23

732 126 313
                                    

DANIELLA TRUJILLO.

— Que merda aconteceu? — todos os dias antes de dormir, era meu costume fazer essa mesma pergunta em frente ao espelho.

Desde aquela noite, não passo um dia sequer sem me sentir culpada pela morte de Valentina.

Ok, dois comprimidos de Clorpromazina e um de Aripiprazol. — respirei fundo pegando meu copo e enchendo com a água da torneira. — Respira Daniella, você vai conseguir. — falei com meu reflexo.

Mais uma vez tomando remédios, pois não havia mais jeito para mim. Por diversas vezes, pensei em desistir do tratamento, porém, ou isso, ou conviver com as minhas alucinações. Assustador, não? Ver coisas onde não existem, ter a sensação de que está sendo vigiado ou até mesmo, ouvir vozes constantemente. Essa era eu, sem máscaras! Uma pessoa perturbada por si própria.

A verdadeira Daniella Trujillo!

Desde meus 15 anos, vinha sentindo coisas estranhas. Todos os psicólogos pelos quais passei, me deram o laudo de crise de pânico, entretanto, quando comecei a ter perdas de memórias frequentes e parei de dormir e sair de casa, entregaram um papel escrito: "Esquizofrênica, busque um psiquiatra o mais rápido possível" à minha mãe.

Minha esquizofrenia paranoide era meu pior pesadelo. Piorou nesses últimos dias.

Me sentia perdida no que de fato aconteceu na noite de vinte e quatro de junho. Em minha memória, não existia nada além de flashes, e o que via me deixava nervosa. Poderia ter certeza que fiz algo de errado, mas não sabia exatamente o que. Isso era preocupante.

As pequenas coisas pelas quais me lembrava era de jogarmos o verdade ou desafio e que estava nervosa por algumas situações críticas da minha família. Bom, digamos que bebi um pouco. Sim, sempre soube que não deveria misturar meus remédios com bebidas alcoólicas, porém foi o que fiz. Meu propósito era acabar com a minha vida, não me esquecer de um assassinato.

Depois de jogarmos na sala da Agus, lembrava, com muita clareza, de brigar com a falecida. Ela jogou coisas horríveis na minha cara, coisas que me afetavam e a mesma sabia. Após discutirmos, havia um espaço em branco com acontecimentos que não lembrava, a não ser de estar no jardim de Agustina. Sentia peso em minhas mão, parecia que puxava algo pesado pela extensão do quintal e, fora isso, não existia mais memórias. Apenas percebi minhas mãos sujas com um pouco de sangue e muita terra.

— Você não fez isso. — encarei meus remédios em minha mão direita e os engoli com a ajuda da água. — Não foi você, armaram isso! — repeti várias vezes dando tapinhas em meu rosto tentando, desesperadamente, fazer com que minha memória se recuperasse. — Daniella, você precisa lembrar. — distribuía tapas cada vez mais fortes.

Era algo de extrema importância e, mesmo sabendo disso, não era capaz de lembrar. 

Por que fiz isso com a Valentina? Não! Por que eu faria isso com a Valentina? Essa era a pergunta correta. Reconhecia que o discurso dela contra meus pais foi um tanto motivador para que assim fizesse, só que ainda me custava acreditar que seria capaz de tamanha violência.

Matando ou não, ela mereceu! Não era certo falar coisas horríveis da família de alguém, mesmo que fosse verdade. Me incomodava, mas sabia que — se aconteceu — tive um bom motivo.

— Tomara que eu não acorde! — resmunguei me ajeitando na cama. — Boa noite, assassina!

━━━━━━ • † • ━━━━━━

O dia amanheceu e junto com ele chegou uma forte enxaqueca. Remédios! Essa era minha única solução para qualquer problema que tivesse.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora