Capítulo 37

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Anahí poderia comparar aquele momento ao dia em que segurou Luísa pela primeira vez. O sentimento parecia o mesmo, porém muito mais intenso do que há seis anos. Era como se estivesse virando mãe novamente. As lágrimas que inundavam seus olhos não permitiram que percebesse o momento exato em que Dulce saiu do quarto as deixando sozinhas.

Luísa ainda dava respiros profundos devido ao choro intenso. Observá-la agora, sabendo de toda a verdade, deixava muito mais expressivas as semelhanças entre as duas. O coração ferido de uma mãe que sofreu a morte de uma filha agora dava espaço para um coração cheio de amor. A pequenos passos, Any enfim chegou até a beirada do leito. Uma mão pousou sobre a mãozinha de Luísa enquanto a outra tirava a franja da menina dos olhos.

Como podia um serzinho tão delicado e frágil causar um amor tão imenso em alguém? Enquanto os dedos passavam pelo cabelo de Luísa, Anahí tentava dar conta de todos aqueles sentimentos explodindo dentro dela. Aquela era sua filha, ela era o seu pedacinho de amor. Sentiu o coração apertar ao se lembrar das palavras de Luísa sobre "a mãe", ela sofria, se sentia abandonada e rejeitada, logo ela, a bebê que foi tão esperada e amada. Teve vontade de acordá-la, de dizer que estava ali e que não a deixaria nunca mais, mas não foi necessário, pois Luísa se remexeu na cama e abriu os olhinhos tentando identificar onde estava, os olhinhos pareceram menos assustados quando percebeu que não estava sozinha.

Luísa: Nahí, meu papai já voltou? – disse coçando os olhos, com a voz embargada querendo chorar.

As palavras não conseguiram formar som na boca de Any, por um momento se sentiu péssima e egoísta, pois ao ouvir Luísa desejou ser a primeira pessoa a quem ela procurasse, gostaria que ela acordasse procurando pela mãe, acontece que por culpa de alguém, ela não tinha uma mãe para que pudesse chamar. Agora mais racional, Any ponderava sobre a vontade de se apresentar como mãe daquela menininha de seis anos que sofria pela ausência da pessoa que mais a amou e cuidou na vida, seria egoísmo demais querer colocar o seu desejo de ser aceita e amada à frente da insegurança e medo que a filha estava passando.

Anahí: Os médicos ainda estão cuidando do seu papai, Lully – percebeu os olhinhos de Luísa brilhando pelas lágrimas se formando – ele vai ficar bem, amor, ele vai estar aqui com você daqui a pouquinho – soltava as palavras na esperança de se materializarem, ver sua pequena sofrer estava acabando com ela.

Luísa: Eu quero meu papai... – confessou com as lágrimas rolando pelo canto do rosto, não entendia o que estava acontecendo. Sentia os joelhos ardendo pela queda e as mãozinhas doloridas pela medicação que recebia, e a única coisa que queria era seu pai ali.

Anahí se sentiu impotente diante daquele pedido. Se reviraria pelo avesso para que pudesse fazer Luísa feliz, mas aquilo estava além do seu poder. Encarou o suporte com o soro, a medicação já tinha acabado, caminhou até a pia que havia ali e higienizou as mãos, tirou o soro de Luísa deixando apenas o acesso caso fosse preciso novas medicações. Pegou Luísa no colo na intenção de acalmá-la, o choro não era intenso, era silencioso, e isso estava despedaçando o coração de Anahí. Por que sua menininha em seus primeiros aninhos de vida tinha que passar por tantas coisas dolorosas?

Com Luísa deitada em seu ombro e sentindo a blusa novamente ficar molhada pelo choro da filha, Any fechou os olhos desejando que fosse ela que estivesse naquela sala de cirurgia, preferia que fosse ela correndo risco de vida para que Alfonso pudesse estar com Luísa.

Caminhava pelo quarto sentindo o coraçãozinho da filha bater junto ao seu colo, em silêncio aproveitava cada segundo com a filha nos braços. Virou o rosto encaixando o nariz entre os cabelinhos da pequena aspirando o cheirinho que sempre desejou sentir, e Deus, como era bom tê-la ali!

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