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Eileen

- Ander, olá.

Saudei o rapaz, que passava pela minha casa com dois amigos. Tinha acabado de estacionar o carro, após mais uma segunda-feira.

Recebi uma saudação da sua parte, quando sai do meu carro e tranquei as portas.

Frente a frente com o rapaz, tencionava perguntar-lhe o que se passara com Chris, pois o mesmo saiu de casa na manhã anterior, nada me disse e nem sequer se despediu. Um gesto e atitude que não tinha gostado.

Porém, ele estava acompanhado.

Pelas roupas que usavam, acreditei que fossem os mais favorecidos da cidade ou da escola para onde os meus rapazes foram.

- Achas que podemos falar?

- Claro, aconteceu alguma coisa? - Encolhi os ombros, pois na verdade não sabia. - Não posso agora, mas logo digo-te algo.

- Está bem, obrigada. - Acenei de novo, embora desta vez para me despedir.

Entrei em casa.

A minha irmã correu na minha direção, visto que tinha ficado a manhã com Ester. Estava tão grata á loira por ter ficado com a pequena, pois o meu trabalho complicou-se.

Samuel também lá estava, focado na televisão, o que ignorei. Beijoquei o rosto da Constança, a mesma que gargalhava animada.

Foi a correr para a sala.

- Obrigada Ester, isto sem o meu pai fica complicado. - Suspirei cansada. - Gostava de te perguntar uma coisa.

- Não tens que agradecer. Pergunta.

- O que há entre o Ander e o meu primo? Ficou tão estranho depois de ver uma mensagem dele no meu telemóvel.

- Honestamente não sei. Só me lembro de uma discussão na altura da escola.

Encolhi os ombros.

- Mas porquê? Falas com ele?

- Ás vezes. Nada de relevante. - Sentei-me, com uma sandes na mão.

- O Samu comentou comigo que ele costumava vender há uns tempos. - Encarei a loira. - O teu primo deve saber e por isso não gostou da ideia de falares com ele.

- Não faz sentido, de qualquer forma. O Nano também costumava vender e ninguém o odiou por causa disso.

- É diferente. Cresceram juntos.

Tentei mudar de assunto, não queria continuar a matutar com o mesmo.

Agradeci novamente a Ester, convidando-a a lanchar connosco. Decidi colocar uma pizza no forno, para as três. Faltava pouco tempo para o regresso do meu pai, esse que tanto ansiava. Os dias sem eles foram difíceis.

A necessidade da minha irmã em estar sempre comigo, o facto de ter quatro anos e precisar de um adulto sempre por perto, esgotava-me. Não por motivos maus, mas por precisar de espaço, de estar sozinha e de me recuperar. Nem estava a conseguir tomar conta de mim.

Muitas vezes só quero estar deitada. Ou com a mente alucinada devido aos efeitos do fumo. As responsabilidades empatavam.

- Se precisares de algo, diz-me.

- Obrigada por ficares com ela. - A loira entrou no seu carro e eu fechei a porta.

Procurei o meu telemóvel pela desarrumação da sala, colocando música no mesmo. O ritmo e a letra entravam-me na cabeça, enquanto ia de um lado ao outro da sala, para limpar.

Pouco depois, sentei-me na sala a ver televisão, enquanto Constança brincava. A rapariga ficou na carpete sentada e espalhou as bonecas, feliz com as histórias que criava. Gostava de a ouvir e ver a brincar. Mostrava-se mais agarrada aos novos amigos e pessoas que Espanha trouxe e menos consciente do que se passou.

O que era muito bom.

pipsmuñoz

Dá-te jeito agora?

Sim. Quer dizer, achas que podes vir aqui ao pé? A minha irmã não pode ficar sozinha

É importante?

Não sei, mais como uma curiosidade

Está bem, já vou

Pousei o telemóvel.

Peguei num casaco largo pendurado á entrada de casa, captando a atenção da Constança. Veio logo ter comigo.

- Vais sair?

- Não, vou só ali ao portão. É rápido, ok?

Balançou a cabeça.

Voltou então para a sala, levando a brincadeira toda para cima do sofá.

Calcei os meus ténis atirados a um canto, saindo então de casa. Ander vivia muito perto, acreditava que não iria demorar. Pouco tempo e já o via a caminhar pela rua.

Empurrei as mãos nos bolsos, sentindo-me um pouco nervosa com a aproximação. Reparei no objeto entre os seus dedos.

Cedi-lhe entrada, evitando comentários.

- Desculpa ter-te feito vir até aqui. - Disse-lhe, olhando no rosto dele.

- Sem problema. Mas diz lá, o que se passa?

- O Christian ficou... Digamos... Apreensivo quando leu uma mensagem tua. Que se passou entre vocês? - Atirei, sem filtros.

- Ele não te contou? Pensei que soubesses. - Ele coçou a nuca, soltando o fumo.

- Recusa-se a falar do assunto.

- Também não me quero meter entre vocês. Se ele te quiser contar, que conte.

Encolheu os ombros.

- Não Ander. Se tu, neste momento, me podes contar, acho que não preciso de esperar que ele decida parar com a birra.

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