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Eileen

Encostada á corrente do baloiço onde estava sentada há uma boa meia hora, não sentia nada por dentro. Nem a mim própria.

Olhava apenas para o espaço á minha volta, tentando manter os olhos abertos. Eram noites mal dormidas, corpo inquieto e o efeito mágico do que havia fumado.

Sentia-me leve. Serena. Como há dois meses não acontecia. O meu olhar preguiçoso captou o rapaz, que me havia chamado. Com o sorriso estampado no rosto, percebi facilmente o quão perdida estava e o quanto se notava. Animado, ele apenas balançou a cabeça.

- Estás nas nuvens.

- Antes estivesse... - Deixei escapar, num tom desanimado. Mais do que o suposto. Ao olhar o céu, suspirei frustrada.

Será que olhávamos o céu ao mesmo tempo?

- Parece-me que estás a enfrentar algo complicado. - Ri-me pelo nariz, irónica. Voltou a prender os nossos olhares.

A intensidade que transpirava dele, começava a ser bastante preocupante.

- Mete complicado nisso.

- Algo que queiras partilhar?

- Não, não me leves a mal. - Murmurei calma, a tentar manter-me confiante. - Só preocupações do trabalho, nada importante.

- Parece-me uma grande tanga, mas vou fingir que acredito. - Balançou a cabeça.

Relembrei o pouco da ganza que me havia sobrado. Acendi de novo, fechando os olhos. Só queria aumentar a sensação. A leveza, a paz de espírito que me abraçava. Por muito errado aos olhos de uns, era tão certo.

- Chavala, estás bem? Mal consegues abrir os olhos. - Pousou a mão numa das correntes que sustentava o meu peso.

- Estou. Melhor que nunca.

Abri um sorriso fraco, esforçando-me imenso para manter o maxilar firme.

E depois, cai na gargalhada.

- Lembra-me de não voltar a vender-te algo.

Brincou, tirando o telemóvel do bolso.

Foi apenas nesse instante, que me lembrei que as horas estavam a passar. Peguei igualmente o objeto do meu bolso, procurando informar-me de quantas horas ainda podia dormir. O relógio marcava as onze e quarenta.

- Já é tão tarde. Preciso de ir para casa. - Ao perceber que ele ia responder, cortei-o. - Aliás, eu nem posso aparecer assim em casa.

Com a câmara frontal, observei bem o estado em que estava. Para além de estar numa luta de concentração para conseguir reagir, sentia uma pedra sob os meus olhos extremamente difíceis de manter abertos.

E extremamente vermelhos, com as pálpebras a inchar gradualmente. Há imenso tempo que a minha imagem nas selfies não era assim.

- Estás bonita, estás.

- Achas que sim? - Ele arqueou a sobrancelha e eu apercebi-me do que havia dito. - Ups.

Caminhei ao lado dele, refazendo o caminho de volta para casa. O rapaz acompanhou-me até ás vivendas mais perto das minhas.

- Deixo-te aqui, não vá o teu pai ver-nos juntos e tirar conclusões precipitadas.

- Obrigada pela preocupação.

Acenou, afastando-se ligeiramente.

- Chavala! - Inseri a chave no portão, após ter dado mais uns quantos passos, quando o ouvi a chamar-me. - Como te chamas mesmo?

- Eileen! - Elevei o tom de voz, de modo a que ele me ouvisse de onde estava.

Envergonhada pelo facto de ter passado as últimas duas horas com o rapaz, roguei pragas a mim mesma por não lhe ter dito o meu nome ou ter perguntado qual era o dele. Este, que era ainda um mistério para mim.

Ainda fiquei alguns minutos no jardim, antes de entrar em casa. Mais composta e ciente, fui diretamente para o quarto.

Felizmente não me cruzei com ninguém.

Apressei-me a preparar as coisas para o dia seguinte, sentando -me na cama. Prendi o meu cabelo em duas partes, em tranças apertadas e perfeitamente caídas nas minhas costas, para o ondular para o dia seguinte.

Exausta e com um peso enorme na cabeça, deixando-me cair para trás. Passeei um pouco pelas redes sociais, começando a querer fechar os olhos involuntariamente.

Predefini o alarme do telemóvel, certificando-me que acordava para ir trabalhar, receando a ideia de não ouvir o despertador.

Então, meti simplesmente três.

Ouvi um batuque na minha porta, vendo a mesma ser aberta. Constança, segurava o urso de peluche nos braços.

- Não consigo dormir. - Choramingou, aproximando-se lentamente da cama. - Deixas dormir contigo mana? Por favor. - Levantei-me ligeiramente, para a ajudar.

Deitou-se ao meu lado, ainda agarrada ao peluche. O mesmo que segurava quando aquela noite infernal aconteceu.

Brinquei com os cabelos dela, embora abduzida pelo cansaço físico e psicológico.

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