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Empurrava as costas contra a porta do quarto, medindo forças com o homem que me criou desde que me lembro. Perdido no álcool, para o álcool e com este, empurrava a porta e ainda a pontapeava, enquanto gritava o meu nome, estremecendo o meu corpo.

Ao ouvir a sua voz a dirigir-se para outro lado, pude ouvir um gemido de dor. Sabia que descarregava as suas frustrações na mulher, o que me deixava ainda mais em pânico.

Foi nesse momento, que encarei os olhos castanhos da pequena sentada á minha frente. Segurava o seu urso de peluche contra o peito, tentando manter as lágrimas nos olhos. Esfregou então os mesmos, apercebendo-se do que acontecia do lado de fora do quarto. Com apenas quatro anos, foi submetida a este horror.

Com cuidado, alcancei a mão da pequena desamparada, para se sentar ao meu colo, de modo a sentir-se mais protegida. Assim o fez, enroscando o seu corpo pequeno em mim, que continuava a tremer imenso.

Passeei a mão pelo cabelo escuro dela, sem saber o que dizer nesta altura. Não era novo, pelo contrário. Era um comportamento cada vez mais habitual nesta casa.

A família perfeita a desmantelar-se cada vez mais. E cada vez mais grave.

O homem voltou a esmurrar a porta e desta vez, como estava distraída, conseguiu abri-la e colocar o pé a travar. Rapidamente peguei na pequena nos braços, levando-a para a outra ponta do quarto. Escondi-a atrás de mim, para que o seu pai não a provocasse e assustasse ainda mais.

O que acabou por acontecer.

Ao impedi-lo de chegar até á criança, o meu corpo foi sacudido contra a parede. Com toda a adrenalina e foco em proteger a Constança, voltei a jogar-me contra ele, de modo a ser eu o centro das suas atenções. O que resultou, visto que segurou o meu corpo frágil e me sacudiu de novo contra a parede, onde uma mancha de sangue sujou a mesma, devido á pancada forte da minha cabeça na mesma, deixando-me atordoada.

Foi nesse momento, que Constança começou a gritar em plenos pulmões, deitando o seu corpo perto do meu. As suas unhas pequenas rasgavam a minha pele, visto que me segurava para resistir aos braços do pai que a puxavam com imensa força.

Para atenuar toda a confusão, um som ruidoso ecoou por toda a casa, silenciando até a Constança que chorava.

Ao olhar em redor do quarto, avistei o homem a cair de joelhos e a perder os sentidos, enquanto a minha mãe segurava uma arma, esta apontada na direção dele. Toda ela era sangue e rasgões no rosto. Até a sua roupa estava rasgada. A pequena correu até á sua mãe, esta que caiu de joelhos e começou a chorar e a tremer as mãos, após largar a arma no chão.

Uma poça de sangue formava-se por baixo do corpo inanimado de Jorge. Fora de casa, as sirenes da polícia invadiam a rua onde morávamos e os vizinhos continuavam a tocar á campainha sem parar.

Arrastei-me até chegar perto da minha mãe, envolvendo a pequena nos meus braços.

- Aconteça o que acontecer, protege a tua irmã. Não te percas nunca, pelo que aconteceu aqui. Dou a minha vida por ti. Por vocês. - Ela sussurrou, bastante chorosa e frágil.

Nem uma única lágrima derramei. Creio que estava em choque com a situação.

Foi então que a porta de casa foi arrombada e a mesma invadida por polícia e paramédicos, talvez até pelos vizinhos mais curiosos.

Afinal, eram quatro da manhã. E Natal.

(...)

What am I doing
I don't even know

Let's see, coming soon

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