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ISABELA SOUZA;

Depois de desligar com Julio, saí do banheiro receosa de Giulia ter escutado algo de nossa conversa. Minha aproximação com o ex de Valen, provavelmente, causaria desconfiança dos outros e não queria isso.

Ao cruzar meu olhar com o da loira, notei a expressão confusa e, antes que perguntasse, afirmei que estava bem.

Passei os olhos pelo quarto chamativo que não poderia ser mais a cara dela. Flores, tons alegres e diversificados em cada uma das paredes, tapete com forma de panda, alguns posters de seus artistas favoritos e milhares de quadros com momentos, aparentemente, marcantes para ela. Enquanto fazia uma curta análise em meio aos devaneios aleatórios que passavam pela minha mente, um quadro me chamou atenção.

— Essa foto. — Peguei o pequeno quadro em cima da cabeceira. — É seu pai? — Questionei curiosa apontando para o homem que, naquela fotografia, a segurava no colo.

Shiu! — Colocou o dedo indicador em cima da minha boca. — Meu irmão não pode ver isso. — Rapidamente, Giulia o tomou de minhas mãos guardando dentro de uma de suas gavetas. — Você sabe, Alan surtaria se visse.

— Não o julgo, também estou em surto por vê-lo. — Disse com desdém, me jogando na cama com as pernas para fora. — Sei que é seu pai, mas ele fez mal à vocês. — Tentei ser o menos grosseira possível.

— Já sei disso tudo, Isa. — Suspirou. — Mas naquela época, mesmo com tudo, pelo menos eu não me sentia órfã.
Sorri simples em forma de consolo.
Realmente, deveria ter sido horrível para Giulia e Alan passarem por aquilo tudo. Ainda mais sozinhos.

— Giulia, quem está aí? — Ouvi a voz grossa vindo do andar de baixo.

— Isabela.

— Vocês precisam descer. — Ele pediu e, automaticamente, nos entreolhamos. — Agora!

Sem questionar, descemos as escadas e nos deparamos com Alan prendendo um relógio em seu pulso.

— Mudou de roupa? — Giulia questionou, confusa. — Você vai sair essa hora?

— Giulia. — Ele a analisou de cima a baixo. — Vista uma roupa. Precisamos ir à casa da Agustina. — O mais velho ordenou.

— O que faremos lá? — A loira tirou as palavras da minha boca. — Ficou maluco?

— Acharam o corpo da Valentina. — Alan soltou.

Não poderia expressar em palavras o efeito daquela curta frase. Eu sabia que ela tinha morrido, mas aquilo foi como um soco. Um soco forte na boca do estômago.

Giu, pálida e boquiaberta, voltou ao quarto com rapidez. Reparei que lágrimas se acumularam em seus olhos, o que partiu meu coração.

Giulia, Agustina, Valentina e eu éramos próximas. Desde que cheguei na Argentina, sempre dividimos e compartilhamos experiências, sendo elas boas ou ruins. Éramos almas gêmeas que se completavam.

Independente de qualquer circunstância, enfrentaríamos com o apoio das outras, mas as coisas mudaram quando as armações de Valentina foram expostas.

Eram coisas graves, porém, tentávamos ignorar por se tratar de um transtorno. Recebíamos, dos pais dela, altas quantias para ficarmos quietas.

Doía, mas no fundo sabíamos que não era o dinheiro que nos calava, era o nosso amor por Valentina.

Deixei os pensamentos relacionados ao meu passado obscuro de lado e resolvi avisar Julio sobre a notícia que recebemos. Sua resposta me deixou um tanto quanto curiosa. Ele estava bêbado?

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora