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MANOELA SANTIAGO.

Passavam das duas da manhã e eu ainda não havia voltado para casa. Como foi meu primeiro dia assumindo os suspeitos pelo assassinato de Valentina González, me foquei em participar de todas as reuniões, pesquisas e análises possíveis sobre o caso.

Estava na sala de arquivos, exaurida, sonolenta e — por consequente aos adjetivos citados anteriormente — muito irritada. Lia silenciosamente algum arquivo de algum suspeito quando uma tenente pediu que me direcionasse a sala de interrogatórios. Ela parecia furiosa e afirmava que os jovens — os quais eram minha responsabilidade — por mais uma vez, se meteram em encrenca. Pedi para que ligassem para advogada, já que era isso que aconselhavam os protocolos, e levarem um dos suspeitos até o local do questionário. Li na capa da pasta que tinha em mãos o nome de Guido Messina, então, considerei começar por ele.

Passei na sala de funcionários, enchi um copo com o café mais forte que tivesse, visando manter meus olhos abertos por mais algumas horas, e caminhei - em passos lentos e cansados, porém firmes - até a sala.

Ao abrir e porta e aproximar-me, deparei com um homem relativamente alto, com cabelos castanhos bem claros e olhos azuis sentado na cadeira frente à minha. Ele, pelo que aparentava, encarava um ponto fixo na parede com expressão fechada e vaga.

Passei as mãos por baixo de minha saia preta tentando arrumá-la para, assim, me sentar. Cruzei as pernas. Puxei a segunda gaveta procurando por meu caderno de anotações e, quando o encontrei, fiz questão de jogá-lo em cima da mesa com intuito de fazer um som alto. E nem assim o homem ameaçou se mexer.

— Bom, devo admitir. — quebrei o silêncio entrelaçando minhas duas mãos em cima dos papéis. — Pensei que apenas os veria amanhã. — afirmei com um sorriso forçado e sem obter resposta continuei. - Sabe o que mais me impressiona, Guido? — folheei os arquivos buscando pelas informações que haviam sobre ele. — A cada minuto que passa, vocês conseguem arrumar mais problemas.

— Fácil dizer quando não é você que, constantemente, caí nas diversas armações de uma pessoa que nem conhece. — ele continuava sério, sem movimentar um único músculo. Apenas encarava o seu ponto fixo.

— E qual é a da vez? — perguntei um tanto curiosa reclinada na cadeira enquanto balbuciava o café.

— A morte de Julia Arguelles. — respondeu de forma fria e ríspida.

Confesso que se não fosse meu profissionalismo, não hesitaria em cuspir o líquido quente que tomava.

— Desculpe. — fechei as mãos levando-as na boca indicando tossir devido ao pequeno engasgo que a informação me causou. — Como disse? — limpei a garganta e inquiri incrédula.

— Exatamente o que ouviu.

— Como ela morreu? — indaguei desconfiada e aterrorizada. Ela estava certa.

Quando a mexicana me disse sentir que iria morrer, não pensava que fosse tão repentino. Nem sequer havia conseguido analisar o envelope entregue pela mesma, horas antes.

— Não sei. — deu de ombros. — Só saberia se fosse médico ou o assassino, como eu não sou nenhum dos dois, ficarei te devendo essa informação. — respondeu em tom de deboche.

— E como sabe que foi assassinato? — firmei ainda mais meu olhar sobre ele, e mesmo assim o notava calmo.

— Encontramos o corpo no meio da mata por volta de uma da manhã. Ao lado vimos uma pá e uma cova. — explicou. — Mas se bem que ela poderia ter ido plantar flores e de repente enfartou. Vai saber, não é? — continuou a falar irônico espalmando uma das mãos no peito fingindo espanto.

— E o que você e seus amigos têm a ver com isso? — continuei ignorando as gracinhas de Guido. Apenas anotava as informações que recebia em meu bloco.

— É uma ótima pergunta, detetive. — deu uma pausa curta indicando pensar. — Diria que foi sua melhor até agora. — sorriu sarcástico.

O argentino brincava em seus argumentos. Já era tarde e eu havia esgotado toda paciência com os outros interrogados. A cada piadinha que soltava, minha vontade de explodi-lo aumentava.

— Poderia prendê-lo agora por desacato a autoridade. — limitei a responder de maneira curta e calma.

— Têm noção do quanto é exaustivo? — perguntou massageando as têmporas. — Estou morrendo de dor de cabeça, pois fiquei o DIA INTEIRO. — destacou. — Mofando na sala de espera, para depois vir o IMBECIL do Jandino com a IDEIA GENIAL de irmos para o bar. — percebi tentar regular o tom de voz, contudo, em alguns momentos, falhava. — Me desculpe, mas penso que nenhum de vocês respeitam nosso luto. Mais uma pessoa próxima morreu e temos que responder perguntas inúteis que não nos levará a lugar nenhum. — cuspiu as palavras com sinceridade. — Estou bêbado, detetive, qualquer pessoa que me vê, nota. E mesmo assim, fui brincar de coveiro na MERDA DE UMA FLORESTA. — continuei o encarando com a mesma expressão neutra. — Preciso dormir. Essa é a verdade. — bufou.

Terminei algumas anotações enquanto ele se focava em brincar com os dedos. Esse garoto estava muito bêbado, era perceptível. Entretanto, não ao ponto de atrapalhar a investigação.

— Melhor? — questionei após ouvir o desabafo, ele assentiu cabisbaixo. Com a cabeça apoiada nas mãos. — Ótimo! Vou perguntar de novo. — conservei meu posicionamento inicial. — Foram vocês que abriram a cova? Você e seus amigos mataram Julia? — no mesmo instante ele arregalou os olhos e me encarou confuso.

— Não! — disse convicto. — Quando chegamos o circo já estava armado.

— Então como sabia o lugar exato de encontrar o corpo de Julia?

Isso só se explicaria se algum deles fosse vidente.

— Foi a desgraçada da Valentina. Essa infeliz nos atormenta diariamente com suas mensagens. — argumentou com raiva.

Ok, também poderia se explicar assim.

— Quando começou?

Guido ficou em silêncio completo. Parecia pensar muito sobre o que responder.

— A primeira mensagem que recebi foi essa. — tirou sua carteira do bolso traseiro, tirou um pequeno pedaço de papel de dentro e me entregou.

"Eu sei o que você fez".

...

sei que tá curto, mas isso tem
um ótimo motivo! no próximo
vocês vão entender.

🌿 lembrando: usem #24J se quiserem falar da fic no twitter ou no instagram, assim posso ver o que estão achando.

24 de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora