Capítulo 40

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Diferente de quando tinha seus oito anos e abria aquela gaveta amedrontada da mãe a descobrir, agora pouco se importava se fosse pega. Por isso sequer se assustou quando levantou o rosto ao ouvir passos próximos da mesa e encarar a mãe bem ao seu lado. Marichelo percebeu o que Anahí fazia ali, a carta escrita por Maria tremia nas mãos da filha, estava ciente que seu segredo tinha sido descoberto e que não adiantaria tentar negar.

Anahí: Como teve coragem? – questionou em um misto de raiva e decepção.

Marichelo: Tudo o que fiz foi pensando no seu bem, Anahí – respondeu fria e Any soltou uma risada forçada.

Anahí: Bem? – a encarou enquanto se erguia do chão – não sei o que é para você ser mãe, mas não consigo imaginar que na cabeça de uma pessoa normal possa passar a ideia de que uma mãe ficaria bem após a morte de um filho! – rebateu cheia de raiva.

Marichelo: Claro que não ficaria bem, mas todo mundo supera a morte! O que você não iria superar era perceber que por conta de uma filha, abandonaria todo seu futuro e se arrependeria todos os dias por ter optado por ela! – dizia como um desabafo, e Anahí percebendo que todo aquele discurso era sobre ela mesma, baixou o rosto tentando não se deixar afetar pelas palavras da mãe.

Anahí: Eu preferia que tivesse optado pela merda da vida que tanto queria, e que tivesse me deixado! Eu preferia mil vezes não ter uma mãe a ter uma como você! – soltou já não suportando conter a mágoa dentro de si – e não me compare a você, eu jamais serei desse jeito, eu jamais farei qualquer coisa que possa magoar minha filha.

Marichelo: Acha que me afeta ao dizer tudo isso? – riu forçada – nunca precisei ouvir da sua boca o que esfregou na minha cara a vida inteira, Anahí – cerrou os olhos encarando a filha – nunca me quis por perto, não compartilhava nada da tua vida comigo, sempre vivia de segredinhos e sorrisinhos pro seu pai enquanto pra mim só sobravam as malcriações! Eu tentei ser uma mãe amorosa, achei que ficaríamos bem com você estudando longe, sentiríamos saudades uma da outra e quando voltasse pra casa tudo estaria bem, mas aí, você engravidou daquele sem futuro – balançou a cabeça demonstrando a decepção – confiei em você, e em troca fui enganada! Se eu não tivesse escutado a conversa entre você e seu pai, nem mesmo saberia da sua gravidez! – lembrou-se indignada que ouvia escondida a conversa em que Anahí contava ao pai sobre a gravidez, e pedia segredo – achou que eu faria o que depois disso? Que meu coração ficaria amolecido e eu seria a vovó mais feliz do mundo? Que morreria de amor pela filha daquele morto de fome?

Anahí: Nada disso justifica! Acredita que existe alguma justificativa para essa coisa monstruosa que você fez? NADA disso nunca vai justificar o mal que causou na minha vida! EU QUERO QUE VOCÊ APODREÇA NA CADEIA! – gritou.

Marichelo: E sabe o que eu quero, Anahí?! Que você sofra! – murmurou entre dentes – tem mesmo que sofrer muito e passar por tudo o que eu estou passando! Que sua filha te odeie e te rejeite para que sinta o que estou sentindo – praguejou.

Anahí sentiu o peso daquelas palavras, pela primeira vez as falas de Marichelo haviam causado amargura. Os olhos de Any se encheram d'água só de imaginar a possibilidade de Luísa lhe rejeitar. Não teve forças para revidar aquela maldição jogada sobre ela.

Henrique que havia esquecido seu celular sob a mesa do café da manhã entrou em casa contente em ver o carro que a filha havia alugado em frente de sua casa, mas seu imenso sorriso fechou ao escutar as palavras ditas pela mulher, ainda acreditando que ela se referia ao filho que Anahí esperava.

Henrique: O que está acontecendo aqui? – perguntou perplexo na porta do escritório, ambas o encararam – Mari, nenhuma mãe fala o que você está falando pra essa menina! Eu não admito que você fale assim com ela! – observou o quanto Any estava afetada e a esposa se assustou com ele ali, não estava preparada para que ele soubesse tudo dessa forma.

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