio gravador na segunda gaveta a direita. Por isso não tira sua mão dela. — apontou e me fazendo rir ironicamente ainda com a mão da forma exata que Julia havia reparado. — Me arrisco a dizer que você é casada e tem inúmeros problemas em seu casamento, porque não dá atenção suficiente ao seu parceiro. — me olhou de cima a baixo. — Ou seria parceira? — disse curiosa. — Não importa, pois se interessar por esse caso foi um completo erro para nós duas. E, assim como eu sei que vou morrer, acho interessante avisar que a senhora também vai. — sorriu vitoriosa, o qual fez meu sangue ferver.

— Ótimas colocações, porém também gostaria de fazer minha análise. — antes de prosseguir, me acomodei melhor em minha cadeira, limpei a garganta e abri meu caderno para ler o que havia escrito. — Vejamos, Julia é boa observadora, percebe até mesmo pequenos detalhes. Ela diz sentir que vai morrer, porém, não é um sentimento, é certeza! Senhoria Argüelles não é a assassina de Valentina, porém está chegando perto de descobrir quem é e isso a assusta. — terminei de ler minhas anotações e olhei fixamente nos olhos da morena em minha frente. — Simples querida, ao obter respostas e seguir as pistas, você corre perigo. E o maior deles é a morte. Acertei? — essa menina poderia ser um verdadeiro baú do tesouro para investigação, contudo sei que não estava totalmente disposta à cooperar.

— Nada mal. — sorriu. — E quais são suas outras perguntas? — perguntou. — É por isso que me chamaram aqui. — falou em tom firme.

— Tudo bem. — concordei. — Como era sua relação com a vítima?

— Valentina era uma puta e eu a odiava pois tinha medo de ser corna, assim como todas as meninas que namoravam na nossa companhia. Porém, digamos que meus chifres vieram de outros lugares.

— Quem é seu namorado? — perguntei. — Ou o melhor seria namorada? — corrigi retribuindo a "provocação".

— Rhener, e não estamos mais juntos. — respondeu séria. Anotei e prossegui.

— Onde você estava na hora do assassinato?

— Não sei que horas aconteceu o assassinato e, mesmo que soubesse, não poderia responder com clareza.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora