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Eileen

Toda eu tremia.

Lágrimas deslizavam pelas minhas bochechas quentes, ao entrar no quarto da minha mãe. De cabeça baixa, tinha acabado de se sentar. Senti a mão do meu primo no final das costas, o que me fez dar um passo em frente.

Captei rapidamente a atenção da mulher, sendo embrulhada num abraço choroso. Fiquei completamente paralisada, embora abraçando-a de volta após processar.

Segurou o meu rosto com ambas das mãos. E com os olhos consumidos pelas lágrimas, olhou no fundo dos meus olhos.

Sabia que estava feliz por me ver, mesmo que a promessa tivesse sido quebrada.

- O que estás aqui a fazer?

- Como não podia estar aqui depois do que te aconteceu? - Retorqui de volta. - Parva fui eu e concordei com o que disseste.

- É melhor assim. Como está a correr tudo em Benidorm? - Levantou então o olhar, visto que Christian ainda ali estava. - Christian. Estás um giraço! Estás tão grande!

- Olá tia Isabel, como está? - Mostrou um sorriso, após cumprimenta-la. - Fico triste por saber o que aconteceu.

- Já aconteceu meu querido, não adianta chorar por isso. - Mostrou um sorriso. - Espero que tenhas cuidado bem da tua prima. - Voltou para junto de mim, apoiando o braço na minha cintura, aproximando-nos.

- Claro! O melhor primo do mundo, como sempre soube! - Brincou, aliciando o ambiente naquele quarto de hospital.

- E o estágio Eileen?

Encolhi os ombros.

Enquanto a minha mãe se voltou a deitar, visto que uma enfermeira apareceu no quarto para a examinar mais uma vez.

Ainda ralhou por estar tanto tempo se pé, pois era um esforço desnecessário.

E muito perigoso.

Após os exames, voltou a deixar-nos sozinhos, no entanto, com o aviso que não podia esforçar qualquer membro ou músculo, num ligeiro tom de brincadeira. Prometi que não íamos deixar a minha mãe fazer esforços.

E que também não a íamos cansar, visto que só queria que recuperasse rápido.

- Há novidades, mãe?

- Primeiro, como está a minha pequenina?

- A Constança está bem. Confusa, mas bem. A escola e as crianças deixam-na feliz. - Disse-lhe então, reconfortando-a.

- Ela pergunta por mim? - Lágrimas surgiram de novo nos seus olhos. - Será que me odeia? A verdade é que era o pai dela. - Baixou a cabeça, suspirando frustrada.

- Que raio de ideia é essa? Claro que não! - Ela manteve a cabeça baixa. - Mãe!

Estava aterrorizada com a situação.

Nunca vi as coisas dessa forma. Jamais pensei na hipótese de odiar a minha mãe pelo que fez, nem mesmo na pele da Constança.

Era uma pessoa agressiva, que tanto mal nos fez e que a única coisa boa que trouxe as nossas vidas foi uma filha/irmã. A criança jamais falou da nossa mãe de uma forma negativa. Também não a imaginava a faze-lo.

- Tia Isabel, não tem que se sentir mal. Eu percebo que foi algo bastante violento, mas não teve escolha. Eu teria feito o mesmo. - Sentou á beira da sua cama.

Olhei novamente para a minha mãe. Estava completamente perdida na minha mente, que o Christian teve que falar.

- Tu não imaginas o mal que ele me fez. Ainda me deu o título de assassina.

- São consequências, faz parte. Não importa o que pensam de fora, a verdade é que protegeu a sua família e quem realmente gosta de si, quem realmente importa, está do seu lado.

Afagou o ombro dela.

- Obrigada Christian. Mesmo querido.

Voltou a olhar para mim.

- Não está a ser fácil Eileen, mas estamos a tentar com que seja melhor. Demore tempo ou não, temos que aprender a lidar com tudo. E eu sei que não tens andado bem. Perdeste o brilho do teu olhar, filha.

Encolhi os ombros.

Como podia ser diferente? Sabendo que tinha a minha mãe a viver num inferno.

- Vive a tua vida Eileen.

- Enquanto tu perdes a tua... Não é justo.

- No fim das contas, é isto. Afinal, cometi um crime e estou a pagar por ele. No entanto, tens que fazer com que valha a pena.

- E como é suposto fazer isso? Viver, estar feliz e esquecer o buraco onde estás?

- Viver Eileen, viver.

Balancei a cabeça, detestando a conversa.

- Porque foi esse o motivo que me levou a pegar naquela arma. Para que vivêssemos.

muñozpiper

Olá Eileen, como estão as coisas?

Desculpa não ter dito nada, cheguei agora ao hotel

Não faz mal, não tens que pensar noutra coisa senão na tua mãe

Obrigada
Ela está melhor, mais estável. Disse-me que o único motivo que a levou a pegar numa arma, foi para que vivêssemos. E que não é o que estou a fazer... Foi duro.

Acredito que sim... Mas compreendo-a

Sim... Eu também.

Mas também te compreendo a ti. E o quão difícil seja não pensar no assunto. Mas vais ter que te acostumar á ideia Eileen, estás coisas levam tempo, mesmo que tentem recorrer por causa do ataque

Achas que não sei... 😑

Bloqueei o telemóvel.

- É ele?

Levantei os olhos do telemóvel, encontrando o meu primo bastante atento a mim.

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