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Eileen

Encarava o rapaz ao meu lado.

Com o capuz preto a cobrir-lhe a cabeça e a esconder o seu rosto da minha visão, percorreu a rua até ao meu encontro.

Preocupado por estar sozinha, visto que era uma zona onde costumava haver confusões e o movimento de drogas era constante. Explicou-me que era uma zona mais enriquecida, que os mais velhos faziam ali negócios.

Mantive-me sempre em silêncio.

- Desculpa ter contado ao meu primo. Não foi a tentar arranjar-te problemas.

- Eu sei. Não lhe contaste nada que ele não soubesse, Eileen. - Encolheu os ombros. - E eu até o compreendo. Afinal, és a prima dele e ele só te quer proteger.

- Não preciso que me protejam.

O rapaz virou-se para mim. Reparei que tinha o cabelo cortado, bastante curto. Pressionava a boca no filtro de uma ganza.

Atraída pelo brilho intenso do seu olhar, senti-me a perder tão facilmente nele.

- Quanto fumaste hoje?

- Duas. Mas estou bem, não te preocupes. - Ele prendeu-se nos meus olhos.

E assim ficamos longos minutos.

Acabei por encostar a cabeça ao ombro dele, de modo a livrar-nos daquele transe. As sensações intensificavam-se exageradamente com o fumo e com o facto de estar tão... Vazia.

Principalmente naquele momento. A calma na voz do Ander e ver-me refletida nos olhos dele, só aceleravam o processo.

- Amanhã tenho o julgamento.

Deixei escapar, quebrando o silêncio.

- Achas que estás capaz de ir? Porque não pedes mais uns dias para descansar? Não estás bem Eileen, tu sabes.

- Não posso deixar de viver. Este estágio pode abrir-me imensas portas. E o rapaz merece ter justiça, depois de tanto tempo preso. Acredito, bem, a história dele... Acredito que é inocente e ele merece justiça.

Senti a mão no Ander no meu joelho, como se me tivesse a confortar. Fechei os olhos, ficando encostada ao rapaz.

Ambos terminávamos de fumar.

- Vamos? Está a ficar tarde e tu tens um grande dia amanhã, tens que descansar.

Percorremos de novo a rua. Eram quase meia noite. Detestava-me por não ter ido descansar e receava falhar em tribunal.

- Boa sorte amanhã.

Mantive os olhos no chão.

E então senti os dedos quentes do rapaz no meu queixo, para que o encarasse. Assim o fiz e a medo, olhei no fundo dos olhos dele, sabendo o quanto me iam prender.

Lambi os meus lábios secos, talvez por ter fumado e ser um sinal dos efeitos. No entanto, a minha boca secava rápido.

Quando dei por mim, estava aninhada no tronco firme do Ander. Nem sabia qual de nós tinha iniciado o abraço, apenas sabia o quanto ambos o estávamos a desfrutar. O súbito calor que invadiu o meu corpo, era um sinal disso, só não sabia se ele sentia o mesmo.

Deixei um beijo no pescoço dele, acabando por me afastar. O rapaz beijou a minha bochecha, o que me deixou surpreendida.

Estava um clima bastante tenso entre nós.

- Fica bem Eileen.

- Tu também.

Murmurei apenas, vendo-o a afastar-se.

Com um enorme peso no fundo do estômago, entrei dentro de casa. Esquivei-me para o meu quarto, incapaz de encarar a minha família. Ou responder ás perguntas da Constança.

Deitei-me na cama, ainda a sentir os braços quentes do Ander á minha volta. Estava focada na linha ténue entre o tensa e o intensa que era a nossa relação de momento. Olhei então para o meu telemóvel.

Acabei por abrir as mensagens do Chris.

elchicoguapo

Só quero cuidar de ti

Estás a fazê-lo da forma errada

Peguei nos meus apontamentos em relação ao que poderia ser falado em tribunal, das provas e testemunhos dos envolvidos.

Precisava de estudar. De me ficar.

No entanto, o meu telemóvel captou a minha e dessa forma, larguei as folhas.

pipermunoz

Espero que estejas bem
Não te percas, não te mates Lee

🖤

Respondi apenas.

No entanto, Christian voltou a ligar.

elchicoguapo

Chris, não quero falar
Podemos por favor fazer isto noutra altura? Já estou uma confusão que chegue. Amanhã tenho o julgamento.

Enviada a mensagem, desliguei a internet. Até o som ao telemóvel decidi tirar.

Após verificar novamente o caso, conseguindo concentrar-me aos poucos, comecei a sentir um alívio ligeiro. Precisava de estar a altura do que esperavam de mim, havia responsabilidade e a confiança era imensa em mim.

Não podia falhar com os advogados. Muito menos com uma pessoa inocente que precisa e merece ter a sua vida de volta.

Desliguei-me de todos os meus pensamentos e apenas me foquei no caso.

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