Capítulo 30

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Marichelo havia preparado um dos quartos para que o genro e a filha passassem a noite. Para a sorte de Anahí aquela casa não lhe remetia ao passado, seu quarto já não existia mais... Quando os pais decidiram mudar para a capital ela fez questão de que não levassem nada do que tinha ficado em seu quarto, não queria nada das coisas antigas, e por isso não lhe sobrou nada material que pudesse fazê-la lembrar dos anos em que esteve com Alfonso.

Ela fingia dormir para que Stefan não a tocasse, não sabia se era por conta da traição, mas a verdade é que a cada toque que ele lhe dava agora, lhe causava repulsa. Sua dificuldade em dormir tinha nome e sobrenome, ao fechar os olhos só conseguia lembrar de Alfonso, e da conversa que tiveram. Passou a ouvir a respiração pesada do marido indicando que ele já estava dormindo; sentou-se na cama com cuidado e se levantou; colocou o hobby por cima da camisola de seda, e saiu do quarto sem fazer barulho. Precisava respirar, estava se sentindo sufocada naquela casa.

Desceu as escadas e os olhos passaram curiosos pelo ambiente, não sabia exatamente o que faria, só não queria ficar naquele quarto. Se não estivesse grávida, abriria uma garrafa de vinho e se deliciaria enquanto fumava na varanda. Não tinha o hábito do cigarro, mas em dias ruins como aquele, era uma das saídas que usava para relaxar. Fazia calor aquela noite, o que colaborou para que a ideia da varanda lhe parecesse a melhor opção. Caminhou até a porta e a destrancou, sentou em um banco que havia ali. A brisa fresca que passava por ela amenizava a sensação de sufocamento de momentos antes.

Apoiou as costas no banco e pousou a mão sobre a barriga. Como poderia estar tão indiferente àquela criança? A ansiedade que sentia ao pensar que esperava um filho a fazia balançar as pernas sem parar. Ela precisava sentir, ela queria sentir, queria chorar de felicidade, ou sentir o coração acelerar ao imaginá-lo em seus braços. Queria sentir nem que fosse medo, ou angústia ao se ver grávida, assim como foi com Giullia, mas assustadoramente ela não conseguia sentir nada em relação àquela gravidez.

Num ímpeto de tristeza as lágrimas deram as caras, estava sendo incapaz de sentir afeto por seu próprio filho. As palavras de Alfonso faziam eco em sua cabeça, e aquilo doía demais, por que ele tinha que dizer tantas coisas cruéis? Por muitas vezes ela se torturou por não ter contado a verdade para ele, por não ter dito que tiveram uma filha, e que sequer conseguiu levá-la pra casa. Lágrimas rolavam sem parar de seus olhos, sentia o corpo tremer com os soluços devido ao choro. Sua visão estava tão turva que mal conseguiu distinguir a pessoa que se sentava ao seu lado.

Henrique: Vem, vem cá querida - passou o braço por trás da filha para que ela se aninhasse em seu ombro - não precisa ser forte o tempo todo, filha - as mãos corriam pelas costas dela.

Anahí: Eu só estou tão cansada... - disse num sussurro enquanto as lágrimas teimavam em cair - parece que cada passo que dou é para conquistar a vida que a mamãe sempre quis, mas eu não me enxergo nela, eu não me sinto feliz... - Henrique ouvia em silêncio - eu amo o que faço... - fungou - mas estudei na faculdade que ela quis, na cidade que ela quis, trabalho no hospital que ela quer... E não é de forma consciente que faço isso, não é mesmo! Mas sempre quando vejo, estou lá, fazendo o que ela quer... até me casei com um homem do jeito que ela sempre quis!

Henrique: Você nunca deixou de amá-lo, não é? - ele sabia que no fundo, tudo aquilo era sobre ela e Alfonso.

Anahí: Nunca... - sussurrou sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto, confessar aquilo pela primeira vez depois de seis anos estava doendo, por que doía tanto?

Henrique apoiou o rosto na cabeça dela e a embalou, assim como ela fizera com Luísa. Ele queria dizer que ficaria tudo bem, mas não sabia ao certo. Ele a apoiaria em qualquer decisão que tomasse, mas não iria influenciar sua escolha de maneira alguma.

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