MANOELA SANTIAGO.
Saí da delegacia com a imagem de Daniela, inconsciente, sendo carregada por três oficiais. Os seus gritos ainda ecoavam por todos os cantos, fazendo minha cabeça latejar. Tudo o que mais precisava era de um analgésico ou um dopante. Ou os dois juntos.
O elevador se abriu e pude encarar a porta do meu apartamento há poucos passos. Seguindo meu protocolo de segurança, posicionei a chave na fechadura e dei cinco giros no sentindo horário e três no anti-horário, somente assim, pude destrancar e adentrar. Coloquei o molho de chaves no local de costume: um pote em forma de cobra que minha sogra havia me presenteado no Natal.
Grande presente. Diziam que era uma mensagem subliminar, mas discordava. Acho que ela apenas comprou algo que refletisse sobre sua própria fisionomia para que, dessa forma, toda vez que o visse, lembrasse dela. Uma senhora muito simpática, eu diria.
Equilibrando-me sobre uma perna, puxei um sapato e, trocando a posição, fiz o mesmo com o outro, sentindo o alívio imediato assim que meus pés doloridos se uniram ao chão gélido. Joguei os calçados no canto, querendo nunca mais cogitar colocá-los. Com certeza meus dedos estariam cobertos por calos de diversas formas e tamanhos. Sem contar as bolhas... A tortura não parecia ter fim.
Puxei a bolsa do ombro e a pendurei no único gancho que me restara. Caminhei até meu escritório a passos leves e cuidadosos para evitar que Marcela acordasse e descobrisse o horário que cheguei.
Segurava a pasta com os relatórios e as anotações em uma mão e o gravador na outra. Sentei-me na cadeira ultra confortável que havia comprado recentemente, arrumei rapidamente a mesa — onde poderiam ser encontradas algumas notas e reportagens dos casos anteriores — e abri meu laptop para terminar de organizar minhas conclusões.
Não demorou muito para que fosse atingida pelo peso de minha consciência. Por mais injusto que parecesse assumir algo do tipo, não tinha o dom de mentir para mim mesma.
Fui pressionada a culpar Daniela, partindo do pressuposto de que seu testemunho foi incriminador o suficiente para levantar suspeitas sobre o meu controle no caso. Precisei agir de alguma forma. As coisas apontavam para ela e, por sua própria conta e risco, a garota confirmou que existia uma chance de ser a responsável pela morte da amiga. Contudo a esperança para que as coisas pudessem ser o mais justas possível estava bem ali, em meu ambiente particular e livre de pressões externas, onde poderia repensar em todo o ocorrido.
Minutos antes, enquanto dirigia de volta à casa, notei que algumas pessoas haviam deixado coisas em aberto e precisava tirar isso a prova.
Encarei o que tinha. Faltavam dois testemunhos importantes de duas pessoas que foram citadas pela maioria dos outros interrogados. De alguma forma, sentia que Julio e Isabela eram chaves preciosas para a conclusão da história.
Respirei fundo, folheei a pasta do caso e peguei aleatoriamente uma foto na divisória nomeada como: suspeitos.
Julio Peña foi o primeiro sorteado. O namorado que, pelo que reparei, foi traído inúmeras vezes durante o pouco tempo de relacionamento e, mesmo assim, permaneceu firme — ou talvez não.
Além do mais, filho de uma advogada talentosíssima e respeitada por todo o país. Seu pai também era muito reconhecido na sua área. Julio tinha tudo o que precisava em mãos. Se fosse seu objetivo, usaria facilmente de seus benefícios com os Peña para esconder seu crime.
Me perguntei, se caso fosse o culpado, como poderia ter feito isso e recordei da falsificação dos documentos. Isto, sem dúvidas, estaria no alcance deles.
A prova poderia ser encontrada no banco de dados e por sorte — na verdade, inteligência em administrar cuidadosamente meus contatos —, conhecia um rapaz que trabalhava no hospital central, onde a necropsia foi realizada. Sem dúvida ele teria acesso as informações que carecia. Sabia que a alteração existia, porém não sabia o porquê ou quem estava envolvido nisso. Era aí que Malcon entrava e descobriria para mim como forma de retribuição de um favor que havia feito há anos.
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24 de Junho
FanfictionA noite de 24 de Junho tinha como objetivo reunir o grupo teatral criado em Buenos Aires, porém as coisas acabaram tomando outro rumo. Uma tragédia é a causadora do fim da carreira e sonho de 16 jovens artistas. Durante a busca incessante por respo...