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ISABELA SOUZA;

— NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO! — Essas eram as únicas palavras que conseguia pronunciar.

— A senhora precisa se afastar. — Uma mulher que eu acreditava ser a enfermeira, me segurava pela cintura.

— Não tinha placa. — Rhener surgiu em meu campo de visão com voz trêmula. — Ela vai ficar bem? — perguntou com preocupação no olhar ao notar Gabriella estirada no concreto.

— Preciso que se afastem. — Outros paramédicos vieram nos pedir a mesma coisa, porém com mais brutalidade.

Dando-me por vencida, me sentei no lancil da calçada e contornei meu corpo com minhas próprias mãos e, ao mesmo tempo, observava atenta Gabi sendo levada às pressas, novamente, para dentro. Rhener, que também viu a terrível cena, me puxou para si fazendo com que eu desabasse no abraço apertado que me envolvia.

— Isa. — Limpou algumas das lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas. — Vamos entrar, tudo bem? — assenti vendo ele estender suas mãos visando me ajudar a levantar.

Ficamos por longas horas na sala de espera aguardando por notícias de Gabriella. O que me tranquilizava. Afinal, a demora significava que ela ainda não tinha partido. Gabi lutava pela sua vida como sempre fez. Desde que seus pais a deixaram, quando pequena, ela, com força e garra, lutou. Agora não seria diferente.

Em meu peito, um aperto forte e doloroso se destacava entre todas as sensações geradas pelo momento. Um aperto de culpa. Culpa essa que me dava falta de ar.

— Ótima hora para se ter asma. — Resmunguei com um pouco de dificuldade procurando pela bolsa, a bombinha reserva.

Assim que a encontrei, soltei o pouco ar que existia dentro dos meus pulmões, pressionei sugando o remédio e assim, segurei minha respiração por míseros 3 segundos. Era o melhor tempo que aguentava.

Repito esse processo por cinco vezes. As crises asmáticas eram costumeiras. Sempre que ficasse nervosa elas apareciam, por isso, precisava andar com umas 40 bombinhas.

— Acho melhor você ir para casa. — Quebrando nosso silêncio, Rhener disse em tom sugestivo. — Soube que ajudou Julio ontem, precisa descansar.

— Vou esperar pelo laudo médico. — Respondi firme.

— Deveríamos fazer por turnos. — Manifestou se afundando em sua cadeira. — Você vai descansar e qualquer notícia, te ligo e amanhã vem me substituir, até porque, os dois aqui não adianta. — Realmente precisava descansar, só não queria assumir.

— Isabela Souza. — uma voz conhecida tirou minha atenção antes que pudesse responder. — Por acaso quer morrer também? — me perguntava como André apareceu ali. — Sempre resolve os problemas de todos, mas não tira um tempo para si própria. — falou juntando minhas coisas espalhadas pela salinha do hospital.

— O que faz aqui? — Encarei confusa o cenário embaraçoso.

— Chamei reforços. — O moreno deu de ombros.

— Vamos! — O loiro me puxou pela mão e eu nem sequer consegui reagir. O cansaço tomava meu corpo. — Vou cuidar de você nessa noite fria que faz em Buenos Aires. — Irônico, fingiu falar sedutor.

Eu e André ficamos algumas vezes. Tivemos uma "amor" de adolescência, mas ele partiu meu coração quando começou a namorar Gabriella, minha melhor amiga na época. Depois disso nossa amizade ficou estranha. Piorou quando ele levou chifre, mas confesso que foi engraçado ver como o mundo girava.

Seria injusto eu ser a única com traumas. Ele também precisava viver os dele.

Antes de tudo acontecer, eu, Gabi e André éramos melhores amigos, aqueles próximos o suficiente para serem chamados de irmãos. Mas as coisas mudaram e com a vinda de André para Argentina, nos afastamos muito. Um tempo depois eu vim e, dois meses atrás, foi vez de Gabi. Ficamos felizes de nos juntarmos aqui, mas o brasileiro nem tanto. O chifre pesava o clima de quaisquer conversas que tentávamos ter.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora